O Presidente eleito do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, ameaçou esta quarta-feira tomar medidas severas contra quem tente derrubá-lo, afirmando que atuará “com firmeza” se alguém tentar agir contra o governo.
“Se tentarem derrubar o governo, ocupar o gabinete do Presidente e o do primeiro-ministro, isso não é democracia e responderemos com firmeza“, declarou horas depois de ser eleito chefe de Estado pelo parlamento cingalês.
O líder do parlamento, Mahinda Yapa Abeywardena, anunciou esta quarta-feira que Wickremesinghe obteve 134 votos dos 225 parlamentares que tiveram de escolher o novo chefe de Estado, após a fuga do Presidente Gotabaya Rajapaksa, atualmente em Singapura, na sequência de grandes manifestações contra a crise económica.
Manifestantes marcam hoje 100 dias desde o início dos protestos no Sri Lanka
Apesar de ter declarado que “as divisões acabaram” no Sri Lanka, Wickremesinghe não é consensual no país, com os manifestantes que contribuíram para depor Rajapaksa a considerarem que será mais do mesmo.
A oposição política e os manifestantes acusavam a família Rajapaksa, que dominou a vida política da ilha durante décadas, de desvio de fundos públicos e culpam as medidas impostas pelo antigo chefe de Estado pelo colapso económico do país.
Wickremesinghe declarou na segunda-feira o estado de emergência, dando-lhe ampla autoridade para reprimir novos protestos, que já duram há mais de 100 dias.
A atual crise política no Sri Lanka deve-se à pior crise económica que o país vive desde a independência do Império Britânico em 1948.
O impasse político ameaçava a situação económica e financeira do país, que poderia atrasar ainda mais uma intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os manifestantes que continuam a ocupar parte do gabinete presidencial receberam ordens para abandonar os locais ocupados até quarta-feira à noite, caso contrário serão expulsos e, de acordo com um alto responsável policial citado pela agência France Presse, serão severamente punidos se provocarem danos em bens públicos.
O país já entrou em “default” técnico e tem uma dívida externa superior a 50 mil milhões de euros, que os analistas já consideraram “impagável”.
A escassez de produtos de primeira necessidade agravou a situação da população do país com 22 milhões de habitantes.
A política do Sri Lanka sempre foi dominada por algumas grandes dinastias, com a dos Rajapaksa, e a família do novo Presidente não é exceção: sobrinho do antigo Presidente Junius Jayewardene (1978-1989), foi o seu poderoso tio que nomeou Wickremesinghe em 1977 para o cargo de vice-ministro dos Negócios Estrangeiros.