Desde o início da guerra, Vladimir Putin ameaçou, mais do que uma vez, recorrer a armas nucleares para defender o território russo. O Presidente da Rússia disse estar pronto para utilizar esse armamento, aumento o receio de que possa usar armas nucleares táticas na Ucrânia.

Com as forças russas a perderem terreno na Ucrânia — nomeadamente a cidade de Lyman — foi a vez de Ramzan Kadyrov, líder da Chechénia, defender que Moscovo deveria ponderar a utilização de armas nucleares de alcance limitado no país invadido.

Mais pequenas do que as armas nucleares estratégicas, as táticas foram concebidas para serem utilizadas em campos de batalha ou ataques limitados, por exemplo, para destruir uma coluna de tanques ou outras instalações militares.

De acordo com a BBC, este tipo de pequenas ogivas nucleares são desenhadas para destruir alvos inimigos sem causar dispersão de radioatividade generalizada. Com uma capacidade de poder explosivo de 10 a 100 quilotoneladas de dinamite estas armas também são chamadas de “baixo poder”.

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Porém, atualmente, a maioria das armas nucleares são de rendimento variável (“dial-a-yield”), o que significa que a quantidade de energia explosiva pode ser aumentada ou diminuída, dependendo da situação e dos objetivos militares.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a ameaça nuclear russa. 

Quão real é a ameaça nuclear de Putin?

Para os especialistas, o principal objetivo das armas nucleares táticas acaba por ser estratégico: ganhar vantagem num conflito e aterrorizar o inimigo. James Mattis disse que não existe “qualquer coisa como uma arma nuclear tática”.

Segundo a CNN, o antigo secretário da Defesa dos EUA explicou, em 2018, que “qualquer arma nuclear utilizada em qualquer altura é uma mudança estratégica do jogo”.

Quantas armas nucleares táticas tem a Rússia e como é que podem ser lançadas?

O Bulletin of the Atomic Scientists, uma organização sem fins lucrativos que afirma “informar o público acerca das ameaças à sobrevivência e ao desenvolvimento da humanidade decorrentes das armas nucleares”, estimou que a Rússia tenha cerca de 2.000 armas nucleares táticas.

Este tipo de ogiva nuclear pode ser disparado de aeronaves e navios, mas também pode ser lançado de vários tipos de mísseis de curto alcance (geralmente abaixo dos 500 quilómetros), como o que Iskander-M, têm sido usados pelas forças russas para bombardear várias regiões da Ucrânia.

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As armas nucleares táticas foram, no entender de Nina Tannenwald, professora sénior de relações internacionais na Brown University (EUA), desenvolvidas durante a Guerra Fria com o objetivo de “melhorar” a dissuasão nuclear.

A especialista sustentou a sua opinião, em declarações à Euronews Next, explicando que a “ameaça de usar” armas nucleares mais pequenas e menos destrutivas era mais “credível” porque essas são “menos prejudiciais” e a dissuasão “seria mais forte”.

Por oposição, se algum país tiver armas nucleares “realmente grandes”, as “pessoas vão ter muito medo de usá-las”, uma vez que são “muito destrutivas”. Por isso, a “ameaça dissuasiva” a dada altura é menos credível.

Desta forma, o desenvolvimento dessas armas táticas fez parte de um esforço que existiu para superar as preocupações de que, como os ataques nucleares em larga escala eram vistos como impensáveis, as armas nucleares estratégicas estavam a perder o seu valor como um impedimento para uma guerra.

Este tipo de armamento já foi utilizado?

As armas nucleares táticas nunca foram usadas em conflito, avança a BBC que refere os vários motivos que explicam essa não utilização.

A primeira razão é que tanto os EUA como a Rússia consideram que este tipo de ogiva nuclear é tão eficaz para destruir alvos no campo de batalha quanto as munições convencionais modernas.

Para além disso, o mesmo site considera que até ao momento nenhum país detentor de armas nucleares esteve disposto a desencadear uma guerra nuclear total, embora a Rússia pareça estar disponível para utilizar ogivas nucleares mais pequenas em vez de mísseis estratégicos maiores.

A possibilidade de a Rússia utilizar armas nucleares táticas é explicado por Patricia Lewis como a possibilidade de o país não ver isso “como ultrapassar um grande limite nuclear”. As forças russas podem ver a utilização desse tipo de armamento como “parte das suas forças convencionais”, acrescentou a chefe do programa de segurança internacional do think tank Chatham House em declarações à BBC.