A próxima edição do festival O Sol da Caparica vai ser organizada pelo Grupo Chiado, que tem contrato com a Câmara Municipal de Almada, detentora da marca, até 2023, quando será realizado um novo concurso.

As dúvidas quanto à duração do contrato da autarquia com o Grupo Chiado, responsável pela organização do evento desde 2019, foram esclarecidas por Inês de Medeiros na última reunião de câmara, que decorreu esta segunda-feira, da parte da tarde. O caderno de encargos continua, no entanto, a não estar disponível.

Abordando a polémica em torno da mais recente edição do Sol da Caparica, que decorreu entre os dias 11 e 15 de agosto no Parque Urbano da Costa da Caparica, a autarca esclareceu que, “tal como aconteceu em 2019, será feita uma avaliação em função do que foi contratualizado, do que foi cumprido e do que não foi”, e que “essa avaliação está a ser feita”, não tendo ainda sido concluída pelos diversos serviços municipais. Uma vez terminada, esta será discutida pelo executivo e com o promotor.

Insultos, conflitos e queixas: os muitos problemas no festival “Sol da Caparica”

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Apesar de o processo de avaliação não estar ainda concluído, Inês de Medeiros admitiu que não lhe parece que haja incumprimento contratual, porque, de acordo com a autarca, o Grupo Chiado cumpriu “em muito, até de mais quase, o que contratualizaram em termos de programação”.

Relativamente aos problemas relatados por artistas e espectadores nas redes sociais e noticiados por vários órgãos de comunicação social nos dias que se seguiram ao festival, a presidente admitiu que “a Câmara de Almada não gosta de ver os relatos que vão surgindo na comunicação social, sobretudo quando temos a sensação de que há aqui um gosto por uma notícia mais estrepitosa”, lembrando que “também estamos na silly season”.

Autarquia desvaloriza notícias: problemas no Sol da Caparica não têm “o peso que a comunicação social lhes deu”

Outros membros do executivo municipal apontaram também o dedo à comunicação social. Maria Teodolinda Silveira (PS), vice-presidente da câmara, recorreu a um velho ditado (“Não é notícia um cão morder um homem, mas se um homem morder um cão”) para explicar as notícias divulgadas sobre O Sol da Caparica, frisando que, na sua opinião, os problemas ocorridos “não têm o peso que a comunicação social lhe deu”.

Sem negar que houve algumas dificuldades e que certas queixas foram justificadas, a vice-presidente destacou que, “em 92 bandas, há quatro, cinco, que têm queixas, e algumas delas justificadas”, nomeadamente em relação à alteração dos horários das atuações, e que a maioria não teve nada de negativo a dizer sobre o festival. “Não vi de facto o queixume generalizado que depois vi na comunicação social”, afirmou, acrescentando: “Não estou a dizer que se estão a queixar por queixar, mas, na minha ótica, não tem o peso que a comunicação social lhe deu. Não é, não pode”.

Também José Pedro Ribeiro (PS), vereador das Infraestruturas e Obras Municipais, descreveu um cenário em que, “tem termos globais, quase todos [os espectadores] ficaram com uma boa imagem do que é a Costa da Caparica. Tenho a certeza que quase todos voltarão”, afirmou o vereador, admitindo que teria ficado muito mais preocupado se o festival “não tivesse tido a adesão que teve”, “um bom indicado”. “Temos de ficar preocupados com aquilo que se passou na comunicação social, mas não com aquilo que foi o festival.”

Os números ainda não estão fechados, mas terão passado pelo Parque Urbano da Costa da Caparica mais de 150 mil pessoas, de acordo com José Pedro Ribeiro. Para Inês de Medeiros, os números são indício de que O Sol da Caparica “está a tornar-se um festival incontornável e a cumprir a sua missão de ser o grande festival de língua portuguesa, em todos os países”, e o “terceiro festival nacional”.

“Para nós, foi um sucesso”, frisou a presidente de câmara, destacando as inúmeras melhorias e alterações implementadas para fazer face ao aumento de espectadores, que já tinha sido registado em 2019, causando vários problemas logísticos e de segurança, e admitindo que muitas das queixas do público em 2022 se deveram precisamente a esse crescimento.

“Tal como se fez em relação à edição de 2019, têm de se corrigir o que houver para corrigir. [A promotora] está contratualizada até 2023, o que significa que temos de começar a trabalhar num novo caderno de encargos, que tem der lançado para as edições de 2024, 2025 e 2026. Se for preciso melhorar o caderno de encargos, também estaremos aqui para o fazer.” No entanto, “a câmara nunca terá competências em 2023 para ter um relacionamento entre o produtor e os artistas que é da exclusiva responsabilidade do produtor”.

Comentários dirigidos a artistas “são intoleráveis”. Autarquia admite impacto negativo na imagem do festival

Em relação aos relatos de comportamentos agressivos e menos próprios por parte da organização, Inês de Medeiros lamentou o sucedido, admitindo que o que leu “e que andou a circular por mensagens” é “absolutamente intolerável”. “Alguns comentários que vimos ou fomos lendo são intoleráveis. Até porque não há cultura sem artistas. Qualquer consideração menos própria, e sobretudo mais boçal, mais grosseira em relação aos artistas, é e será sempre condenável. Mas as grosserias ficam com quem as pronunciou. É bom não esquecer.”

Apesar de condenar o conteúdo ofensivo das mensagens alegadamente enviadas por uma pessoa ligada à organização do Sol da Caparica, Rui Campos Silva, que fez a curadoria do palco de música eletrónica, Inês de Medeiros fez questão de frisar que estas não foram “pronunciadas a título oficial. “Já verifiquei. Uma coisa é um comentário pessoal, por muito desagradável que seja; outra coisa é um comunicado oficial”, disse.

No entanto, a câmara municipal não minimiza o sucedido. Inês de Medeiros fez questão de o dizer várias vezes: “Não estamos a dizer que não tem impacto”, frisou, declarando novamente que, assim que a avaliação estiver terminada, o executivo irá compará-la “com o contrato para ver se há incumprimentos de gravidade tal” e reunir com o produtor.

A edição de 2022 do Sol da Caparica deverá ser novamente abordada na próxima sessão ordinária da Assembleia Municipal de Almada, que se vai realizar no dia 15 de setembro, pelas 21h15, em local ainda a definir.