O almoço de Marcelo Rebelo de Sousa com Jair Bolsonaro não deverá acontecer — mas o encontro do Presidente da República Portuguesa com Lula da Silva foi mesmo adiante. Lula, que defrontará o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, nas eleições presidenciais de 2 de outubro, esteve cerca de 1h45 reunido com Marcelo, na residência oficial do cônsul-geral de Portugal em São Paulo, Paulo Nascimento. Na reunião não se falou das presidenciais brasileiras, mas antes de um outro tema: a guerra na Ucrânia.
“Falámos dos temas mundiais importantes, muito importantes, como é que o Presidente Lula via a questão da Ucrânia, a duração da guerra, os efeitos da guerra, o equilíbrio geopolítico, a situação económico-social”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no fim da reunião.
Lula da Silva esteve acompanhado por Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores nos seus dois governos, e não prestou declarações à comunicação social.
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Segundo o Presidente português, “foi uma análise muito, muito abrangente, muito longa, por isso mesmo muito abrangente, mas muito interessante”.
Interrogado se quanto à invasão da Ucrânia pela Rússia houve alguma aproximação ou pontos de vista totalmente opostos, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que as posições são diferentes e que no Brasil esta guerra é vista “como um conflito europeu”.
Daí a importância desta conversa, porque não é apenas um conflito europeu, há aqui um problema de equilíbrio geopolítico. E é bom que quem está noutros continentes tenha a noção exata de que esse equilíbrio geopolítico toca a todos, quer dizer, o mundo de hoje já não conhece separações, não conhece fronteiras”, considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa realçou que Portugal é membro da União Europeia e da NATO e tem uma posição “muito clara” sobre a guerra na Ucrânia. “Nós somos não só solidários como claramente determinados nas posições da União Europeia e da NATO. Portugal, além do apoio humanitário, tem dado inclusive apoio militar. Não é essa a posição do Brasil e não é essa a visão que se tem no Brasil e se tem noutros continentes em relação àquele conflito”, referiu.
Marcelo faz ultimato a Bolsonaro: só vai a Brasília se receber convite por escrito
O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, não deverá mesmo deslocar-se a Brasília, na sequência do “desconvite” — não oficial — do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro para um almoço que estava inicialmente apontado para esta segunda-feira.
Em São Paulo, este domingo, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, em declarações a jornalistas portugueses e brasileiros presentes no local (transmitidas, por exemplo, pela SIC Notícias, RTP3 e CNN Portugal), que “o plano B voltou a ser o plano A”.
Houve um convite escrito, aceitei por escrito. Na medida em que não aparece uma confirmação escrita, isso quer dizer que vou ficar no programa original. Se até ao começo da tarde não houver confirmação por escrito, fico por São Paulo“, apontou Marcelo, às 11h30 de São Paulo (15h30 de Portugal).
O Presidente português acrescentou ainda: “Se não houver alteração de circunstâncias — indicação escrita em contrário —, não haverá Brasília e seguirei para Lisboa logo que seja possível”.
O “não problema” de que não há memória em visitas de PR
Marcelo tinha sido convidado por Jair Bolsonaro para um almoço, mas o Presidente brasileiro, sem o comunicar oficialmente à comitiva portuguesa, anunciou em declarações à CNN Brasil que decidiu cancelar o almoço em Brasília devido a um encontro de Marcelo com o antigo Presidente brasileiro — e futuro oponente de Bolsonaro nas presidenciais brasileiras — Lula da Silva. O encontro de Marcelo com Lula aconteceu este domingo.
Ainda em declarações aos jornalistas portugueses, Marcelo insistiu na desvalorização do caso que continua a considerar não ser um incidente diplomático: “Não há incidente, é um não problema. Já houve deslocações minhas e minhas com o primeiro-ministro a Estados em que não houve encontro com chefes de Estado”. Nomeadamente, lembrou, no caso do Brasil quando o Presidente era Temer e dos EUA quando o Presidente era Trump. Porém, não refutou que não exista memória de um “desconvite” semelhante a um chefe de Estado português.
Marcelo Rebelo de Sousa e o cancelamento de Bolsonaro: “Tenho o programa que tenho”
Marcelo insistiu ainda que do programa original da visita ao Brasil não constava um encontro com Jair Bolsonaro. “O programa está a caminhar exatamente como estava previsto. Está visto que o plano A é sempre preferível ao plano B”.
“Voltarei ao Brasil em setembro. Quando voltar a situação já é diferente, já a campanha eleitoral está a decorrer, já há candidatos. Em setembro, voltando para a celebração dos 200 anos da independência do Brasil, aí naturalmente haverá encontro não só no Congresso mas certamente com o Presidente da República [Bolsonaro]”, acrescentou.
Marcelo parte para São Paulo sem “comunicação por escrito” de Bolsonaro a cancelar almoço
O Presidente da República, no Brasil em funções de representação do Estado português, irá ainda encontrar-se com os antigos Presidentes brasileiros Fernando Henriques Cardoso e Michel Temer. Foi, porém, o encontro com o previsível futuro candidato Lula da Silva que fez o atual chefe de Estado do Brasil (que concorrerá a um novo mandato) cancelar o almoço com Marcelo, como confirmado pelo próprio Jair Bolsonaro.
Sobre o encontro com o antigo Presidente e mais do que anunciado futuro candidato à Presidência do Brasil Lula da Silva, Marcelo lembrou que se trata de um “ex-Presidente”, não de um “candidato”, já que “as candidaturas só abrem em agosto, não há formalmente candidatos, não há sequer período eleitoral”. E diz que o “desconvite” de Bolsonaro não foi assunto discutido: falaram da pandemia, da “situação internacional”, da guerra na Ucrânia e “da situação da América Latina, em geral”.