“Eu vou…” Imagine que tem obesidade ou excesso de peso e lhe pedíamos para completar esta frase. Como gostaria de a terminar? Qual seria a sua decisão? Perguntamos-lhe isto porque algumas resoluções que tomamos na vida podem mudar para sempre o curso dos acontecimentos e de tudo aquilo que somos – e frequentemente para melhor, claro. Por vezes, para que haja uma mudança, o que temos de fazer é decidir mudar e, no mesmo instante, pedir ajuda.
É precisamente esse o desafio lançado pela cantora Ana Bacalhau, através do tema inédito de sua autoria “Eu vou”, que mais não é que um incentivo para que todas as pessoas com obesidade ou excesso de peso decidam agir – por si, pela sua saúde – e procurar o apoio de um médico.
O apelo está integrado na campanha “Mude o Ritmo da Sua Vida” e faz todo o sentido num país em que, de acordo com o mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre obesidade na região europeia, a maioria dos adultos (57,5%) vive com excesso de peso ou obesidade. Analisando em detalhe, verificamos que cerca de 21% dos portugueses são obesos e, entre as crianças, o panorama também não é nada animador: abaixo dos 5 anos de idade regista-se já uma prevalência de 8,5% de excesso de peso ou obesidade e, entre os 5 e os 9 anos, 37,1% apresentam o problema.1 Estes dados vêm corroborar as estatísticas que já conhecíamos, segundo as quais, em Portugal, mais de 2 milhões de pessoas vivem com obesidade2.
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A campanha “Mude o Ritmo da Sua Vida” foi lançada no Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, celebrado a 21 de maio, com o objetivo de motivar as pessoas que vivem com obesidade a procurar um médico para as apoiar no seu processo de perda de peso. Tendo como protagonista a cantora Ana Bacalhau, que viveu com excesso de peso até à idade adulta, a campanha é promovida pela Novo Nordisk em parceria com a Associação Portuguesa de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO), a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM). No site da campanha estão disponíveis algumas dicas para os doentes, conselhos de um perito, informação sobre tratamentos e ainda algumas sugestões de perguntas a fazer ao médico sobre o tema.
Se é uma doença, procure um médico
Ainda que muito se fale sobre obesidade, há alguns mitos que ainda persistem sobre esta doença e o desconhecimento começa precisamente aqui, já que muitos ignoram o facto de a obesidade ser uma doença, reconhecida como tal pela OMS3. Com efeito, em causa está uma patologia crónica, grave e complexa, resultante de múltiplos fatores e que se caracteriza pela acumulação excessiva ou anormal de gordura corporal, com consequências ao nível da saúde (com o potencial de causar outras doenças e mesmo encurtar a vida da pessoa).
Por se tratar de uma doença, é importante que a pessoa que dela padece procure apoio médico para dar início ao processo de gestão do peso. Só desta forma, com o devido acompanhamento por parte de um profissional de saúde, é possível descortinar as causas específicas que conduzem à obesidade em cada indivíduo, uma vez que esta é uma doença causada não só por fatores comportamentais – por exemplo, maior sedentarismo e ingestão de uma dieta desequilibrada – mas também por fatores genéticos, psicológicos, relacionados com a educação, nível de rendimento e acesso a cuidados de saúde, entre outros.
Independentemente da avaliação que seja levada a cabo pelo médico, qualquer tratamento dirigido à redução de peso passará necessariamente pela mudança do estilo de vida, o que inclui uma alteração do padrão alimentar e da atividade física praticada. Paralelamente, poderá haver necessidade de recurso a fármacos, que atuam na parte inconsciente do cérebro, reduzindo a fome e facilitando a adoção de escolhas mais saudáveis (entre outros efeitos benéficos no organismo), e cirurgia bariátrica.
