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Soldados ucranianos reconquistaram Bucha e descobriram cenário de destruição
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Soldados ucranianos reconquistaram Bucha e descobriram cenário de destruição

REUTERS

Soldados ucranianos reconquistaram Bucha e descobriram cenário de destruição

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Russos deixaram rasto de morte nas ruas de Bucha. Militares ucranianos falam em "execuções arbitrárias" de civis

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Este artigo contém linguagem e descrições que podem ferir a sensibilidade dos leitores

Bucha é uma das cidades reconquistadas pelos ucranianos perto da capital, Kiev. Um mês depois, poder local, militares ucranianos e jornalistas mostram ao mundo um cenário de terror.

As imagens são chocantes. Cadáveres espalhados pelas ruas, alguns de mãos atadas atrás das costas, outros queimados. Uns ao lado de casas, outros no meio da estrada. Todos civis. Pessoas que até à invasão da Rússia à Ucrânia viviam ali em paz, com vidas normais, e que acabaram assassinadas brutalmente pelas tropas russas de Vladimir Putin. A crueldade das fotografias e vídeos vaticina o que já está a ser investigado: crimes de guerra.

Este sábado, ao 38.º dia de guerra na Ucrânia, as tropas de Volodymyr Zelensky recuperaram algumas cidades perto de Kiev, entre elas Bucha, situada a 25 quilómetros da capital ucraniana. As fotografias que têm sido fortemente divulgadas nas redes sociais mostram das suas ruas um cenário de horror. Os jornalistas da AFP que estiveram na cidade contam que viram vítimas de mãos amarradas atrás das costas com faixas brancos (um deles tinha mesmo um passaporte ucraniano aberto ao lado do corpo), outras dentro de carros cravejados de balas e outras caídas ao lado das suas bicicletas, cidadãos atropelados e alguns queimados.

Nas redes sociais, as Forças Armadas ucranianas, políticos e jornalistas têm estado a divulgar várias imagens de forma a mostrar que os russos estão a cometer crimes de guerra.

Dmytro Kuleba, ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, escreve que a Rússia levou a cabo um “massacre deliberado”. “Os russos pretendem eliminar o maior número possível de ucranianos”, afirmou, prometendo deter e expulsar as tropas russas e reiterando que os países do G7 aumentem as sanções ao país.

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Na página oficial do Twitter, as Forças Armadas da Ucrânia partilharam um vídeo da destruição da cidade, filmado de dentro de um dos carros das tropas ucranianas enquanto percorrem as ruas de Bucha e deparam com a devastidão e as vítimas deixadas pelos inimigos. “Cidade ucraniana de Bucha esteve nas mãos de animais russos”, escrevem na publicação, onde se descreve que foram encontrados civis com mãos atadas atrás das costas e que houve civis “executados arbitrariamente”.

Olga Rudenko, jornalista no Kiyv Independent, partilhou uma das imagens de corpos em Bucha e compara o sucedido o homicídio de judeus em Iasi, na Roménia, durante a II Guerra Mundial.

Um mês nas mãos dos russos e os relatos de quem sobreviveu

Anatoliy Fedoruk, o presidente de Bucha que este domingo mostrou a zona a jornalistas, explicou que durante o último mês esta área foi controlada por chechenos que, segundo ele, amarravam os habitantes ucranianos com um pano branco nos pulsos. Há imagens de um cadáver com as mãos amarradas pelo pano branco que parece ter sido baleado na boca. Há outras imagens, captadas pela Reuters, que mostram outras vítimas também com faixas nos pulsos que tentavam fugir em direção ao rio.  “Qualquer guerra tem algumas regras de combate para civis. Os russos demonstraram que estão a matar civis conscientemente”, disse Fedoruk. “Eles praticamente receberam luz verde do (Presidente russo Vladimir) Putin”, denunciou, citado pelo The Jakarta Post.

Com a chegada dos russos à cidade algumas pessoas começaram à procura de formas de fugir. Foi o caso de duas famílias que tentaram abandonar Bucha no dia 5 de março. Nos carros, uma família em cada veículo, iniciaram a viagem. Poucos metros depois, depararam-se com um carro blindado russo.

“O carro parou e eu parei”, conta Halyna Tovkach ao Observer. “Pensei que íamos todos morrer. Aconteceu tudo muito depressa. O meu marido gritou ‘dá a volta, dá a volta’. Nessa altura senti algo a bater no meu ombro direito, uma bala. Empurrei o meu marido para que saísse do carro, mas não se mexeu. Percebi que tinha morrido. Simplesmente abri a porta e corri.” Halyna Tovkach falou com o jornal ainda no hospital. Sabe por pessoas que vivem em Bucha que o corpo do marido ficou pelo menos cinco dias no carro. E não teve mais notícias. “Tenho de o encontrar.”

No outro carro seguia a família dos amigos: pai, mãe e os dois filhos, de oito e quatro anos. Segundo o The Guardian, apenas o pai, Oleksandr Chykmariov, conseguiu sobreviver.

