A passagem da segunda para a terceira sessão de treinos livres acabou por motivar uma descida de alguns lugares na classificação a Miguel Oliveira, que teve de passar pela Q1 e acabou por ficar mesmo à porta de uma passagem à Q2 com uma terceira posição que lhe valeu o 13.º lugar na grelha de partida para a prova que marca o regresso do Mundial de MotoGP, o Grande Prémio da Grã-Bretanha. No entanto, e como já tinha referido o piloto português depois da qualificação, “foi um dia estranho” entre algumas melhorias que se foram sentindo na KTM e o salto que sobretudo Ducati e Aprilia conseguiram dar a nível de tempos.

As melhorias teóricas ficaram a uma posição da prática: Miguel Oliveira sai do 13.º lugar no Grande Prémio da Grã-Bretanha

“Demos passos positivos com a moto em relação à velocidade mas não foi o suficiente. Tenho de usar mais tração para fazer a moto virar [nas curvas] e isso é um dos aspetos que temos de melhorar. Mas fiquei contente com o ritmo na quarta sessão de treinos livres [quarto mais rápido], apesar do facto de sair da quinta linha da grelha constituir um desafio. Acho que podemos sair-nos bem. Quero chegar o mais perto possível dos cinco primeiros”, comentou à sua assessoria de comunicação o número 88.

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“Tentámos encontrar um pouco mais de potência através do escape”. Nos testes de comparação, não notei grandes diferenças de velocidade ou desempenho mas as vibrações são menores. Prefiro o novo escape, deixa o motor mais suave e o som também é diferente. Este é o mesmo escape que testámos em Jerez, que foi o primeiro protótipo na época. Foi então desenvolvido e este é o produto final. Em Jerez o escape era tão silencioso que não conseguia ouvir a própria moto. Agora é significativamente mais alto. A minha equipa trabalha muito bem, dão-me a sensação do que preciso para poder conduzir um pouco mais rápido. Continuo a pilotar como se fosse continuar com a KTM”, tinha referido na véspera, numa alusão também à mais do que provável mudança para a nova RNF Aprilia que não pode ainda ser confirmada.

Agora é (quase) oficial: Miguel Oliveira vai mudar para a Aprilia. O que falta? “Está tudo pronto mas se patinar custa uma multa enorme…”

O traçado de Silverstone não era propriamente o melhor a nível de resultados no percurso de Oliveira no MotoGP. Ainda na Tech3, em 2019, foi lá que interrompeu uma longa série de corridas consecutivas onde chegava sempre ao final. Já na equipa de fábrica da KTM, no ano passado, não foi além da 16.ª posição. E nas categorias abaixo a história não mudou assim tanto, tendo como registos máximos um oitavo posto em Moto2 e um quarto lugar em Moto3. No entanto, havia alguns sinais que mostravam ligeiras melhorias naquilo que o português poderia fazer e até na comparação com o próprio companheiro de equipa Brad Binder, que só foi mais rápido do que o número 88 na primeira sessão de treinos livres.

Para confirmar os mesmos, fosse na procura de um lugar mais à frente, fosse na “luta” particular com o sul-africano, a saída ganhava uma especial importância para estabilizar uma posição mais na frente e depois poder jogar com aquilo que a corrida pudesse ir dando ao longo de voltas a rondar os dois minutos cada. Era por isso que Miguel Oliveira apostava muito naquele primeiro lugar da quinta linha da grelha, sob o olhar atento do patrão da KTM que, aos microfones da SportTV, reforçou que continua à espera de uma decisão do português em relação ao seu futuro embora saiba que está nesta altura atrás na corrida.

Com as Suzuki a fazerem dois dois três melhores tempos, Oliveira tinha sido o oitavo melhor no warm up em Silverstone esta manhã e essa confiança ajudou também a que ganhasse mais duas posições (três logo a a seguir) no arranque, ficando atrás de Joan Mir mas já no top 10. Na frente, Fabio Quartararo, que teria de cumprir uma penalização, saltou para o segundo posto atrás de Johann Zarco, que conseguiu um arranque canhão para segurar a primeira posição. Era assim que acabava a primeira volta, tendo Maverick Viñales como o principal derrotado descendo do segundo para o sexto lugar com um mau início de prova.

