(Em atualização)
No site da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), o mapa de Portugal é uma mancha vermelha — em quase todos os distritos do país existe atualmente um incêndio. Ao longo desta terça-feira, o número de ocorrências em curso esteve sempre acima da dez, com mais de mil operacionais alocados a estas situações. Pelas 21h21, o número de fogos rurais ativos eram 13, sete destes em Castelo Branco e outros sete em Leiria.
Leiria é, juntamente com Santarém, o distrito onde a situação se mantém mais complicada, com o maior número de operacionais e meios no terreno. O agravamento da situação ao longo deste dia levou a um reforço de operacionais no terreno, mas há vários autarcas e habitantes a queixarem-se que os meios não são suficientes e que se vêm obrigados a combater os fogos sozinhos. No último ponto da situação, o Comandante Nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, explicou que a situação é complexa e que a ajuda pode não ser imediata.
Veja abaixo o ponto da situação ou consulte o nosso liveblog para uma informação minuto a minuto.
Santarém e Leiria permanecem os mais afetados. Várias localidades foram evacuadas
Os distritos de Santarém e Leiria permanecem os mais afetados pelos incêndios. Pelas 20h20, o site da ANEPC dava conta de nove incêndios rurais nesses dois distritos, que mobilizavam perto de 1.500 bombeiros, apoiados por 239 meios terrestres e 17 aéreos. Santarém reunia, por essa hora, o maior número de operacionais.
A situação levou ao reforço de meios: no último ponto da situação, ao final da tarde, na sede da ANEPC, em Carnaxide, o Comandante Nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, informou que foram colocados em Santarém e Leiria mais 727 operacionais. Foram ainda enviados para o terreno dois pelotões militares, compostos por 44 militares; 22 operacionais do INEM para prestarem auxílio às populações, e 22 sapadores.
O incêndio que começou na passada quinta-feira à tarde na União de Freguesias de Freixianda, Ribeira do Fárrio e Formigais e alastrou, no mesmo dia, a Ferreira do Zêzere, em Santarém, reacendeu numa zona de povoamento florestal em Cumeada. Pelas 20h44, encontravam-se no terreno 417 operacionais, apoiados por 125 meios terrestres e três aéreos — o maior número de meios alocados a um só fogo.
Em Freixianda, a população lamenta a falta de auxílio por parte das autoridades, que só chegou durante a noite. O presidente da Câmara Municipal, João Guerreiro, adiantou à Agência Lusa que várias casas arderam e que diversas localidades tiveram de ser evacuadas. Pelas 23h15, uma das três frentes encontrava-se em fase de resolução, estando os bombeiros a tentar controlar as restantes.
Na Lagoa de Grou, um dos locais em Ourém que mais preocupava as autoridades ao início da noite, 40 pessoas foram retiradas de uma instituição e alojadas noutra residência. Fonte da GNR disse ao Jornal de Notícias que a população de Casais de Vento e ainda de 17 habitantes de outros lugares do município de Freixianda tiveram de ser retirados das suas casas.
No concelho de Leiria, foram retiradas pessoas das localidades de Mata dos Milagres e Figueiras e ainda uma idosa de Pousaflores e outra de Vale de Água, indicou a mesma fonte ao Jornal de Notícias. Cinco lares de idosos foram também evacuados, disse à Rádio Observador o presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes. Durante o ponto da situação, André Fernandes declarou que as evacuações preventivas são neste momento a “prioridade”.
Em Leiria, a situação é mais delicada na Caranguejeira, onde um incêndio deflagrou pelas 12h06 numa zona de povoamento florestal. Pelas 20h51, 363 operacionais combatiam o fogo, apoiados por 105 meios terrestres e nenhum meio aéreo. Foi realizada uma evacuação preventiva durante a tarde. Na localidade de Regueira das Fontes, também em Leiria, onde deflagra um outro incêndio, estão 107 bombeiros e 34 meios terrestres.
Em Ourém, em Santarém, cerca de 300 pessoas foram retiradas por causa do incêndio que deflagrou às 12h07 em Cumieira, na freguesia de Espite, que tinha ao final da tarde três frentes ativas, disse o presidente da Câmara Municipal, Luís Albuquerque. Este é um dos incêndios que mais preocupa neste momento as autoridades: pelas 20h47, estavam no terreno 355 operacionais, 97 meios terrestres e dois aéreos.
