Com chegada prevista aos stands no nosso país em Agosto, para as primeiras unidades começarem a ser entregues a clientes em Setembro, o Ariya promete fazer a Nissan regressar a um lugar de relevo no mercado dos veículos eléctricos, um pouco à semelhança do que fez o Leaf em 2010. Depois de 12 anos sem novidades, é natural que os fãs da marca nipónica aguardassem a chegada do novo SUV eléctrico com alguma expectativa, que não sairá gorada, quando o Ariya começar a circular nas estradas nacionais no final do Verão.

Apostada em não correr riscos, a Nissan seguiu uma estratégia diferente da que utilizou na concepção da segunda geração do Leaf. Nada de recorrer a uma plataforma pré-existente e apenas adaptada para receber a bateria, mas sim à nova CMF-EV, que vai ser utilizada pelas marcas da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, moderna e capaz de servir qualquer tipo de veículo, berlina ou SUV, optimizando as vantagens dos veículos eléctricos em termos de exploração de espaço interior.

Concebido como um SUV com um certo ar de coupé, devido à forte inclinação do pilar posterior, o Ariya exibe linhas modernas e algo ousadas, anunciando 4,595 m de comprimento, 1,85 m de largura e 1,66 m de altura, valores similares aos do VW ID. 4, excepção feita para a altura, com o rival alemão a reivindicar menos 2 cm, provavelmente em busca de uma aerodinâmica menos penalizante. A distância entre eixos é generosa para o segmento e 4 mm maior do que o VW, o que deixa antever um habitáculo espaçoso, tanto mais que a frente é curta, como é habitual nos eléctricos concebidos de raiz.

Tão moderno por fora como por dentro

Se a linha exterior do Ariya lhe agrada, então é garantido que o habitáculo vai mesmo superar as suas expectativas, uma vez que ao espaço junta aplicações de madeira no tablier a toda a largura, com uma curiosa solução em que os botões hápticos apenas se tornam visíveis quando o carro está ligado. O ecrã digital do painel de instrumentos está associado ao ecrã central, sendo possível controlar a maioria das funções do veículo por seu intermédio.

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Os bancos à frente são confortáveis e com um apoio que se pode considerar normal para esta classe de veículos, tal como os traseiros – apenas nos pareceu que estávamos demasiado próximo do tejadilho. Lá atrás, a bagageira disponibiliza 468 litros (415 na versão com um segundo motor no eixo traseiro), um valor que está longe de ser uma referência no segmento, uma vez que o ID. 4 atinge 543 litros e até o Leaf, mais baixo e mais curto, oferece 420 litros.

Além da Alexa, a assistente virtual desenvolvida pela Amazon, o Ariya está equipado com Android Auto e Apple CarPlay, sendo mais interessante para o utilizador o facto de o novo SUV eléctrico japonês ter instalado a mais recente versão do ProPilot com Navilink, que conjuga o cruise control adaptativo e o lane centering de forma muito satisfatória, facilitando a vida de quem está ao volante. O intelligent route planer trata de controlar os postos de carregamento e a rota, permitindo o envio do destino e respectivo trajecto do smartphone para o Ariya.

Duas baterias mas com um ou dois motores

Apesar de ser apenas 7,5 cm mais comprido entre eixos do que o Leaf (2,775 m contra 2,700 m), o Ariya consegue alojar baterias com mais 47,5% de capacidade, pois se o Leaf mais “generoso” reivindicava 59 kWh úteis (62 kWh brutos), o Ariya mais dotado atinge 87 kWh (91 kWh brutos). A explicação para este aparente milagre é de cariz tecnológico, pois pela primeira vez a Nissan deixa de utilizar as “suas” baterias – construídas na sua fábrica AESC, entretanto vendida aos chineses da Envision –, que estavam ultrapassadas e nem sequer possuíam sistema de refrigeração líquida, o que limitava a sua carga em corrente contínua (DC).

O novo SUV monta baterias chinesas da CATL, mais sofisticadas e actuais, obviamente com refrigeração líquida e com precondicionamento (para preparar as células para a operação de carregamento que se aproxima), o que lhes permite serem recarregadas em DC a 130 kW, admitindo 22 kW em AC, contra um custo adicional (1200€), uma vez que de série ficam-se pelos 7,4 kW. Mas o segredo para alojar muito mais energia num espaço apenas ligeiramente superior prende-se com o facto de as células da CATL serem 33% mais finas e, logo, com maior densidade energética.

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Em termos de acumuladores, o Ariya é proposto com duas capacidades úteis, uma com 63 kWh (66 kWh brutos) e a segunda com 87 kWh (91 kWh brutos). A bateria mais pequena assegura uma autonomia de 403 km em WLTP, o que representa um ganho de 4,7% face ao Leaf com capacidade similar (59 kWh), que se fica pelos 385 km. Ainda assim, este ganho é inferior ao que se esperava, uma vez que o SUV, além de plataforma específica e outros avanços tecnológicos, possui uma capacidade 6,8% superior, apesar de uma aerodinâmica mais desfavorável. A bateria mais generosa eleva a autonomia para 533 km (na versão apenas com um motor e tracção à frente), um valor muito respeitável, ainda que a VW anuncie 531 km para o ID. 4 nas mesmas condições, mas com menos bateria (77 kWh úteis). O Ariya com dois motores vê a autonomia baixar para 500 km, similar ao valor anunciado pelo ID. 4 GTX (499 km), igualmente com dois motores e 299 cv, mas a mesma bateria com 77 kWh úteis e 82 kWh brutos.

