Volodymyr Zelensky já caraterizou a descoberta como “assassínio” e “tortura” e prometeu retaliar. Mais de 400 sepulturas foram descobertas numa floresta perto de Izium, uma das cidades que foi recentemente recuperada pelas forças ucranianas numa contraofensiva, na região de Kharkiv, nordeste da Ucrânia.

Os investigadores estão a exumar cada um dos corpos e as provas serão usadas nos julgamentos de crimes de guerra. Segundo a Ucrânia, as vítimas terão morrido em ataques das forças russas ou por falta de acesso a cuidados de saúde — e entre os mortos há  crianças, muitas das quais  não conseguiram chegar a tempo aos abrigos.

O que se sabe do cemitério em massa:

Serão mais de 400 as sepulturas descobertas numa floresta perto de Izium. Os investigadores que estão a exumar os corpos estimam que haja 445 sepulturas; enquanto o assessor da Presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, disse terem sido descobertas 450.

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O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse no Telegram que no local foram encontrados corpos com sinais de tortura. O procurador ucraniano da região de Kharkiv, Oleksandr Filchakov, avançou que o primeiro corpo retirado do cemitério tinha uma corda ao pescoço e outros sinais de “morte violenta“. Foram ainda encontrados corpos com as mãos atadas atrás das costas. O governador regional de Kharkiv, Oleg Synegubov, também referiu que 99% dos cadáveres exumados até ao momento apresentavam sinais de “morte violenta”.

Zelensky denuncia cemitério em massa em Izium. Cadáveres apresentavam “sinais de morte violenta”

A maioria das vítimas serão civis, mas, segundo as autoridades, foram também encontrados os corpos de 17 militares numa vala comum. Zelensky afirma que entre os cadáveres encontrados há crianças.

As vítimas terão morrido em ataques de mísseis, disparos ou por falta de acesso a cuidados de saúde. Uma especialista escreveu no Twitter que recebeu testemunhos que davam conta de pessoas baleadas nas ruas pelas forças russas.

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As campas foram marcadas com cruzes de madeira e algumas identificadas com os nomes das vítimas. Noutras foram inscritos números.

Os primeiros relatos revelaram que terão sido os coveiros locais a enterrar os corpos, obrigados pelas forças russas. Segundo o investigador principal da polícia da região de Kharkiv, os nomes das vítimas foram registados num caderno. Quando não se sabia o nome, eram colocados outros dados, como o género.

De acordo com o The Guardian, Tamara Volodymyrovna, diretora de uma casa funerária em Izium, revelou que foi instruída pelas forças russas a escrever números em vez de nomes nas sepulturas, mas a registar ambos os dados num caderno. Pelo menos 100 pessoas, disse, foram mortas na primavera durante ataques russos em Izium, a maioria por bombas, nas primeiras semanas do conflito. Cerca de 20 crianças estiveram entre os mortos, muitas por não terem chegados a tempo aos abrigos.

Zelensky tem publicado diversas imagens, bastante explícitas, dos cadáveres descobertos e que estão a ser desenterrados e sujeitos a análises forenses. “Todo o mundo deve ver isto”, afirmou mesmo, acusando as forças russas de “assassínio” e “tortura”. E ameaçou de retaliação. O Presidente ucraniano também comparou o cemitério com as descobertas em Bucha, onde foram descobertos vários corpos em valas comuns e nas ruas, muitos deles com sinais de tortura.

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O comissário do Parlamento ucraniano para os direitos humanos descreveu a situação como um “genocídio” e contou que foi descoberta uma família inteira no cemitério, muito jovem, que terá morrido num ataque aéreo das forças russas. O pai terá nascido em 1988, a mulher em 1991 e a filha em 2016.

Todos os corpos serão exumados e sujeitos a exames forenses. Isso mesmo garantiu Andriy Yermak, chefe de gabinete de Zelensky, numa publicação no Twitter, onde colocou fotografias do cemitério. As provas recolhidas desse processo serão usadas nos tribunais internacionais para julgar crimes de guerra.

O alto comissariado para os Direitos Humanos da ONU já se comprometeu a enviar “em breve” uma delegação para Izium para verificar as alegações de Kiev em relação ao cemitério em massa.

Antes da guerra, Izium tinha cerca de 50 mil habitantes. A cidade foi ocupada pelas forças russas a 1 de abril e transformada num dos principais focos da presença russa. A partir de Izium, a Rússia lançou ataques contra várias outras cidades do Donbass. Na altura, as autoridades locais conseguiram retirar uma parte da população, mas cerca de 10 mil pessoas não terão conseguido escapar. Como escreve o The Guardian, Izium foi, durante séculos, uma porta de entrada na região do Donbass, no leste da Ucrânia, e daí para o Mar Negro.

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Segundo a France Presse, Izium estava, na semana passada, devastada pelos combates, com casas e edifícios públicos destruídos. Um político local disse, citado pela BBC, que até 80% das infraestruturas da cidade estão destruídas. Noutras localidades de Kharkiv recentemente libertadas pelas tropas russas estão ser descobertas mais valas comuns.

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Também a primeira-ministra da Estónia mencionou o cemitério descoberto em Izium: Kaja Kallas pediu que as pessoas “não desviem o olhar”. “Esta é a cara da ocupação russa: terras e cidades transformadas em valas comuns. A Ucrânia pode ganhar se continuarmos a apoiá-los”, defendeu.