A doença que causa múltiplas doenças
São muitas – e muito negativas – as consequências da obesidade, já que, quando não tratada, esta doença constitui um importante fator de risco para inúmeras patologias crónicas, nomeadamente, diabetes, doenças cardiovasculares, muscoloesqueléticas e respiratórias, assim como alguns tipos de tumores malignos, incluindo o cancro do endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, bexiga, rim e cólon. Segundo a OMS, o risco para o desenvolvimento destas doenças é tanto maior quanto mais elevado for o Índice de Massa Corporal3, que é o indicador usado internacionalmente para relacionar o peso com a altura.
Estima-se que, no nosso país, só em 2018 tenham morrido 46 269 pessoas devido a doenças relacionadas com a obesidade, o que representa 43% dos óbitos gerais registados, calculando-se ainda que esta doença retire cerca de nove dias de vida, por ano, a cada português adulto. Os dados constam do estudo “O Custo e Carga do Excesso de Peso e da Obesidade em Portugal”, elaborado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE) e pela consultora Evigrade-IQVIA, com o patrocínio científico da SPEO e o apoio da Novo Nordisk, onde ficamos ainda a saber que mais de 5 milhões de mortes verificadas por ano, no mundo, são devidas a doenças relacionadas com a obesidade4.
Mas não é só na idade adulta que o excesso de peso deve preocupar. De acordo com a OMS, a obesidade infantil está associada a uma maior probabilidade de obesidade na idade adulta, assim como morte prematura e incapacidade também na idade adulta, com tudo o que isso implica. Porém, antes mesmo de se pensar no aumento dos riscos futuros, há que ter bem presente que as crianças obesas apresentam já, no seu dia a dia, dificuldades respiratórias, aumento do risco de fraturas, hipertensão, indicadores precoces de doenças cardiovasculares e resistência à insulina, que é um problema que pode evoluir para diabetes.3
Estigma social e saúde psicológica
Se é verdade que as múltiplas doenças associadas à obesidade são motivo de alarme, também se sabe que o sofrimento mais imediato – e atroz – que esta doença provoca se situa grandemente ao nível do estigma social e impacto psicológico. Isto porque a autoimagem de quem tem excesso de peso é profundamente afetada, com consequências diretas na sua autoestima e autoconfiança. Ao mesmo tempo, o preconceito existente na sociedade é real, ao ponto de a maioria dos portugueses considerar que as pessoas com excesso de peso e obesidade têm menos oportunidades na vida que as pessoas com peso normal, nomeadamente, num trabalho relacionado com o atendimento ao público (61%), no emprego (56%) ou na vida social (55%), segundo os resultados de uma sondagem sobre obesidade realizada em outubro de 20215.
Desta forma, também a saúde mental das pessoas com excesso de peso e obesidade acaba por ser bastante afetada, sabendo-se que existe até uma relação bidirecional com alguns problemas de saúde mental, como a depressão6.
O peso da obesidade
Além do enorme impacto físico e emocional que a obesidade tem, há ainda uma outra dimensão a considerar e que se prende com os custos que esta doença acarreta. Com efeito, de acordo com o já referido estudo levado a cabo pelo CEMBE, em Portugal, são gastos anualmente cerca de 1,2 mil milhões de euros em custos diretos com o excesso de peso e obesidade, o que equivale a 0,6% do PIB e a 6% das despesas de saúde no nosso país – um valor que representa a soma dos orçamentos anuais do Hospital de São João, no Porto, Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, três dos maiores hospitais do país. De destacar ainda que as doenças relacionadas com a obesidade que mais contribuem para este valor são a diabetes, o acidente vascular cerebral, a doença cardíaca isquémica e a insuficiência renal crónica, sendo que o custo do tratamento destas doenças é 88 vezes superior ao do tratamento da própria obesidade, o qual ronda apenas os 13 milhões de euros anuais.4
Ainda assim, e apesar de ser tão importante aliviar os diversos fatores que contribuem para a obesidade, é fundamental cada pessoa afetada por esta doença manifestar o interesse em empreender uma alteração na sua vida. A vontade de mudar o ritmo, procurando ajuda. E essa decisão pode ser tomada, por si, já hoje. Basta ir.