A administração de Joe Biden ofereceu a Moscovo uma proposta para libertar a estrela da WNBA Brittney Griner e o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, que se encontram detidos na Rússia. O acordo propõe trocar os dois cidadãos norte-americanos por Viktor Bout, um traficante de armas russo protegido de Putin, que cumpre uma pena de 25 anos numa prisão dos Estados Unidos.

Um alto funcionário da administração de Biden disse à CNN que a proposta foi alcançada após meses de debate interno, acabando por ser enviada à Rússia em junho. Até agora não há resposta, mas permanecem otimistas de que a “oferta substancial” será “bem-sucedida” tendo em conta o histórico de negociações. No entanto, a ausência de uma resposta começa a fazer-se sentir e é “desanimadora”.

“São precisos dois para o tango. Começamos todas as negociações para trazer para casa os americanos, reféns ou injustamente detidos, com um mau ator do outro lado. Começamos tudo isto com alguém que tomou um ser humano americano e o tratou como uma moeda de troca“, sublinhou.

Segundo a Sky News, há vários anos que a Rússia expressou interesse na libertação de Bout. Em 2012, foi sentenciado a 25 anos de prisão, acusado de planear vender ilegalmente milhões de dólares em armas.

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Foi o maior traficante de armas do mundo e inspirou Hollywood. Protegido de Putin, Viktor Bout também tem ligações à Ucrânia

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ainda não confirmou se a proposta refere o nome de Bout. No entanto, adianta que o documento foi assinado por Joe Biden, que esteve “diretamente” envolvido no processo. O apoio do Presidente supera a oposição do Departamento de Justiça, que normalmente se posiciona contra a troca de prisioneiros.

Numa conferência de imprensa, Blinken esclareceu que pretende falar com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo nos próximos dias sobre a libertação de Griner e Whelan.

Primeira conversa Blinken-Lavrov desde o início da guerra agenda para os “próximos dias”

A conversa com Sergey Lavrov deverá estar para breve e será a primeira entre os dois desde o início da guerra na Ucrânia, a 24 de fevereiro.

Posse de droga e espionagem. Porque estão detidos Brittney Griner e Paul Whelan?

Brittney Griner é uma das melhores jogadoras de basquetebol das últimas décadas nos EUA. A bicampeã mundial e olímpica pelos EUA foi detida em fevereiro no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscovo, quando os serviços alfandegários encontraram vaporizadores que continham óleo de haxixe na sua bagagem.

Brittney Griner está presa na Rússia há mais de 130 dias. É um “peão político”, uma “detenção ilegal” ou nenhum dos dois?

A basquetebolista esteve em prisão preventiva desde então e durante o julgamento, no início de julho, declarou-se culpada dos crimes relacionados com tráfico de droga.

“Pretendo declarar-me culpada de todas as acusações”, disse Griner, na sessão de julgamento a 7 de julho, onde garantiu que “não tinha intenção” de violar as leis russas. A atleta explicou que não sabe como o óleo de canábis foi parar à sua mala, afirmando que a situação foi motivada por um descuido e pressa no momento de arrumar as malas para sair da Rússia. Agora, a estrela de 31 anos dos Phoenix Mercury pode incorrer numa pena de prisão que pode atingir 10 anos.

Já Paul Whelan foi detido em dezembro de 2018 por agentes do Serviço Federal de Segurança (FSB, ex-KGB) por suspeitas de alegada espionagem. Segundo a Reuters, foi capturado pelos agentes quando estava num hotel em Moscovo, enquanto se preparava para um casamento.

As autoridades russas acusaram-no ter recebido uma pen que continha a lista completa dos trabalhadores de um serviço secreto. Moscovo garante que o ex-fuzileiro, que tem passaporte americano, britânico, canadiano e irlandês, foi capturado em flagrante. No entanto, Whelan nega todas as acusações e descreveu o seu caso como um “sequestro político”.

As famílias dos dois norte-americanos já pediram ao governo que garante a sua libertação, mesmo que implique uma troca de prisioneiros. A administração de Biden deu agora resposta aos seus pedidos e, segundo a CNN, os familiares já foram informados do potencial acordo com a Rússia.

Quem é Viktor Bout?

Conhecido como “Mercador da Morte”, Bout inspirou Andrew Niccol a fazer “O Senhor da Guerra”, filme protagonizado por Nicolas Cage e lançado em 2005. Três anos mais tarde, aquele que chegou a ser considerado o maior traficantes de armas do mundo foi preso na Tailândia, numa operação com agentes infiltrados da americana DEA (a polícia da droga), e acusado de conspirar para vender armas aos rebeldes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que poderiam mais tarde ser usadas contra alvos americanos. Foi extraditado para os EUA, onde cumpre uma pena de 25 anos de prisão – e nunca foi abandonado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, que nunca deixou de exigir a sua extradição.

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Desde a sua detenção em Banguecoque que o Kremlin tem acusado os Estados Unidos de engendrar um complot para incriminar Bout, que sempre se apresentou como um empresário do ramo do transporte internacional — de mercadorias legais, nomeadamente flores e géneros alimentícios. O próprio recusou a autoria de qualquer crime e, segundo a BBC, chegou mesmo a contestar a sentença: “É mentira”. Já o então procurador-geral de Manhattan, Preet Bahara, foi claro: “Viktor Bout tem sido inimigo número um do tráfico internacional de armas há muitos anos, tendo armado alguns dos conflitos mais violentos em todo o mundo. Finalmente foi levado à justiça num tribunal americano”.

A Ucrânia também se cruza com o seu trajeto no mundo do crime. Segundo o ABC, foi a partir do arsenal russo naquele país que o protegido de Vladimir Putin fez os seus primeiros milhões: vendeu-o, em 1998, por quase 50 milhões de dólares, e tratou de o transportar nos três aviões de carga Antonov que tinha comprado previamente, pela módica quantia de 120 mil dólares, logo depois da queda do regime comunista da URSS. A partir daí, construiu um império.