A pensar nos que cumprem grandes distâncias, mas para quem viajar deve ser sinónimo de prazer, a Maserati concebeu o GranTurismo, um coupé de duas portas e quatro lugares que tem a capacidade de se “transfigurar” para se adaptar ao gosto do cliente, continuando a ser esplendoroso nos seus 4,97 metros de comprimento. Isto porque a nova criação do fabricante italiano foi projectada desde o momento zero para poder receber motores a combustão ou motores eléctricos e respectiva bateria, sem que uma ou outra opção pudessem limitar o luxo ou o conforto a bordo. O resultado assume não uma, mas sim três expressões, consoante se privilegie a elegância, a desportividade ou a mobilidade zero emissões, respectivamente representadas nas versões Modena, Trofeo e Folgore.

Com uma decoração específica, as duas primeiras recorrem ao mesmo motor que anima o MC20, o V6 Nettuno acoplado a uma transmissão automática de oito relações da ZF para passar às quatro rodas 496 cv (365 kW), no caso do GranTurismo Modena, ou 557 cv (410 kW) para o GranTurismo Trofeo. Esta potência é claramente esmagada na variante eléctrica, apesar desta não anunciar os prometidos 1200 cv de que a Maserati sempre falou aos jornalistas. Percebe-se agora que a marca se referia à soma da potência dos três motores eléctricos com 300 kW (408 cv) cada, mas a potência combinada limita-se a “apenas” 761 cv (560 kW), com um binário máximo de 1350 Nm. Dadas as dimensões e os dados técnicos agora anunciados, o Maserati GranTurismo Folgore perfila-se como um forte adversário para combater o Porsche Taycan Turbo S. Mas, antes dessa comparação, convém perceber por que razão a versão a bateria é melhor que as opções térmicas.

Eléctrico é mais pesado, mas a potência compensa

Todos os GranTurismo oferecem tracção integral e estão equipados com uma suspensão independente de triângulos sobrepostos à frente e multilink atrás, com amortecedores controlados electronicamente.

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Além do estilo e dos acabamentos, as principais diferenças entre as três versões do novo GranTurismo encontram-se ao nível das prestações. O Modena pode cativar pela elegância, mas é assumidamente o mais moderado dos três, limitado que está a uma velocidade máxima de 302 km/h, depois de passar pelos 100 km/h ao fim de 3,9 segundos. Os 0-200 km/h fixam o cronómetro nos 13 segundos. Já o Trofeo oferece um pouco mais de força, mais 50 Nm de binário que o Modena (650 Nm às 3000 rpm) e, como também é mais potente, só poderia reclamar prestações mais competitivas. Daí que a velocidade de ponta suba para 320 km/h, tal como acontece com o Folgore, enquanto a barreira dos 100 e dos 200 km/h com arranque parado é superada em escassos 3,5 e 11,4 segundos, respectivamente. Para uma imobilização completa, de 100 a 0 km/h, quer o Modena quer o Trofeo conseguem parar em menos de 35 metros.

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Ambos pesam 1795 kg, massa que é distribuída na proporção de 52/48. Ora, nesta relação, o Folgore sai a perder e ganhar. Perde, porque as baterias pesam, levando a variante eléctrica a acusar 2260 kg quando colocada sobre a balança. É um acréscimo de 465 kg, suavizado pela distribuição ideal da massa pelos dois eixos (50/50) e, claro, por uma mecânica muito mais potente.

Com mais do dobro do torque e para cima de duas centenas de cavalos de vantagem face ao GranTurismo Trofeo, o Folgore só não lhe ganha na velocidade máxima (obviamente limitada) e… na capacidade da bagageira. Com dois motores a accionar cada uma das rodas posteriores e um no eixo dianteiro, a variante a bateria do GranTurismo acomoda menos 40 litros na bagageira do que os manos equipados com o V6 Nettuno (310 litros contra 270 litros). Mas isso facilmente se esquece quando, por exemplo, se tem presente que este Folgore é francamente melhor em tudo o resto. Os 0-100 km/h ficam para trás em 2,7 segundos, os 200 km/h atingem-se em 8,8 segundos e a velocidade máxima, convém notar, fica apenas 2 km/h abaixo do Tesla Model S Plaid, que é tão só a referência e, para mais, é muito mais potente (1020 cv).

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Então, e a Porsche? Ganhou uma dor de cabeça à italiana?

O construtor de Estugarda construiu a sua reputação com desportivos, tendo no 911 o modelo mais emblemático dessa sua vocação, apesar de hoje em dia a sua “força” de vendas residir basicamente em SUV. O Taycan foi o primeiro modelo a bateria da Porsche, tal como o GranTurismo é o primeiro coupé 100% eléctrico a envergar o emblema do tridente. Vem isto a propósito daquilo que a Maserati, tradicionalmente uma marca mais associada ao luxo italiano do que a um carácter desportivo, conseguiu alcançar na sua primeira incursão pelos veículos a bateria. E não é pouco, se comparado com o Taycan Turbo S.

Para começar, ambos têm exactamente a mesma potência, mas o Maserati disponibiliza mais binário (1350 Nm versus 1050 Nm). Depois, o construtor italiano conseguiu a proeza de pesar muito menos, apesar de recorrer a um acumulador quase idêntico aos do Porsche. O modelo alemão monta uma bateria com uma capacidade total de 93,4 kWh e 83,7 kWh utilizáveis, enquanto o acumulador do Folgore, disposto em T, tem uma capacidade bruta de 92,5 kWh, dos quais 83 kWh são úteis. Ainda assim, pesa menos 110 kg que o rival alemão, com uma aerodinâmica muito similar (Cx de 0,25 para o Porsche e 0,26 para o Folgore).

O Maserati triunfa por pouco nos 0-100 km/ h (2,7 segundos contra 2,8 do Taycan), mas vence claramente no capítulo da velocidade de ponta, pois o Porsche não progride para além dos 260 km/h, enquanto o Folgore continua alegremente a acelerar até colocar o velocímetro nos 320 km/h.

Em matéria de carregamento, mesmo usufruindo do know-how da Rimac, a Porsche também não consegue impor a supremacia do seu Taycan Turbo S. Graças a uma arquitectura eléctrica a 800V, quer este quer o GranTurismo Folgore aceitam carga rápida até 270 kW, condição em que o Maserati diz conseguir armazenar energia para mais de 100 km em apenas 5 minutos. Depois, o coupé italiano aceita carga em corrente alternada até 22 kW, o dobro do Porsche, o que significa que o tempo de recarga em AC será perto de metade das 9 horas exigidas pelo Taycan.

De referir que a Maserati ainda não se pronunciou definitivamente acerca da autonomia deste Folgore, correndo rumores de que estará apontada a 500 km de alcance entre recargas. O Taycan Turbo S anuncia 469 km. O GranTurismo Modena e Trofeo deverão chegar ao mercado no 2.º trimestre de 2023, para a versão eléctrica Folgore estar agendada mais para o final do ano.