O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou esta terça-feira a Arménia e o Azerbaijão a “tomarem medidas imediatas para reduzir as tensões”, após os mais violentos combates desde a guerra de 2020 entre os dois países, indicou um porta-voz.

“Muito preocupado”, o secretário-geral “apela às partes para tomarem medidas imediatas para reduzir as tensões, para exercerem a máxima contenção e para resolverem todos os problemas que persistem através do diálogo”, declarou o seu porta-voz, Stéphane Dujarric, numa conferência de imprensa.

Apesar de o conflito entre o Azerbaijão e a Arménia em torno do enclave separatista de Nagorno-Karabakh ter terminado no outono de 2020, com cerca de 10.000 mortos e a vitória do Azerbaijão, que recuperou grande parte dos territórios controlados por Erevan desde a guerra de 1992-1994, prosseguem os confrontos entre as duas partes.

O Azerbaijão acusou esta terça-feira à tarde a Arménia de violar “de forma intensa” o cessar-fogo negociado por Moscovo após os combates mais violentos desde a guerra de 2020 entre os dois países, uma escalada que se saldou, até agora, em cerca de 100 militares mortos de ambas as partes.

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Apesar de um cessar-fogo anunciado por Moscovo em vigor desde as 06:00 TMG (07:00 de Lisboa), “unidades das Forças Armadas arménias (…) abriram fogo de artilharia contra as posições do exército azeri”, na fronteira entre a Arménia e o Azerbaijão, afirmou o Ministério da Defesa azeri num comunicado.

“A Arménia está a violar de forma intensa o cessar-fogo”, acusou o ministério, referindo “medidas de resposta” dos soldados azeris a esse fogo de artilharia arménio.

Esta declaração surge horas após o Azerbaijão afirmar ter “cumprido todos os seus objetivos” na fronteira com a Arménia nos combates com as forças arménias.

As provocações cometidas pelas forças arménias na fronteira entre os dois países foram repelidas, todos os objetivos foram cumpridos”, congratulou-se o gabinete do Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev.

“Apesar de uma forte diminuição da intensidade dos bombardeamentos, o inimigo continua a tentar avançar”, tinha indicado, por sua vez, um pouco antes o Ministério da Defesa arménio.

Esta intensificação da violência verifica-se numa altura em que a Rússia, que destacou uma força de manutenção da paz de 2.000 elementos para a região após a guerra de 2020, está ocupada com a guerra que trava desde 24 de fevereiro deste ano na Ucrânia.

A Arménia e o Azerbaijão, duas ex-repúblicas soviéticas rivais do Cáucaso, enfrentaram-se em duas guerras nas últimas três décadas pelo controlo da região de Nagorno-Karabakh, a última das quais em 2020.

Os mais recentes combates, que eclodiram durante a noite, ilustram como a situação se mantém explosiva, acusando-se os dois países mutuamente de terem iniciado as hostilidades.

Apesar de existirem regularmente confrontos entre os dois países ao longo da sua fronteira comum desde o fim da guerra de 2020, os combates desta terça-feira constituem um acontecimento inédito, devido à sua dimensão e intensidade.

A escalada é a consequência de um impasse nas negociações de paz”, disse o analista Tatul Hakobian, para quem o conflito na Ucrânia “alterou o equilíbrio de forças na região”, encontrando-se a Rússia, o apoio da Arménia, “numa situação difícil”.

Segundo o analista, Baku pretende beneficiar dessa situação para “obter concessões da Arménia assim que possível”.

Mas para Farid Chafiev, presidente do Centro de Análise das Relações Internacionais em Baku, “o principal obstáculo à paz” é simplesmente “a presença ilegal de soldados arménios” no Azerbaijão, referindo-se ao enclave de Nagorno-Karabakh.

Historicamente complicadas, as relações entre Erevan e Baku continuam a ser envenenadas pelo seu diferendo em torno de Nagorno-Karabakh, enclave maioritariamente povoado por arménios que se separou do Azerbaijão com o apoio da Arménia.

Após uma primeira guerra que fez mais de 30.000 mortos, no início dos anos 1990, a Arménia e o Azerbaijão enfrentaram-se novamente no outono de 2020 pelo controlo daquela região montanhosa, conflito que a Arménia perdeu.

No âmbito de um acordo de cessar-fogo então negociado por Moscovo, que destacou para Nagorno-Karabakh uma força de manutenção da paz, Erevan cedeu importantes parcelas de território ao Azerbaijão — o que foi vivido na Arménia como uma humilhação nacional.