Além das duas capacidades da bateria, o SUV eléctrico da Nissan disponibiliza versões com apenas um motor, instalado à frente e, em alternativa, outra com dois motores, potência acrescida e tracção integral, que a Nissan denomina e-4ORCE. Com apenas um motor e bateria de 63 kWh, o Ariya extrai 218 cv do motor frontal (160 km/h e 0-100 em 7,5 segundos), unidade que se associada à bateria de 87 kWh dá um salto para 242 cv (160 km/h e 0-100 em 7,6 segundos). O Ariya e-4ORCE, com um motor eléctrico à frente e outro atrás, totalizando 306 cv e o dobro da força, com um binário de 600 Nm, reivindica 200 km/h de velocidade máxima e 0-100 em 5,7 segundos.

Como é ao volante: o que gasta e como anda?

Tivemos a oportunidade de conduzir o novo Ariya na Suécia, nos arredores de Estocolmo, região que tem tanto de bonita como de limitada em termos de velocidade máxima, o que facilita a vida aos veículos que querem anunciar valores baixos de consumos e elevados de autonomia.

O SUV eléctrico da Nissan é modelo agradável à vista e com personalidade, com um pilar traseiro inclinado, solução que nunca favorece o espaço interior, especialmente atrás. Contudo, estas formas a “flirtar” com o dinamismo dos coupés tornam o Ariya mais apetecível para quem não gosta de veículos muito volumosos e com um aspecto pesadão, que depois também pagam uma factura em termos aerodinâmicos, o que nos eléctricos é um problema importante.

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O interior é atraente, com o conjunto painel de instrumentos e ecrã central a parecer-nos funcional. Também ficámos agradavelmente surpreendidos com a presença da madeira a toda a largura do tablier, para mais com botões hápticos que apenas se tornam visíveis quando o carro está ligado. O espaço à frente é muito bom (para o segmento) e o traseiro também satisfaz, em largura e comprimento, ou seja, em espaço para as pernas. Já em altura, era preferível ser mais generoso, o mesmo acontecendo com o espaço para a bagageira, o que confirmaremos assim que tivermos a oportunidade de testar o Ariya em Portugal.

Os primeiros quilómetros revelaram um SUV agradável de conduzir, com suspensões suficientemente duras para ser ágil e dinâmico, mas sem comprometer o conforto. Não existindo estradas degradadas, vimo-nos obrigados a colocar duas rodas na berma para perceber como é que o Ariya lida com pisos em estado menos bom, com o SUV nipónico a revelar-se capaz de absorver bem as irregularidades. A Nissan não avançou com o peso das diferentes versões, especialmente a nossa, com 87 kWh e apenas um motor com 242 cv, mas a capacidade de aceleração estava bem presente, sendo que esta retira sempre uma fatia muito importante à autonomia.

Nas estradas secundárias suecas, com muitas vilórias de pequena e média dimensões para atravessar, o que nos obrigou a uma média de 56 km/h, o Ariya consumiu apenas 13,5 kWh, um valor baixo, muito baixo, que em condições normais, como as que enfrentaríamos em Portugal, facilmente se aproximariam dos 18,5 kWh/100 km, valor que a marca anuncia para o consumo médio em WLTP.

Quando chega e por quanto?

O novo Nissan Ariya vai começar a chegar ao nosso país em Agosto, para depois os primeiros clientes começarem a receber o seu SUV eléctrico a partir de Setembro, uns dias depois de o verem em exposição nos stands da marca. O Ariya vai ser proposto em Portugal em três níveis de equipamento, duas capacidades de bateria e com um motor à frente ou dois motores para assegurar tracção 4×4. A versão mais acessível, que a Nissan acredita não ser a mais procurada, especialmente de início, será a Advance, que com bateria de 63 kWh e 218 cv vai ser proposta por 49.200€. Este é um valor elevado, quando comparado com rivais como o ID. 4 Pro com bateria de 77 kWh, proposto por valores a partir de 46.000€. A versão Advance, mas com bateria de 87 kWh, será comercializada por 55.200€.

O segundo nível de equipamento mais recheado é o Evolve, que na versão de 63 kWh é transaccionado por 53.700€, para a bateria maior (87 kWh) exigir 59.700€. Os Ariya mais caros são os Evolve e-4ORCE, com 306 cv e bateria de 87 kWh, propostos por um preço de 63.200€.

Os preços não são os mais acessíveis do segmento, mas o maior problema do Nissan Ariya não reside aí. A questão mais difícil de ultrapassar, pelo menos tendo em vista o sucesso do modelo, prende-se com o facto dos responsáveis da Nissan presentes na apresentação terem anunciado a pretensão de construir somente 100 mil unidades/ano no Japão, com o objectivo de satisfazer todos os mercados do planeta. Se tivermos em conta que a VW produz mais do que isso do ID. 4 só na Europa, modelo que é igualmente fabricado nos EUA e China, sendo que a Tesla está a elevar a produção da fábrica na China para um milhão de unidades/ano, 50% dos quais são Model Y, modelo que será igualmente fabricado na Europa (com uma capacidade instalada de 250.000 unidades/ano, metade das quais do Y, o mesmo acontecendo em Fremont e no Texas. Face a estes números, torna-se evidente que a Nissan não conseguirá satisfazer o mercado com apenas este reduzido número de unidades, o que é pena, uma vez que o Ariya merecia um maior optimismo em matéria de vendas.