A Galp rejeita a acusação de que está a ganhar dinheiro com os consumidores por causa da crise energética e dos preços caros. O presidente executivo, Andy Brown, afirmou mesmo que a empresa teve perdas no primeiro semestre ano para conseguir abastecer de gás os seus clientes na Península Ibérica por causa das falhas de abastecimento por parte da Nigéria. O gestor criticou ainda a decisão do Governo de permitir o regresso de mais de um milhão de consumidores ao mercado regulado do gás para se protegerem dos aumentos, avisando quem regressar que vai ter de enfrentar provavelmente uma subida de preços, porque o contrato de compra à Nigéria que abastece esse mercado também está sujeito a revisões periódicas de preço.

As declarações do presidente da Galp foram feitas esta segunda-feira numa conferência de energia promovida pela CNN Portugal, e onde Andy Brown procurou desmontar os “três mitos” que sustentam a tese de que a Galp está a beneficiar de lucros excessivos que devem alvo de uma taxa extraordinária. E garantiu: “Fazemos pouco dinheiro em Portugal“.

O primeiro mito.  Os lucros no primeiro semestre são excessivos? O gestor lembra que a Galp teve dois anos de grande dificuldades por causa da pandemia e que tem mais de oito mil milhões de capital aplicado. Os lucros são apenas 10% desse capital, o que é um retorno menor do que se verifica na Europa. Destaca ainda que 80% dos cash-flow (meios libertos) tem origem na produção de petróleo, que é feita sobretudo no Brasil e Angola.

Segundo mito. Estamos a lucrar à custa dos consumidores. O gestor desvaloriza os ganhos da Galp em Portugal. “Fazemos pouco dinheiro em Portugal”, apenas 3% dos lucros. E “até perdemos 135 milhões de euros na Ibéria por causa das falhas de abastecimento da Nigéria e apesar dessas perdas nunca deixamos de cumprir os nossos contratos e fornecer gás aos nossos clientes”.

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O gestor aproveita o tema do gás para criticar a recente decisão do Governo de permitir o regresso de 1,3 milhões de clientes de gás à tarifa regulada que é abastecida pela Galp, através dos tais contratos com a Nigéria que, por serem de longo prazo, permitem um preço menos exposto às oscilações do mercado. A Galp diz que este recuo vai trazer mais perdas à empresa e revela que está a discutir o tema com o Governo porque este movimento “afeta os nossos direitos como comercalizador independente”, para além de representar um retrocesso na liberalização do mercado e apoiar alguns pequenos negócios que não precisavam.

Mais de mil pedidos por dia para voltar à tarifa regulada do gás. O que pode acontecer se tiver a luz no mesmo contrato?

Andy Brown avisa ainda que o gás que a Galp está a comprar este ano à Nigéria não tem o mesmo preço do que aquele que determina as tarifas reguladas de gás natural, e que está muito abaixo do preço de mercado. E que estes contratos têm uma revisão periódica dos preços, pelo que estes podem subir.

Compreendendo a frustração das pessoas que querem voltar à tarifa regulada e esbarram com tempos de espera e falhas no atendimento, sinaliza que os comercializadores de último recurso estavam apenas a gerir 2% dos consumos — porque as tarifas reguladas deviam acabar em 2025 —  Não têm capacidade para gerir todos os pedidos, apesar dessa capacidade estar a ser reforçada. E pediu às pessoas que querem regressar à tarifa regulada do gás para serem pacientes

Porque resiste tanto o Governo a criar uma taxa sobre os lucros inesperados

Terceiro mito. Os lucros da Galp devem ser mais taxados em Portugal. Começando por agradecer as palavras do ministro das Finanças na semana passada no Parlamento — em Fernando Medina explicou as reservas a esta solução — , Andy Brown destaca que o peso fiscal já é muito elevado em Portugal, o que representa uma desvantagem na Europa.  E assinala que a Galp gastou mais de mil milhões de euros nas refinarias apesar das perdas que levaram ao fecho da refinaria de Matosinhos. “Os nossos acionistas andaram a financiar as refinarias”. A refinação, atividade cujos resultados podem ser taxados em Portugal, apresentou lucros este ano, mas de acordo com Bruxelas esses lucros adicionais têm de pagar uma taxa de 33%.

Numa cimeira onde o tema central é a transição energética, o presidente executivo da Galp defendeu que a principal razão para a escalada dos preços que estamos a viver não é a guerra da Ucrânia, pois os preços já estavam a subir antes, mas sim a falta de investimento no petróleo e no gás natural e uma transição energética lenta. E avisou que esta será a primeira crise energética da transição das energias fósseis porque há ainda muitos estrangulamentos no acesso a matérias primas essenciais como o cobre e o lítio. E estamos muito atrasados no licenciamento destes projetos.

Esta crise mostrou que ainda estamos muito dependentes dos combustíveis fósseis, pelo que “demonizar os investimentos em petróleo” não é uma boa maneira de estimular a transição. Portugal pode jogar a sua parte, a Galp está envolvida em projetos de produção de lítio e hidrogénio verde, mas é imperativo que os governos e as empresas trabalhem juntos para criar um quadro que facilite o licenciamento e garanta um ambiente de negócios que atraia. Para que a que energia de fontes renováveis possa cumprir os três pressupostos fundamentais da energia. Estar disponível, ser acessível e ser sustentável, concluiu.