Um longo atraso na chegada ao Velódrome, um aquecimento meio à pressa, uma entrada retardada que deixou os responsáveis franceses à beira de um ataque de nervos no túnel de acesso ao relvado mas que nem por isso retirou o sorriso à equipa, um primeiro ataque que conseguiu explorar todas as debilidades sem bola do Marselha, o golo inaugural no primeiro minuto. O Sporting dificilmente poderia ter um início mais conseguido dentro do contexto que enfrentava. Mais: até aos dez minutos, altura em que Edwards isolou Pedro Gonçalves mas o remate saiu à figura de Pau López, existia a perspetiva clara de que as contas da fase de grupos da Liga dos Campeões poderiam ficar quase fechadas. A partir daí, tudo o que podia correr mal, correu ainda pior. E foi essa lei de Murphy que levou à goleada e ao reabrir das contas, mexendo em parte com uma equipa que quebrou no segundo tempo do último jogo com o Santa Clara.

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“Obviamente que o jogo em França equilibra mais o grupo e deixa todas as equipas com oportunidade de passar. Volto a dizer, há que não perder noção do que é o nosso grupo. Para todo o que era o contexto, e se calhar éramos a equipa que menos gente contava em passar, nós estamos na luta. Não vamos pensar em não fazer pontos, queremos ganhar os três pontos. Uma semana depois toda a gente vai lembrar-se do jogo passado e isso é importante porque considero que entrámos bem. As sensações que ficaram enquanto estivemos 11×11, com o 1-1 e o 2-1, quando o Adán estava a recuperar do primeiro momento, mesmo aí fomos sempre perigosos. Isso ficou certamente na cabeça dos jogadores, fizemos questão de mostrar muito desses 26 minutos. Não podemos estar desconcentrados mas sei que somos capazes de vencer o Marselha, não tenho dúvidas”, comentara na antecâmara do jogo Rúben Amorim.

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No entanto, e apesar dos elogios até esse momento de expulsão do guarda-redes espanhol que abria agora a possibilidade de Franco Israel ser titular pela primeira vez esta temporada (“mais do que preocupados, estamos entusiasmados”, destacou Amorim), a resposta do Sporting sobretudo no segundo tempo frente ao Santa Clara esteve longe de ser a desejada – e foi mesmo Adán que salvou em fases decisivas a equipa verde e branca perante a reação dos açorianos. Mais: a seguir ao triunfo frente ao Gil Vicente tinha havido uma conversa de Amorim com os jogadores por outro golo sofrido em período de compensação por mais uma falta de concentração coletiva que já antes dera o espaço para Boselli acertar na trave.

“Volto a dizer: talvez em certos momentos do jogo as personalidades que temos no plantel são diferentes mas tem acontecido com jogadores experientes, com jogadores menos experientes. Há algumas coisas que temos de melhorar. A nossa forma de jogar também mudou. É verdade que num ou noutro dia têm sido erros pouco habituais na equipa mas na segunda parte do jogo com o Santa Clara, em que ganhámos, foi algo global, em termos da nossa concentração e intensidade. Com o Marselha foi completamente diferente e em ambos os jogos houve erros. Quem observar, cada jogo tem a sua história e no jogo com o Marselha isso não aconteceu. Com o Santa Clara foi diferente, pensámos que o resultado já estava feito e isso para mim é mais preocupante. Temos de crescer como equipa, é essa a avaliação que faço. Temos de ser mais rigorosos durante os 90 minutos, em cada jogo temos errado ou de uma maneira ou de outra e o que nós temos de fazer é evitar esses erros”, assumira o técnico dos verde e brancos a esse propósito.

Havia uma mudança forçada na baliza com a entrada de Franco Israel para o lugar do castigado Adán, uma outra obrigatória por mais uma lesão de St. Juste, mais uma quase natural com a recuperação física de Pedro Porro que não se confirmou (o espanhol começou no banco), a dúvida sobre quem estaria no ataque entre quatro opções possíveis. Mais do que nomes, e polémicas com Nuno Tavares à parte, havia o desafio à equipa do Sporting no sentido de corrigir erros que podiam ou não custar pontos mas continuavam a existir. Continuavam e continuam, desta vez até com maior gravidade. E a época de Ricardo Esgaio, que cumpria o jogo 100 pelos leões, teve mais um capítulo para esquecer com dois amarelos e um penálti ainda nos 20 minutos iniciais que atiraram o Sporting para nova lei de Murphy onde o que podia correr mal, correu ainda pior. A expulsão de Pote por protestos, a incapacidade ofensiva que a equipa mostrou e os erros da linha defensiva deixam muito por explicar mas tudo começou nos erros do lateral.

