A Fed (Reserva Federal dos Estados Unidos da América) voltou a subir as taxas de juro. São mais 75 pontos base, segundo ficou decidido na reunião deste mês, cujas conclusões foram reveladas esta quarta-feira.
A Fed já tinha sinalizado, na reunião anterior, poder subir taxas nesta dimensão. Mas alguns analistas chegaram a admitir que a subida pudesse ser mais expressiva, face ao pico de inflação atingido nos Estados Unidos. Em junho a inflação atingiu 9,1%.
A subida das taxas no outro lado do Atlântico iniciou-se em março e teve a sua maior expressão em junho com a tal subida de 75 pontos base. Esta é, assim, a segunda elevação dessa dimensão, fixando as taxas num intervalo entre os 2,25% e 2,5%, o nível mais elevado desde dezembro de 2018. E é a quarta subida consecutiva. A decisão desta reunião, segundo indica a Fed, foi unânime.
Em dois meses a Fed sobe taxas em 1,5 pontos percentuais, a atuação mais agressiva desde o governador Paul Volcker que combateu também a subida de preços no início dos anos de 1980. “Estamos empenhados em trazer a inflação para baixo”, declarou Jerome Powell, presidente da Fed, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do comité de mercado, garantindo que tem as ferramentas para tal, incluindo continuar a diminuir o balanço da Fed.
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“A inflação continua elevada, refletindo desequilíbrios nas cadeias de abastecimento relacionados com a pandemia, com os preços da alimentação e energia elevados e mais extensas pressões sobre os preços”, explica a Fed em comunicado, assumindo Powell que a inflação está acima das expectativas e bem acima do objetivo no médio prazo de 2%. E, por isso, “vamos nos próximos meses verificar evidências de que a inflação desce”, admitindo confiança de que vai começar a descer. Há sinais, mas faltam evidências, sugeriu. Admitiu que o crescimento vai abrandar — o que até pode ser necessário para fazer descer a inflação. “Vamos estar focado em fazer descer a inflação”. Tudo em nome da estabilidade de preços. “Estamos a tentar fazer isto na medida certa. Não estamos a tentar ter uma recessão nem acho que a tenhamos de ter”, declarou. Mas “sabemos” que o caminho se está a estreitar. Há o risco de se fazer demasiado, mas o risco de fazer pouco aumenta o custo de ter de ligar com isso depois, admitiu.
A Fed não acredita, no entanto, que os EUA já terão entrado em recessão. A evolução do PIB nos Estados Unidos, referente ao segundo trimestre, é revelada esta quinta-feira, depois de no primeiro trimestre ter registado uma descida de 1,6%. Se tivesse uma queda no segundo trimestre tecnicamente os EUA entram em recessão, mas os analistas apontam para que consiga ter valores positivos (embora pequenos) de crescimento.
“Ao avaliar a adequada política monetária, o comité da Fed continuará a monitorizar as implicações das informações recebidas para as perspetivas económicas. O comité está preparado para ajustar a orientação da política monetária consoante considere apropriado e caso surjam riscos que possam impedir a prossecução das metas”, explica a Reserva Federal em comunicado, no qual reconhece que os recentes indicadores do consumo e da produção atenuaram-se. No entanto, os indicadores do trabalho continuam, no entender da Fed, robustos.
Não fecha a porta a novas subidas, que dependem das informações e da evolução dos indicadores. E não fecha mesmo portas a que na próxima reunião a subida seja de igual magnitude — “extraordinariamente grande”, ainda que a decisão não esteja tomada. “Antecipamos que será apropriado continuar a tendência de subida”, declarou Jerome Powell, salientando que a decisão de avançar com nova subida de 75 pontos base dependerá dos dados até lá. As decisões serão tomadas “reunião a reunião”, por isso acrescentou também que o abrandamento das subidas acontecerá a determinada altura.
Os 75 pontos foram considerados ajustados face aos dados, mas assumiu que o comité não hesitará a subir mais ainda o tom (havia quem esperasse uma subida de 1 ponto percentual) se os dados assim o mostrarem. “Dissemos que estaríamos dispostos a passos mais agressivos e foi o que aconteceu na reunião de junho”.
Com isto, espera-se, conforme já anteriormente antecipado, que as taxas atinjam os 3,5% este ano.
Também o BCE já iniciou a escalada dos juros na zona euro, com um aumento de 50 pontos na reunião da semana passada.
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