O ciclismo profissional é, há muito, associado ao doping para incrementar o potencial dos atletas – com maior ou menor justiça, para alguns dos intervenientes. Mas, nos últimos anos, a este tipo de suspeitas juntou-se outra realidade: há ciclistas que recorrem a pequenos motores eléctricos alimentados por minúsculas baterias para conseguir bater os adversários, graças ao doping mecânico. Ao que parece, estas bicicletas eléctricas nunca estiveram tão debaixo de olho dos responsáveis técnicos da organização do Tour de France como este ano.

Tradicionalmente, bicicletas eléctricas são sinónimo de mobilidade urbana, ainda que tenham evoluído mais recentemente para bicicletas de montanha com apoio eléctrico, para tornar menos exigentes, em termos de esforço, as subidas mais pronunciadas. Isto na Europa, uma vez que nos EUA – onde são permitidos motores mais potentes e baterias de capacidade superior – quase não é preciso pedalar.

Desde 2016 que os responsáveis técnicos pelo Tour fiscalizam as bicicletas dos atletas em busca de algo ilegal dentro dos tubos dos quadros, de motores eléctricos a baterias. Com recurso a tablets com um software de imagem especial para detectar algo de anormal no interior do quadro, seja ele em fibra de carbono ou metal (alumínio ou outro), os verificadores analisam dezenas de bicicletas em cada dia da prova, que este ano arrancou a 1 de Julho. Não só o vencedor passa pelo crivo, como o detentor da camisola amarela também vê a sua montada fiscalizada, bem como todos os restantes atletas que deram nas vistas nessa etapa, seja porque tiveram um desempenho acima das expectativas, seja porque mudaram de bicicleta sem motivo aparente. Um conjunto de bicicletas é ainda seleccionado aleatoriamente, para ser visto não à lupa, mas sim ao tablet. E, em caso de dúvidas, uma estação móvel de raios X permite ir mais ao pormenor, identificando os casos de doping mecânico.

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As suspeitas dos organizadores têm a sua razão de ser, uma vez que a Gruber-Assist propõe aos clientes, desde 2008, um motor eléctrico de assistência com 100W. A Vivax-Assist desenvolveu depois uma versão especial e ainda mais potente, de que afirma vender cerca de 1000 unidades por ano. Este fabricante diz que os seus clientes são sobretudo senhoras que querem acompanhar os maridos, com melhor preparação física, e ciclistas com mais de 60 anos que ainda querem competir em provas contra atletas mais jovens.

Segundo os especialistas da publicação britânica Cyclist, nas mãos de técnicos competentes, esta tecnologia pode ser optimizada para reduzir o ruído e a possibilidade de ser detectada, bem como para incrementar a potência para cerca de 200 W, o que não ajudaria um amador a ganhar o Tour, mas facilmente permitiria que um atleta do meio pelotão passasse para a frente. Veja aqui como a Cyclist colocou à prova a bicicleta eléctrica da Vivax-Assist: