A Geely é o maior fabricante de automóveis privado chinês, que é simultaneamente o dono da Volvo, Polestar, Lotus, Lynk & Co e Proton, entre outras marcas, sendo ainda o maior accionista do grupo Mercedes, a quem adquiriu 50% da Smart. É exactamente esta empresa, liderada pelo chinês Li Shufu, que está a negociar há meses com a Renault, com o objectivo de adquirir o negócio dos modelos equipados com motores de combustão.

Esta não é a primeira vez que o construtor francês faz negócios com o seu concorrente chinês, uma vez que a Renault vendeu à Geely, em Maio, 1/3 do seu negócio na Coreia do Sul, a Renault Samsung Motors. Mudaram de mãos precisamente 34,02% das acções, em troca de um valor próximo dos 200 milhões de dólares. A operação permitiu aos chineses entrar no mercado sul-coreano, com a Renault e a Samsung a ganharem um parceiro com grande potencial.

Desta vez o negócio avançou pela necessidade da Renault se financiar, de forma a conseguir suportar os enormes investimentos nos veículos eléctricos. Tanto mais que os franceses decidiram avançar com tudo ao mesmo tempo, o que significa conceber plataformas específicas, produzir baterias e reformular as fábricas por completo, optimizando-as para modelos alimentados exclusivamente por bateria.

Todos os construtores enfrentam esta necessidade de fundos à sua maneira. A VW, por exemplo, planeia vender uma parte considerável da Porsche em bolsa, enquanto a Mercedes optou por alienar em breve uma “fatia” do negócio dos camiões. A Renault parece estar inclinada a vender algo que pensa vir a necessitar cada vez menos, ou seja, o actual negócio dos modelos com motores de combustão, que hoje ainda é o seu core business, mas que deixará de ser importante num futuro próximo (2030 a 2035).

A Geely quer adquirir uma fatia de 40% dos Renault alimentados por motores a combustíveis fósseis, com a petrolífera saudita Aramco a pretender entrar igualmente no negócio, comprando 20% do bolo. A Renault manteria os restantes 40%. A presença da Aramco tem a sua razão de ser estratégica, uma vez que para os modelos a combustão terem alguma possibilidade de sucesso, ainda que em mercados fora da União Europeia a partir de 2035, têm de utilizar combustíveis sintéticos. É aí que entra a petrolífera árabe, com quem a Renault poderá conceber gasolina e gasóleo produzidos em laboratório, sem recorrer à refinação de petróleo.

Se as negociações avançarem, a Renault separará o negócio dos modelos eléctricos, que vai querer para si, dos que têm motor térmico ou híbrido, que está disposta a vender parcialmente. Esta segunda empresa, que hoje é conhecida pelo nome de código “chéval”, terá a Renault, a Geely e a Aramco a deter o capital.

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