Será um comboio de naves extraterrestres? Será o Pai Natal e as renas a treinar para o Natal? Não, são os satélites de internet de Elon Musk e foram vistos esta noite não só em Portugal como em outras localizações do hemisfério norte — incluindo a Capadócia, na Turquia.

A explicação até é simples: este sábado, depois das 19h30 em Cabo Canaveral (Flórida, Estados Unidos) — já depois da meia-noite em Lisboa —, o foguetão Falcon 9 da SpaceX (a empresa espacial de Elon Musk) lançou mais 52 satélites Starlink para uma órbita baixa da Terra. E alguns observadores conseguiram ver não só o enxame de satélites a cruzar o céu noturno, como o próprio lançamento.

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A Starlink promete ser “a maior constelação de satélites do mundo a utilizar uma órbita terrestre baixa para fornecer internet por satélite de banda larga”, lê-se no site da empresa onde são anunciados os serviços para utilizadores domésticos e empresas, mas também para autocaravanas e embarcações. No futuro, Elon Musk quer fornecer internet também às aeronaves.

Nos próximos cinco dias, pelo menos, não será possível ver nenhum enxame Starlink a partir de Portugal, mas poderá sempre seguir onde estão os satélites com esta ferramenta em tempo-realFindStarlink. Desde 2018, já terão sido colocados três mil satélites em órbita, num total que poderá chegar aos 10 mil ou 12 mil no futuro, de acordo com a BBC.

Satélites da Starlink de Elon Musk permitem às famílias ucranianas manter o contacto

Fornecer internet onde esta é limitada

O objetivo da missão é levar internet aos locais onde possa ser mais difícil — e, até, mais importante — tê-la. Foi assim desde o início da guerra da Ucrânia: depois de os russos terem destruído antenas e cortado as comunicações em algumas regiões, a SpaceX, a agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional e outras empresas privadas ofereceram milhares de kits de acesso à internet (que incluem um tipo de antena parabólica portátil), permitindo às forças militares ucranianas manterem contacto com os comandos, mas também com a família.

É este acesso sem restrições que faz com que a SpaceX queira fornecer internet no Irão — e, ainda esta sexta-feira, o governo dos Estados Unidos autorizou as empresas privadas norte-americanas a aumentar a cobertura de internet no Irão apesar das sanções impostas, noticiou a Al Jazeera. O acesso a sites na internet e às redes sociais são limitados no Irão, mas foram ainda mais condicionados na tentativa do governo para conter os protestos depois da morte de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos que morreu depois de detida pela polícia por não usar corretamente o véu islâmico.

Licença especial para aumentar internet no Irão

“Tomamos medidas [a 23 de setembro] para promover a liberdade na internet e o fluxo livre de informação para o povo iraniano, emitindo uma Licença Geral para fornecer maior acesso a comunicações digitais para combater a censura do governo iraniano”, disse Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano. “Ativando Starlink…”, respondeu Elon Musk — Twitter

Os satélites Starlink, ao contrário da generalidade dos satélites em órbita na Terra, estão relativamente próximos da superfície terrestre, a cerca de 550 quilómetros de altitude (pouco mais de metade da distância dos satélites normais, a cerca de 1.030 quilómetros). Estando mais próximos, a ligação entre os satélites e os utilizadores será mais rápida. Além disso, pode chegar aos desertos, montanhas e outros locais remotos sem necessidade de infraestruturas montadas, como cabos e antenas.

Mas nem tudo são vantagens nestes enxames de satélites numa órbita baixa da Terra, sejam os de Elon Musk ou de outras empresas que o queiram fazer no futuro, como a Amazon. Primeiro, numa órbita tão baixa aumentam os riscos de colisão com outros objetos lançados pelo homem para o espaço — em caso de acidentes, os detritos podem viajar a uma grande velocidade e causar ainda mais estragos.

Elon Musk já revelou quanto vai custar a internet que vem do espaço

Em segundo lugar, se a órbita mais baixa ficar congestionada com satélites e fragmentos pode deixar de ser possível usá-la e será até difícil lançar outros foguetões para o espaço, que atravessem esta cintura de metal, pelo risco de colidir com qualquer um destes objetos.

E, por fim, mas não menos relevante, a presença deste enxames de satélites, altamente brilhantes ao nascer e pôr do sol, como os relatos deste fim de semana demonstraram, cria problemas aos astrónomos: estes objetos espelhados que refletem a luz do Sol dificultam a observação das estrelas e planetas e interferem no funcionamento dos telescópios.