O bastonário dos médicos considerou que nada foi feito para evitar a “hemorragia” que está a ser a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), recordando que a carreira médica não é revista há 13 anos.

Em entrevista à agência Lusa a propósito da situação de crise que se vive no SNS, Miguel Guimarães disse que durante estes anos “o Estado nada fez para tentar evitar esta hemorragia”, fosse pela via da valorização dos profissionais, mas sobretudo pela carreira médica, “que não é revista desde, pelo menos, 2009 em termos daquilo que é o ganho mensal médio dos médicos”.

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Miguel Guimarães afirmou que já em 2017 a Ordem dos Médicos tinha alertado de “forma clara” o Governo para a falta de médicos, concretamente no SNS.

Apesar de termos de facto muitos médicos comparados com a maior parte dos países, a verdade é que muitos dos médicos que poderiam estar no Serviço Nacional de Saúde — até porque a maioria forma-se no SNS — acabam por tomar outras opções”, nomeadamente sair para o setor privado, social ou para o estrangeiro.

Segundo Miguel Guimarães, há atualmente “muitos mais médicos” a sair do SNS do que havia há cinco ou 10 anos, uma situação que “tem impacto” na organização do SNS e à qual vai ser “muito difícil” dar a volta.

A partir do momento em que os médicos já não acreditam em quem está a gerir a saúde em Portugal, abandonam o Serviço Nacional de Saúde e escolhem ter outra vida e isto é um sinal vermelho para o Governo”, vincou, considerando que o quebrar da confiança “é a pior coisa que pode acontecer”.

Neste momento, todos os dias saem do SNS especialistas com vários anos de profissão, uma situação que Miguel Guimarães disse ser grave e que revela “a incompetência de quem gere a saúde em Portugal” e “a incapacidade que o Governo tem demonstrado em ter uma gestão diferente do SNS” e em dar-lhe aquilo que precisa.

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No seu entender, este é “um caminho desastroso para o país”, defendendo que é preciso adaptar o SNS, que precisa de uma “nova dinâmica” para poder continuar a servir bem as pessoas.

Sobre quantos médicos seriam necessários no SNS, Miguel Guimarães estimou cerca de cinco mil, considerando todas as especialidades.

No seu entender, é necessário um novo modelo de carreira médica que permita dar resposta a um conjunto de situações, dar estabilidade ao SNS e que permita que no futuro as pessoas estejam a lutar para ficar no Serviço Nacional de Saúde.

Se mudarmos a carreira médica, mudamos o paradigma todo. Mudamos o paradigma da formação, porque aumentamos a capacidade de formação, atraímos mais os médicos para ficarem no Serviço Nacional de Saúde e conseguimos resolver vários dos problemas que existem neste momento”, defendeu.

Por outro lado, é necessário um novo modelo de gestão que dê autonomia, mais flexibilidade, e permita tomar decisões de contratação, de compras de equipamentos e outras decisões relacionadas com as necessidades que vão acontecendo a nível da área que um hospital serve.

Questionado se a nova Lei de Bases de Saúde e o novo Estatuto do SNS vão permitir estas alterações, Miguel Guimarães afirmou que o novo modelo de gestão, a carreira médica e as carreiras dos profissionais de saúde podem ser alteradas já, não dependem de um estatuto para o SNS.

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