Augusto Santos Silva cravou de vez o seu papel de voz da consciência do PS contra “populismos e demagogias”. Esta segunda-feira foi até à Batalha, onde estão a decorrer as Jornadas Parlamentares socialistas, apontar aos deputados da maioria quais são as “urgências” que se colocam ao seu trabalho. Entre os três grupos que apontou como tendo necessidade de especial atenção está quem vive em situação social mais desfavorecida e, por isso mesmo, é “presa fácil de demagogias e populismos”.

O socialista que é também presidente da Assembleia da República — e tem sido, pelo desempenho desse cargo, criticado pelo Chega — avisou os deputados socialistas para o risco do atual contexto social e político. “Devemos ter especial atenção, pelas circunstâncias vividas atualmente, pelos cidadãos que vivem no limiar da pobreza, que sentem insegurança nos seus bairros e empregos e também com a situação de guerra e que podem ser presa fácil de demagogias e populismos. Temos de fazer esse combate”, exortou Santos Silva.

[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]

Santos Silva avisa sobre “presas” do populismo

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E ainda puxou os exemplos da Suécia (em que o partido nacionalista e anti-imigração Democratas da Suécia está em segundo lugar, de acordo com resultados preliminares) e da Itália para argumentar que “só a esquerda democrática pode fazer esse combate”. Na sequência do raciocínio, atira também à direita dizendo que “bem pode esperar sentado” quem espera que seja a direita a “combater os extremismos”.

Depois de António Costa ter estado com o grupo parlamentar a deixar conselhos sobre como usar a maioria absoluta nos atuais tempos, foi a vez de Santos Silva vir acrescentar para que deve servir esse mesmo uso. Logo no arranque da intervenção já tinha feito uma alusão, por via muito indireta e sem nunca referir o Chega, ao que tem sido o seu papel como presidente da Assembleia da República, jurando que cumpre “escrupulosamente as obrigações regimentais que tem: “Não faço nem mais nem menos do que isso”.

A afirmação vem como resposta à onda de críticas dos deputados do Chega no final da sessão legislativa anterior, tendo mesmo o grupo parlamentar chegado a abandonar o plenário em protesto, depois de Santos Silva ter admoestado André Ventura sobre um discurso anti-imigrantes.

E foi nessa mesma linha de raciocínio que ainda deixou um aviso ao Chega, ao dizer que, no Parlamento, “o debate político vive e faz-se no respeito dos valores democráticos” e que “se algum deputado não compreende isso, o tempo se encarregará de fazer com que ela ou ele compreendam”.

É neste contexto que, ao enumerar as emergências e antes de chegar à ideia da “presa fácil”, também elencou logo a necessidade de o PS não se esquecer do seu próprio eleitorado, que descreveu como “a classe popular média” que quer “um Portugal bem integrado na Europa, um país democrático e livre que acolhe bem os estrangeiros que o demandam”.

O terceiro grupo para o qual pediu a atenção socialista é o dos jovens e concluiu a intervenção a pedir que  deputados “não percam tempo com o que não merece” e que concentrem “nestas urgências e nos progressos da agenda estratégica” do PS.

Antes de chegar a esta lista de prioridades, Augusto Santos Silva já tinha avisado os deputados para as “condições únicas” de que o PS dispõe para “cumprir o mandato” recebido nas eleições de janeiro deste ano. A que associa uma “enorme confiança que as pessoas depositam no secretário-geral e primeiro-ministro”.