Vasily, de 55 anos, esteve escondido numa cave sem luz e sem aquecimento durante as semanas, conseguindo escapar à agressão militar. Em declarações à Reuters, e sem conseguir conter a emoção, contou como viveu. “Estivemos fechados na cave durante duas semanas. Havia comida, mas não havia luz, não havia aquecimento. Colocámos a água sobre as velas para aquecer, colocámos as garrafas junto ao peito para beber água quente”, recorda, revoltado, entre pedidos de desculpas pelo choro e pelos palavrões.

Um outro habitante ouvido pela Reuters conta que “as pessoas estavam apenas a andar” e que os soldados inimigos “dispararam sem qualquer razão, sem fazer perguntas.” Zelensky, o presidente ucraniano, já o classificou como “genocídio”.

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Mariya Zhelezova foi uma das pessoas que fugiu à morte várias vezes. Conta pelo menos duas. Numa delas viu uma bala entrar pela janela e travar num armário; na outra não viu que havia alguém por perto com uma metralhadora. “Ele disparou, mas falhou”, recorda. “Foi muito assustador.”

A vala comum porque não há espaço nos cemitérios

Anatoly Fedoruk revelou também aos jornalistas a necessidade de abrir uma vala comum para enterrar os 280 mortos que foram encontrados na cidade depois de ser reconquistada pelas tropas russas. Não há lugares nos três cemitérios que permitam enterrar todas vítimas, uma evidência que se tinha tornado real também em Mariupol, uma das regiões mais devastadas pelos ataques russos. “Foram todos baleados”, constatou.

O autarca descreveu que foram vistos 15 ou 20 corpos no chão das ruas da cidade, mas não consegue prever quantas vítimas há: “Não posso dizer quantos mais há nos quintas, atrás das vedações.” Mais do que isso, há uma realidade nova na Ucrânia — anunciada pelo Presidente ucraniano — com que as autoridades têm de lidar: corpos armadilhados. Um novo desafio para os militares ucranianos que já anunciaram que vão começar a varrer as cidades reconquistadas à procura de minas.

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O medo está instalado e a possibilidade de alguns cadáveres terem explosivos foi acautelada pelas autoridades ucranianas, com os soldados a retirarem alguns dos corpos com cabos para evitar explosões. No local, já houve ainda inspeções a objetos suspeitos, que foram marcados com tecidos vermelhos para alertar a população. O autarca aguarda ainda as brigadas de minas e armadilhas para fazer a avaliação na cidade.

Os crimes de guerra que é preciso provar

Sergey Nikiforov, porta-voz do presidente Volodymyr Zelensky, também já reagiu às imagens. São “muito difíceis de descrever”, disse. “Encontrámos pessoas com as mãos e pernas amarradas… e com tiros, buracos de bala na parte de trás da cabeça”, contou, frisando que eram “claramente civis e foram executados”.

“Encontrámos corpos meio queimados, como se alguém estivesse a tentar esconder crimes e não tivesse tido tempo suficiente para o fazer corretamente”, acrescentou, dizendo que tem de “ter cuidado com as palavras”, mas admitindo que parecem ser “exatamente crimes de guerra”.

As imagens de civis mortos em Bucha levaram a rápidas reações sobre a necessidade de se provar que a Rússia está a cometer crimes de guerra, como aliás já tinha sido aventado. O Reino Unido foi o primeiro a anunciar que está a recolher provas para apoiar o Tribunal Penal Internacional na investigação, como o Observador então noticiou. “Os culpados vão ser responsabilizados”, escreveu ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, no Twitter.

Também Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, descreve como “atrocidades” os crimes que estão a ser cometidos na região de Kiev. “Estou chocado com as imagens assombrosas das atrocidades cometidas pelo Exército russo na região libertada de Kiev”.

O presidente do Conselho Europeu prometeu que a União Europeia tem mais sanções e apoio à Ucrânia a caminho, bem como estará a ajudar o país e organizações não governamentais para que sejam investigadas as evidências de crimes de guerra nos tribunais internacionais.

Outros países juntaram-se às vozes de contestação. A Alemanha, por exemplo, juntou-se a outras vozes internacionais para dizer que “este terrível crime de guerra não pode ficar sem resposta”. Robert Habeck, vice-chanceler e ministro da Economia da Alemanha, disse ao jornal alemão Bild que é necessário haver um “fortalecimento das sanções”.

Pessoas enterradas em valas comuns e “corpos no chão” nas ruas em Bucha

O Ministério da Defesa da Rússia partilhou entretanto, no seu canal de Telegram, uma mensagem que dizia que os relatos de civis mortos em Bucha eram “falsos”. Segundo a BBC, essa publicação dizia que os militares russos tinham saído da cidade a 30 de março e que as forças ucranianas bombardearam Bucha após a retirada das forças russas, “o que também poderia ter levado à morte de civis”. A mensagem indicava ainda que, em dois momentos de um vídeo da cidade de Bucha, os cadáveres mexiam-se. Uma ideia negada pela própria BBC, que viu o vídeo em causa.

“Onde estiveram estas imagens durante quatro dias? O facto de não terem aparecido só confirma que são falsas”, lia-se na mensagem, que argumentava ainda que a vala comum encontrada na cidade foi feita pelos ucranianos.

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