O último dia de mercado começou com a confirmação do fim de uma novela cujo desfecho se foi tornando cada vez mais previsível à medida que o tempo passava: Ricardo Horta continuava no Sp. Braga e não ia ser reforço do Benfica. Um dissabor para vários benfiquistas que o clube da Luz tentou compensar com o anúncio da chegada de Julian Draxler, por empréstimo vindo do PSG, e a vinda de John Brooks, defesa-central norte-americano, para reforçar a defesa encarnada numa altura em que há três baixas: Lucas Veríssimo, João Victor, e a mais recente, Morato.

“Quando começas a pré-época tens uma ideia muito clara ao nível dos jogadores que queres ter. Temos de ver sempre o mercado, ver que jogadores estão disponíveis e os que querem sair. Depois, temos de tomar decisões. No futebol, o futebol é sempre assim. Neste momento, estou muito satisfeito com o plantel e com o desempenho dos jogadores.”, garantiu Roger Schmidt na conferência de imprensa de antevisão. E foram mesmo tomadas decisões, o Benfica conseguiu resolver a rescisão de Adel Taarabt e deixou sair Jan Vertonghen e Julian Weigl, que procuravam mais minutos.

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Com o plantel fechado, o Benfica chegava à 5.ª jornada num bom momento: garantiu a liderança isolada do campeonato com uma vitória – a oitava consecutiva – a meio da semana sobre o Paços de Ferreira, numa altura em que os dois principais rivais já perderam pontos. Mas o jogo com o Paços de Ferreira foi também o primeiro susto, os encarnados sofreram os primeiros golos para o campeonato e a equipa, apesar de ter reagido bem quando esteve em desvantagem, não teve o domínio que já tinha apresentado noutros jogos. Assim, o mês de setembro pode ser a altura do primeiro grande desafio: o Benfica tem cinco jogos, dois deles para a Liga dos Campeões com Juventus e Maccabi Haifa.

Mesmo com esse calendário pela frente, Roger Schmidt não fez grandes alterações no onze inicial. Alexander Bah, que foi titular na partida com o Paços de Ferreira, foi substituído por Gilberto e António Silva entrou para o lugar do lesionado Morato. De resto, o esquema manteve-se: Florentino e Enzo Fernández estavam responsáveis pelo meio-campo, João Mário e David Neres abriam nas alas e no ataque, Rafa continuava a aparecer nas costas de Gonçalo Ramos. No banco ainda não apareciam os mais recentes reforços – Draxler e Brooks viram o jogo da bancada. Do lado do Vizela, Álvaro Pacheco promoveu duas mudanças no onze inicial. Milutin Osmajic estreou-se na Liga e entrou para o lugar de Zohi, já Álex Mendez foi a escolha por Diego Rosa.

Os primeiros minutos de jogo apresentaram duas equipas tranquilas à procura de construir jogo. O Vizela entrou sem medo no Estádio da Luz, mas cauteloso na saída com a bola. A primeira oportunidade apareceu para o Benfica com um cabeceamento de Gonçalo Ramos à barra depois de um cruzamento de David Neres (10’), numa altura em que os encarnados seguravam o jogo, mas não conseguiam aproximações à baliza, um cenário que se vinha a manter ao longo de toda a partida. Na fase em que o Benfica tentava começar a construir jogo, o Vizela chega ao golo: num contra-ataque, Kiko Bondoso consegue meter a bola entre António Silva e Otamendi, Osmajic aparece isolado e bate Vlachodimos (20’).

Pelo segundo jogo consecutivo o Benfica estava em desvantagem, mas ao contrário do que fez no jogo com o Paços de Ferreira, a equipa de Roger Schmidt não conseguiu reagir. O Vizela defendeu bem e, com as linhas muito juntas, foi sendo capaz de fechar o caminho aos jogadores do Benfica, que mostraram muita dificuldade em inovar e mostrar a criatividade de outros jogos. Durante toda a primeira parte, o cenário não se alterou muito, o Benfica procurou chegar ao empate construindo o ataque quase sempre pelo corredor central, mas não conseguia criar perigo. Já perto do intervalo, João Mário atira mais uma bola ao poste ao cobrar um livre diretamente à baliza de Buntic, o guarda-redes vizelense estica-se, consegue tocar na bola e enviá-la para o poste esquerdo (37’). O Benfica apertou o cerco, tentou chegar ao golo com várias tentativas de Gonçalo Ramos (44’) e Rafa (45+2), todas sem sucesso. A equipa do Benfica fez a pior primeira parte da era Roger Schmidt, saía para o intervalo com muita intenção, mas com pouco critério na hora de finalizar. Já o Vizela apresentou-se muito cauteloso, sem cometer erros defensivos.

Ao intervalo, Álvaro Pacheco mexeu na equipa do Vizela e fez entrar Claudemir para o lugar de Raphael Guzzo, que já tinha visto o amarelo durante a primeira parte. Do lado do Benfica, nada mudou, mas a equipa entrou a pressionar mais, com vontade de chegar ao empate: Florentino cabeceou por cima (47’), Enzo rematou ao lado (50’) e João Mário atirou também por cima (53’). Era uma altura do jogo em que o Vizela estava mais encostado atrás, mas sem abrir espaços na defesa. A equipa do Benfica tentava, tentava, mas não conseguia criar grande perigo à baliza de Buntic. O modelo da equipa de Roger Schmidt era sempre o mesmo: jogadores atacavam pelo corredor central, com boas combinações, mas sem arriscarem remates à baliza. A defesa do Vizela apresentou-se sempre muito competente e com a lição bem estudada, sem permitir espaços para o Benfica criar oportunidades flagrantes.

À medida que o relógio avançava, os jogadores do Benfica iam ficando mais impacientes, iam aumentado o número e a intensidade dos ataques, mas com pouco critério, com muitos cruzamentos sem destino e remates ao lado ou contra a defesa do Vizela. À hora de jogo, Roger Schmidt mexeu, fez Aursnes estrear-se na liga e reforçou o ataque com Musa, para as saídas de Florentino e de Enzo Fernández. Numa altura em que o Benfica se aproximava constantemente da baliza do Vizela, empatou. Neres fez o que não estava a ser feito, rematou fora da área, e fez um grande golo. O brasileiro recebeu a bola de Bah, fugiu para dentro, bailou em frente à defesa adversária e rematou para o fundo da baliza do Vizela.

A partir daí, os jogadores do Benfica entusiasmaram-se com a possibilidade da reviravolta e imprimiram outra intensidade ao jogo com António Silva (81’) e Gonçalo Ramos a mandarem a bola por cima da barra (88’). Com mais oito minutos para jogar no Estádio da Luz, Gonçalo Ramos viu o segundo amarelo depois de o árbitro Fábio Veríssimo considerar que o avançado simulou um penálti. O Benfica mesmo a jogar com dez só tinha a baliza do Vizela como direção, mas sem conseguir finalizar com qualidade. Mesmo no cair do pano, Fábio Veríssimo marca penálti para o Benfica por mão de Diego Rosa na área, um lance muito contestado pela equipa de Vizela. João Mário voltou a assumir a marcação da grande penalidade, a terceira consecutiva, e garantiu a vitória na Luz. O português que acabou expulso ao ver o cartão amarelo por tirar a camisola durante os festejos. Num final de jogo intenso e com grande euforia por parte dos jogadores do Benfica, até o presidente, Rui Costa, desceu ao relvado e celebrou efusivamente com a equipa a nona vitória consecutiva, a mais difícil até agora. O Benfica de Roger Schmidt passou a fase de encantamento e o modelo do alemão parece começar agora a ser testado.