Muitos construtores apostam na Fórmula 1 (F1), a categoria mais cobiçada do desporto automóvel, mas nem todas as marcas acham que é a modalidade ideal para estar presente e impor a sua imagem e tecnologia. A Ferrari, Mercedes, Alpine-Renault, Honda, Alfa Romeo e Aston Martin – as primeiras quatro participando com equipas e mecânicas próprias, enquanto as duas últimas surgem somente como patrocinadores – já fazem parte da grelha de partida, a que se querem juntar muito em breve a Audi, com a Porsche a pretender igualmente aderir à categoria rainha do desporto com quatro rodas. A BMW, pelo seu lado, optou pelo Campeonato do Mundo de Resistência (WEC, de World Endurance Championship), com os seus responsáveis a afirmar que nem pensam na F1.
A opção da BMW não deixa de causar alguma estranheza, uma vez que os principais rivais alemães ou estão na F1 ou em vias de entrar e, tradicionalmente, há uma marcação cerrada entre Audi, BMW e Mercedes. Mas o responsável pelo departamento de Competição da BMW, Andreas Roos, entende que é preciso ser “realista” e ter em conta que “o investimento na F1 é enorme e, para esse compromisso ter retorno, é necessário ter sucesso durante muito tempo”. Daí que Roos tenha afirmado: “Estamos muito satisfeitos com o actual leque de apostas na competição.”
O responsável germânico tem alguma razão na sua análise, uma vez que se a F1 atrai muito mais público, não só em pista como através das transmissões televisivas, a realidade é que todas as equipas de F1 têm um tecto máximo de 143 milhões de euros, fasquia que, pelo menos em 2021, foi ultrapassada por duas equipas, uma das quais a campeã Red Bull. Por outro lado, a Federação Internacional do Automóvel (FIA) garante que uma equipa com dois carros para se bater pela vitória no WEC necessita de somente 20 milhões de euros, um valor incomparavelmente inferior. Em parte, porque o Mundial de F1 inclui este ano 22 fins-de-semana de corridas, visitando outros tantos países, enquanto o WEC se limitou a seis corridas em 2022.
A BMW defende que o sistema de electrificação dos actuais carros do WEC, na classe LMDh, os híbridos que disputam a vitória, está mais próximo dos carros que vende ao público e daí que seja tecnológica e comercialmente mais estimulante. Mas este construtor, que já disputou no passado 72 provas de F1, alcançando apenas uma vitória e 17 lugares no pódio, não vai ter uma vida fácil no WEC.
Actualmente, este campeonato de resistência vive de quatro construtores: Toyota (que hoje vence tudo) e Peugeot (que este ano está a disputar algumas corridas), ambos com híbridos, enquanto a Alpine e a Glickenhaus usam só com motores de combustão. Mas em 2023 a grelha estará mais composta, com os híbridos que podem vencer a usufruir da chegada da Ferrari e da BMW, esta última com um chassi desenhado pela Dallara e um motor 4.0 V8 biturbo associado a um motor eléctrico com 272 cv, da Williams Advanced Engineering. Em 2024, o WEC deverá acolher ainda a Lamborghini, a Alpine (que fará o upgrade dos actuais carros em que compete para os novos e mais rápidos híbridos LMDh) e os americanos da Cadillac. As próximas épocas prometem ser substancialmente mais competitivas.