Primeiro o Dínamo, agora o Shakhtar. O conjunto de Kiev fez os possíveis para passar Fenerbahçe e Sturm Graz nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões mas falhou depois o “impossível” ao cair de forma quase natural frente ao Benfica no playoff, falhando assim o acesso à fase de grupos. Razões? Qualidade do adversário à parte (e a dos encarnados foi evidente nos dois jogos), a falta de encontros oficiais nas pernas, a perda de algumas unidades importantes na estrutura da equipa, a situação delicada que vários elementos atravessam por questões familiares que se cruzam com a guerra. Tudo argumentos que surgiam também como possíveis entraves para a formação de Donetsk em noite de estreia na Champions.

Estádios com abrigos, paragem nas sirenes e um soldado a dar o pontapé de saída: como o futebol (possível) voltou à Ucrânia

À semelhança do que aconteceu com quase todos os clubes da Primeira Liga ucraniana, o Shakhtar foi somando vendas às saídas por empréstimo e ao abrigo da exceção aberta pela FIFA, que permite que os jogadores estrangeiros possam sair agora até junho de 2023 para outros clubes – e que levou mesmo a que o clube avançasse com uma queixa em tribunal contra o órgão que tutela o futebol mundial depois de Tetê e Manor Solomon terem deixado o plantel a custo zero em 2022/23 quando tinham vendas “apalavradas” num total de 25 milhões de euros. Antes, já tinham saído David Neres (Benfica), Dodô (Fiorentina), Marcos Antônio (Lazio), Fernando (Salzburgo), Pedrinho (Atl. Mineiro), Marlon (Monza) ou Ismaily (Lille). Quem chegou? Apenas jogadores ucranianos que jogavam noutras ligas como a húngara ou a croata.

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Este era o retrato do que é hoje o Shakhtar, uma equipa que fez o último encontro da Liga de 2021/22 em dezembro, voltou aos relvados em termos oficiais há duas semanas com um empate frente ao Metalist no Olímpico de Kiev, só há um mês é que voltou a treinar em solo ucraniano, desde 2014 que não pode jogar em Donetsk (sendo que o seu estádio foi afetado com a guerra no Donbass) e irá disputar as suas partidas europeias na cidade polaca de Varsóvia. A juntar-se a isso, as vitórias tímidas depois do nulo a abrir a Liga frente a Kryvbas (1-0) e Rukh Vynnyky (1-0). Seguia-se uma complicada deslocação a Leipzig.

Em condições normais, o conjunto onde atua o português André Silva (titular) era naturalmente favorito. No final, e após uma segunda parte de loucos com parada e resposta, o Shakhtar conseguiu golear o RB Leipzig por 4-1, fazendo depois a festa no relvado com bandeiras da Ucrânia e uma falange de apoio que juntava adeptos de todos os clubes do país. “Somos do Dínamo Kiev e antes da guerra havia apenas 1% de hipóteses de apoiar o inimigo Shakhtar. Agora, são só uma equipa de rapazes ucranianos que nos orgulha”, admitiu uma família na zona dos visitantes a Adam Crafton, jornalista do The Athletic. E a grande figura de uma equipa com seis jogadores titulares abaixo dos 23 anos e cinco no banco com 21 ou menos foi mesmo um dos jovens, Mykhaylo Mudryk, extremo esquerdo de 21 anos apelidado de Neymar ucraniano que ficou apesar das propostas de 30/35 milhões da Premier League para brilhar na Champions.