André Fernandes informou que, de 7 a 12 de julho, os incêndios provocaram 82 feridos, a maioria ligeiros. Até ao momento, foi apenas registado um ferido grave. Foram assistidos 50 operacionais. Em relação aos danos materiais, nove casas ficaram danificadas devido aos incêndios, cinco em Santarém e quatro em Leiria.
Os incêndios nos concelhos de Ansião e Alvaiázere obrigaram ao corte do IC8, entre Pombal e Ansião. Durante a noite, a EN109, que liga a Figueira da Foz a Pombal, foi encerrada. O IC2, a A1 e a EN19 também se encontram cortados, uma situação que é para se manter, disse André Fernandes.
Autarcas queixam-se de falta de meios para combater incêndios em curso. Situação poderá dificultar-se esta quarta-feira com subida de temperaturas
A falta de meios para responder a “situações complexas” numa “área afetada muito grande”, como descreveu André Fernandes, tem sido apontada por vários autarcas ao longo do dia. Numa mensagem publicada na rede social Facebook, a Junta de Freguesia de Milagres, em Leiria, pediu ajuda à população para combater uma “situação desastrosa” por “falta de meios”.
Também o presidente da Câmara Municipal de Pombal, em Leiria, garantiu que os meios disponíveis não são suficientes, descrevendo a situação na região como “de quase desespero”. Em declarações à SIC Notícias durante a tarde, Pedro Pimpão declarou que existem “populações isoladas” e que há registou de feridos. “Os recursos não chegam. Temos de escolher as casas que temos de salvar”, afirmou. Pimpão apontou as localidades de Vale Perneto e Zambujais como as mais afetadas.
Ao final da tarde, o presidente da Câmara Municipal de Ansião, António José Domingues, pediu mais meios para combater o incêndio que reativou pela manhã no concelho do distrito de Leiria de forma a “evitar uma catástrofe”. Em declarações à Agência Lusa, Domingues descreveu a situação como “crítica”, destacando que “o fogo está à volta da aldeia” de Mogadouro, na freguesia de Santiago da Guarda, encaminhando-se para o concelho vizinho de Pombal, onde o incêndio começou na sexta-feira.
Pelas 20h40, o incêndio em Ansião tinha sido dado como extinto.
As localidades de Alvega, Abrantes, e Leiria registaram 44,6 e 44,1 graus de temperatura máxima, respetivamente. Santarém foi a cidade onde os termómetros subiram mais alto, com 45 graus. Lisboa chegou aos 44 graus. Nuno Lopes, chefe divisão de previsão do IPMA, em declarações à SIC Notícias, disse que as temperaturas poderão subir cerca de um dois graus no dia de amanhã, que poderá ser o quarto dia mais quente desde que há registo em Portugal.
Em relação à previsão para os próximos dias, o Comandante Nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, confirmou que a situação meteorológica é “para agravar”, mas que tudo será feito para que a situação operacional não se complique.
Festivais obrigados a fazer alterações devido aos incêndios
Tendo em conta a declaração do estado de contingência pelo elevado risco de incêndio, a Concentração Motard de Faro e o Super Bock Super Rock (SBSR) foram obrigados a fazer alterações às respetivas edições. No caso do primeiro evento, a organização decidiu transferir a zona de campismo; já o SBSR foi obrigado a mudar o evento para o Parque das Nações, em Lisboa, onde foram realizadas algumas edições anteriores.
A organização do SBSR está a trabalhar no sentido de encontrar uma zona de campismo alternativa para quem comprou o passe de três dias.
Em Esposende, a Comissão Municipal de Proteção Civil decidiu cancelar a festa Galaicofolia, considerando não estarem reunidos os necessários requisitos de segurança, devido às condições climatéricas que ditaram a declaração de estado de contingência.
Detidos dois suspeitos de fogo posto
A GNR deteve um homem de 54 anos suspeito de atear um fogo que provocou um incêndio em Santiago do Escoural, concelho de Montemor-o-Novo, confirmou à Agência Lusa fonte daquela força de segurança. Segundo a mesma fonte, “um popular viu o homem a atear fogo”, segurou-o e chamou a GNR.
Um outro homem que foi detido na segunda-feira pela PJ por suspeitas de ser o “presumível autor” dos dois incêndios que deflagraram a 10 de julho na freguesia de Freixianda, em Ourém, foi presente a primeiro interrogatório judicial, tendo o juiz de instrução criminal determinado a medida de coação mais gravosa (prisão preventiva).