O Chipre pediu ajuda às Nações Unidas para conter a “avalanche” dos migrantes do norte da ilha, controlada pela Turquia, que atravessam uma zona tampão controlada pela ONU em direção à parte grega, anunciou esta segunda-feira o ministro do Interior.
O ministro, Nikos Nouris, adiantou que 94% dos 15.130 requerentes de asilo que apresentaram pedidos ao Governo internacionalmente reconhecido da ilha até agosto deste ano vieram através da zona tampão.
O número representa o dobro do número do registado no mesmo período do ano passado, atingindo valores com que as autoridades admitem “não conseguir lidar”.
Nouris estará esta semana em Nova Iorque, para se reunir com o chefe de gabinete do secretário-geral da ONU, Courtenay Rattray, e com o subsecretário-geral da ONU para as Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix, e informá-los sobre a situação.
Nouris reconheceu que a missão de paz que a ONU mantém há 58 anos no Chipre não tem mandato para realizar operações destinadas a interromper o fluxo de migrantes na zona tampão, mas lembrou que a organização internacional tem jurisdição exclusiva sobre toda a área desmilitarizada, que soma cerca de 180 quilómetros.
Quero perceber como veem a questão das travessias que estamos a enfrentar”, explicou Nicos Nouris, citado pela agência de notícias Associated Press.
A zona tampão foi criada na sequência de uma invasão turca, em 1974, desencadeada por um golpe da Grécia para controlar a ilha.
Apenas a Turquia reconhece a declaração de independência dos cipriotas turcos do norte do Chipre, onde muitos migrantes desembarcam.
O ministro do Interior do Chipre adiantou ainda que três vilas cipriotas gregas situam-se nessa zona tampão da ONU, classificando-as como “pontos cegos”, onde as autoridades cipriotas não têm acesso e não conseguem controlar as passagens de migrantes.
Noutras regiões da zona, as autoridades do Governo do Chipre estão a colocar barreiras, incluindo cercas de arame farpado e sistemas de vigilância de alta tecnologia, além de tem uma unidade de patrulha com 300 militares para obstruir as travessias.
O Chipre aderiu à União Europeia em 2004, mas a zona tampão não é considerada uma fronteira externa da UE.
Nouris referiu que o bloco de 27 países reconheceu formalmente a zona tampão como uma porta de migração irregular e autorizou as autoridades cipriotas a interromper as travessias através de todos os meios empregados nas fronteiras externas.
O Chipre tem o maior número “per capita” de requerentes de asilo na UE, sublinhou o ministro, acusando a Turquia de canalizar migrantes para a ilha.