A socialite Ghislaine Maxwell foi esta terça-feira condenada a 20 anos de prisão por aliciar raparigas menores que seriam depois abusadas sexualmente pelo milionário norte-americano Jeffrey Epstein, avança o New York Times. A agente de Epstein foi ainda condenada a pagar uma multa de 750 mil dólares, o máximo permitido por lei e correspondente a cerca de 712 mil euros.
“Maxwell não está a ser punida como bode expiatório de Epstein. Mas sim pelo seu papel na conduta criminosa. Participou em alguns dos abusos, e a sua conduta foi hedionda e predatória”, afirmou a juíza, AlisonNathan. A magistrada considerou ainda que a socialite “normalizou” os abusos de Epstein e defendeu que uma “sentença substancial” passaria uma “mensagem clara” para aqueles que cometam abusos sexuais e que trafiquem menores.
“Quer seja rico ou poderoso ou totalmente desconhecido, ninguém está acima da lei”, concluiu.
A socialite vai recorrer da sentença, afirmando ter sido “vilanizada” e “julgada no tribunal pela opinião pública”.
Em dezembro do ano passado, o tribunal federal de Manhattan considerou Maxwell culpada dos crimes de tráfico sexual, transporte de um menor para participar em atos sexuais ilegais e duas acusações de conspiração. A equipa de acusação pediu uma pena entre 30 a 55 anos de prisão para Ghislaine Maxwell, o que, na prática, se traduziria em perpétua, uma vez que a socialite tem atualmente 60 anos. Já os advogados de defesa pediram uma pena entre quatro anos e três meses a cinco anos e três meses de prisão.
Ghislaine Maxwell condenada por aliciar menores que seriam abusadas por Jeffrey Epstein
A sentença desta terça-feira marcou o fim da batalha legal para as vítimas de crimes sexuais por Jeffrey Epstein, abusadas ainda adolescentes, entre 1994 e 2004. Com a morte de Epstein, em 2019, enquanto aguardava julgamento, o culminar do esquema de abusos sexuais levado a cabo pelo antigo casal recaiu assim no caso de Maxwell.
É o meu sincero desejo para todos nesta sala e para aqueles fora da sala que este dia possa colocar um fim a um terrível capítulo”, afirmou Ghislaine Maxwell esta terça-feira. “Àquelas de vós que falaram hoje e àquelas de vós que não falaram, que este dia vos possa ajudar a sair da escuridão para a luz.”
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De acordo com a Sky News,durante o julgamento de Ghislaine Maxwell, foram quatro as vítimas que prestaram declarações no decorrer do julgamento. Esta terça-feira, outras duas mulheres decidiram falar perante o tribunal para explicar o impacto que os abusos de Epstein e Maxwell tiveram nas suas vidas: Virginia Giuffre (a responsável pela acusação do príncipe Andrew), Annie Farmer, “Kate”, Teresa Helm, Sarah Ransome e Elizabeth Stein.
A declaração de Virginia Giuffre foi lida por um representante legal de uma das vítimas mais mediáticas do processo – foi sua a queixa que resultou na acusação do príncipe André. “Nunca teria conhecido Jeffrey Epstein se não fosse por sua causa“, disse Virginia, para quem Maxwell “merecia passar o resto da vida na cela de uma prisão.” Já Annie Farmer disse que “Maxwell teve muitas oportunidades para se confessar, mas, em vez disso, continuou a realizar escolhas que causaram mais danos“.
Para Elizabeth Stein, o tempo passado entre os abusos e o julgamento não é suficiente para tornar mais fácil falar sobre os crimes de que foi alvo. “[Os abusos de Epstein e Maxwell foram] tão traumatizantes que até hoje não consigo falar sobre eles“, declarou ao tribunal. A vítima contou ainda que chegou a ficar grávida e a ter um aborto. Confessou não saber quem seria o pai – “não tenho a certeza”, foi a frase que disse aos juízes- dado o elevado número de abusos a que foi submetida dentro da rede de Epstein e Maxwell.
Quebraste-me de várias maneiras incomensuráveis, mas não conseguiste quebrar o meu espírito, nem apagaste a minha chama interna que agora arde mais forte do que nunca”, afirmou, por seu lado, Sarah Ransom.
“Hoje não é um dia feliz”, declarou, por seu turno, ‘Kate’, nome fictício de uma das vítimas. “Não retiro prazer em fazer parte de um mundo em que isto é necessário. Tenho orgulho em estar lado a lado com estas mulheres corajosas e por fazer o que é necessário para parar Ghislaine [Maxwell].”
Na quarta-feira, segundo o The Guardian, a equipa de acusação afirmou que “Ghislaine Maxwell explorou sexualmente jovens adolescentes durante anos, sendo difícil calcular a magnitude dos seus crimes e os danos causados às vítimas“.
A conduta de Maxwell foi predatório de uma forma chocante”, continuou a acusação. “[Ghislaine Maxwell] foi uma criminosa perigosa, calculista e sofisticada que se aproveitou de adolescentes vulneráveis e atraiu as jovens para abusos sexuais.”
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Desde que foi detida, em julho de 2020, que Maxwell se encontra no Centro de Detenção Metropolitana de Brooklyn. A equipa de defesa alegou que Maxwell tinha sido sujeita a “tratamento punitivo e discriminatório” nesta prisão, que incluía confinamento, “privação de sono injustificada” e vistorias corporais “excessivas” em que “o peito e os órgãos genitais da Sra. Maxwell foram tocados de um modo desmedido e insensível”.
A juíza recomendou que a pena seja cumprida numa prisão federal de segurança mínima em Danbury, no Connecticut, conhecida por servir de set durante as gravações da série televisiva “Orange Is the New Black”.