Jack Miller, ainda em terceiro, conseguia a melhor volta da corrida mas era Álex Rins a assumir cada vez maior protagonismo na primeira corrida depois de ter sido confirmado como piloto da LCR Honda na próxima temporada, saltando de 11.º para sexto e depois de sexto para quarto com uma ultrapassagem por fora a Pecco Bagnaia que não deu hipóteses ao transalpino. Jorge Martín, que andou na luta pelo nono lugar com Mir, subia a sétimo com a melhor volta em corrida em Silverstone que bateu Aleix Espargaró, ainda com mazelas físicas da queda da véspera. Quartararo entrou em quinto após a penalização.

De resto, a corrida decorria sem grandes surpresas mas seria sol de pouca dura: Zarco, sozinho na liderança e com todas as condições para poder chegar à sua primeira vitória, teve uma queda após perder a frente e ficou fora da luta, permitindo que Miguel Oliveira subisse a nono (já com Brad Binder atrás de si, depois de um início mais discreto) e que Rins entrasse em luta direta com Miller pela primeira posição. No entanto, o australiano iria depois entrar numa fase mais inconstante de corrida, descendo a terceiro e por breves momentos a quarto na luta com o piloto da Suzuki, com Bagnaia e com Jorge Martín enquanto o campeão e líder do Mundial, Fabio Quartararo, rodava em quinto sem recuperar o seu ritmo de corrida e foi mesmo ultrapassado por Viñales na oitava volta, passando a ter no seu encalce a outra Suzuki de Mir.

Era assim que a corrida chegava a meio, com Bagnaia ainda assim mais perto de Rins depois de um erro de trajetória do espanhol e com Enea Bastianini a trocar de novo com Brad Binder no final do top 10, mas não por muito mais tempo: Bagnaia ultrapassou Rins e assumiu a liderança, Viñales subiu a quarto por troca com Martín, Enea Bastianini superou Miguel Oliveira, Aleix Espagaró e Joan Mir para ficar em sétimo e Miller ficou com o segundo posto perante a aparente quebra de Rins. Oliveira ganhava vantagem em décimo em relação a Binder mas subiria mais um lugar após a queda de Joan Mir a seis voltas do final.

Parecia que a ultrapassagem de Miguel Oliveira a Aleix Espargaró seria uma questão de tempo e aconteceu mesmo em aceleração quando faltavam cinco voltas, num oitavo lugar que era o melhor na corrida e podia ser o terceiro melhor resultado da temporada apenas atrás da vitória na Indonésia e da quinta posição no Algarve. Mas não ficaria mesmo por aí, com um ataque a Fabio Quartararo que teve duas ameaças iniciais até à concretização da ultrapassagem ao campeão mundial a duas voltas do final antes de arriscar e conseguir mesmo superar Álex Rins na parte final da corrida num dia em que, exceção feita ao triunfo alcançado na segunda prova da época, foi o melhor a nível de perceção de tudo o que se passava.

Apesar de forte pressão de Maverick Viñales, que começou mal mas acabou em pleno sendo o melhor em pista, Pecco Bagnaia conseguiu segurar a vitória no Grande Prémio da Grã-Bretanha. Jack Miller fechou o pódio em mais uma grande corrida da Ducati mas com bons sinais da Aprilia. Em termos de classificação do Mundial após a prova de regresso, Fabio Quartararo mantém a liderança com 180 pontos, mais 22 do que Aleix Espargaró (que apesar de tudo só perdeu um para o francês). Bagnaia segue em terceiro com 131, ao passo que Enea Bastianini ultrapassou Johann Zarco na quarta posição (118-114). Miguel Oliveira mantém a décima posição com 81 pontos, a um de Viñales e a 17 de Binder que está no sétimo lugar.