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Pavel Palazhchenko, antigo intérprete de Mikhail Gorbachev, admitiu, esta quinta-feira, que a guerra na Ucrânia foi um “duro golpe” para o último líder soviético. “Não foi só a operação que começou a 24 de fevereiro, mas toda a evolução das relações entre a Rússia e a Ucrânia nos últimos anos. Devastou-o emocional e psicologicamente.

Numa entrevista à Reuters, Pavel Palazhchenko recorda uma conversa telefónica que teve com o ex-líder soviético há umas semanas, destacando que Gorbachev estava traumatizado com o que estava a acontecer na Ucrânia. “Era muito óbvio nas nossas conversas que ele estava chocado e confuso com o sucedido. Ele acreditava não só na proximidade entre o povo russo e ucraniano, como também acreditava que as duas nações estavam interligadas.”

O avô materno do Mikhail Gorbachev era originário de Chernihiv, na Ucrânia, o que ajuda a explicar a sua posição, explica Pavel Palazhchenko. O ex-líder soviético manifestava também uma posição “extremamente relutante” no que diz respeito à decisão de enviar forças para países estrangeiros.

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Ainda assim, segundo o intérprete, Mikhail Gorbachev ainda mantinha a crença na ideia da União Soviética. “Claro que no seu coração havia uma mapa mental de um país imaginado que inclui maior parte da antiga URSS”, justifica, algo que é transversal “à maioria da sua geração política”. No entanto, Pavel Palazhchenko não via o ex-estadista a “impor” uma solução que envolvesse um conflito militar.

No decorrer do conflito, Pavel Palazhchenko revelou que o ex-líder soviético decidiu manter o silêncio por razões que não são claras — apenas decidiu emitir um comunicado a pedir o fim das hostilidades no dia 24 de fevereiro.

Sobre o futuro da Rússia, Gorbachev “continuava otimista”. “Ele acreditava que o povo russo é muito talentoso. Se lhe fosse dada uma oportunidade, talvez uma segunda oportunidade, esse talento… Poderia aparecer”, conta Pavel Palazhchenko.

O intérprete abordou, também, a questão do legado de Gorbachev, sendo que este considerava que estava a ser “desvirtuado” — e a ser alvo de “críticas injustas”. Contudo, o ex-líder mantinha a fé de que a História o julgaria de forma positiva. “Ele gostava de dizer que a História era uma senhora inconstante. Eu penso que ele acreditava que o veredito final ia ser positivo.”