O arquiteto Álvaro Siza Vieira vai projetar um futuro memorial de homenagem às vítimas de abusos sexuais de menores na Igreja Católica em Portugal, revelou este domingo o pedopsiquiatra Pedro Strecht, coordenador da comissão independente que está a investigar os casos de abusos de menores cometidos pelo clero católico nas últimas décadas em Portugal.

“A Comissão Independente não esquece a mensagem contida numa imensa maioria dos testemunhos até agora recebidos, nomeadamente a necessidade de materialização de pedido de perdão da Igreja Católica e respetivo compromisso sobre um futuro mais atento à prevenção e intervenção precoce nestes casos“, diz Pedro Strecht num comunicado enviado este domingo aos jornalistas.

“Embora ainda em fase de estudo e de proposta à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), a CI convidou o Sr. Arq. Álvaro Siza Vieira para projetar essa mesma ideia, sendo que o mesmo foi prontamente aceite, facto com o qual nos congratulamos“, acrescenta a mesma nota de Pedro Strecht.

Segundo detalhou Pedro Strecht ao Observador, a ideia inspira-se num projeto já implementado na arquidiocese de Chicago, nos Estados Unidos, onde foi construído o “Healing Garden“, ou “jardim da cura”, um lugar “que convida à reconciliação, à esperança e à cura, não apenas para os sobreviventes e as suas famílias, mas também para a Igreja Católica no geral“, segundo explica a própria arquidiocese.

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O comunicado de Pedro Strecht surge no dia em que se completam exatamente seis meses desde o início dos trabalhos da comissão independente, a 10 de janeiro.

Na curta nota, Pedro Strecht faz uma atualização sobre o número de testemunhos já recebidos pelos membros da comissão: são agora 352 as histórias que chegaram aos investigadores pelos vários canais disponíveis.

Há duas semanas, a comissão já tinha feito um balanço sobre o andamento dos trabalhos e revelado que o número real de vítimas é muito superior ao número de testemunhos que foram feitos, devido ao impacto do “efeito icebergue”, que faz com que apenas 20% a 25% dos casos sejam efetivamente conhecidos. Recentemente, o Observador noticiou que a comissão estima que o número de vítimas de abusos clericais no esteja bastante acima dos 1.500.

Na nota, Pedro Strecht lembra que também já está em curso a primeira fase do estudo dos arquivos secretos e históricos da Igreja Católica, através de um grupo de investigadores liderado pelo historiador Francisco Azevedo Mendes.

A comissão é composta pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, pelo psiquiatra Daniel Sampaio, pela socióloga Ana Nunes de Almeida, pela assistente social Filipa Tavares, pelo ex-juiz Álvaro Laborinho Lúcio e pela cineasta Catarina Vasconcelos.

O grupo de trabalho está a realizar uma investigação histórica sobre a realidade dos abusos de menores cometidos no seio da Igreja Católica entre a década de 1950 e a atualidade — e deverá apresentar o seu relatório final em dezembro deste ano.