Ficha de jogo

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Sporting-Marselha, 0-2

4.ª jornada do grupo D da Liga dos Campeões

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Alejandro Hernández Hernández (Espanha)

Sporting: Franco Israel; Gonçalo Inácio, Coates (José Marsà, 35′), Matheus Reis; Ricardo Esgaio, Ugarte, Morita (Fatawu, 22′), Nuno Santos (Porro, 59′); Francisco Trincão (Nazinho, 46′), Marcus Edwards (Alexandropoulos, 35′) e Pedro Gonçalves

Suplentes não utilizados: André Paulo, Diego Callai, Rochinha, Paulinho e Arthur Gomes

Treinador: Rúben Amorim

Marselha: Pau López; Mbemba, Balerdi, Bailly (Gigot, 64′); Clauss (Kaboré, 64′), Veretout (Papa Gueye, 87′), Rongier, Guendouzi (Cengiz Ünder, 64′), Nuno Tavares; Harit (Payet, 72′) e Alexis Sánchez

Suplentes não utilizados: Simon Ngapandouetnbu, Blanco, Gerson e Luis Suárez

Treinador: Igor Tudor

Golos: Guendouzi (20′, g.p.) e Alexis Sánchez (30′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Guendouzi (8′), Ricardo Esgaio (16′ e 19′), Bailly (43′), Ugarte (54′), Pedro Gonçalves (60′ e 61′) e Porro (74′); cartão vermelho por acumulação a Ricardo Esgaio (19′) e Pedro Gonçalves (61′)

O encontro começou com o equilíbrio esperado, com um Marselha mais capaz de ter bola em circulação por trás sem com isso tirar dividendos, com um Sporting a procurar os espaços na profundidade para explorar a velocidade das unidades mais adiantadas mas com tudo discutido no meio-campo. Sem oportunidades, sem balizas, sem sequer áreas. E tudo apontava para que assim continuasse até que, em dois minutos, Ricardo Esgaio começou a puxar o azar para os leões: primeiro, viu um amarelo por tocar com o braço na cara de Nuno Tavares ao discutir uma bola pelo ar (16′); a seguir, e em vez de fazer o movimento na diagonal, arriscou antecipar-se a Harit, fez falta sobre o marroquino, cometeu um penálti convertido por Guendouzi (com a bola a bater ainda no poste por dentro) e foi expulso por acumulação de amarelos (18′).

As lágrimas de Esgaio (que se lesionou na perna no mesmo lance) mereciam o conforto dos companheiros de equipa mas não corrigiam o que se tinha passado. Rúben Amorim, tentando perceber o que poderia de seguida dar o encontro, tentou corrigir com a entrada de Fatawu para fazer a ala direita e a saída de Morita no meio-campo, promovendo o respetivo recuo de Pedro Gonçalves (22′). A ideia poderia perceber-se na teoria mas não resultou na prática, com o Marselha a dominar por completo, a não conceder hipóteses de saída aos leões, a controlar a profundidade que Edwards e Trincão procuravam e a chegar mesmo ao 2-0 em cima da meia hora: Harit conseguiu fazer a diagonal para receber nas costas da defesa leonina, Alexis Sanchéz (que antes forçara Franco Israel a defesa apertada após remate de longe) encostou isolado na pequena área, o golo foi inicialmente anulado por fora de jogo mas o VAR validou o lance (30′).

Mais um golo sofrido, mais uma alteração. Ou melhor, duas. Coates, que aparentava ter uma lesão na zona da coxa, deu lugar a José Marsà. Marcus Edwards, que à partida não parecia ter nenhum problema físico, foi também sacrificado para a entrada de Alexandropoulos (35′). Mesmo com dois golos de desvantagem, Rúben Amorim considerava que era mais importante voltar a equilibrar a equipa para mais à frente ir em busca de algo mais do que manter a solução em que Pote fazia de Morita. Até ao intervalo, fosse porque o Marselha também não acelerou muito ou porque a equipa leonina melhorou, Trincão fez o único remate para defesa fácil de Pau López (37′) e só Veretout deixou uma ameaça de longe (45′).

Após o intervalo, mais uma substituição pouco compreensível a não ser por questões físicas: Francisco Trincão, o melhor (ou menos mau) da formação verde e branca, saiu para a entrada de Nazinho e mais um carrossel de mudanças no mesmo 3x4x2 que passava a ter Pedro Gonçalves e Nuno Santos na frente. Ia ser isso a mudar alguma coisa? Nem por isso. Matheus Reis ainda teve um remate desviado por um defesa para canto, Fatawu desviou de cabeça ao lado e estava dado o último sinal de perigo do Sporting até final mais uma vez por culpa própria, com Pedro Gonçalves a ter uma falta despropositada sobre Balerdi, a ver amarelo, a protestar com o espanhol Alejandro Hernández e a ser mesmo expulso de seguida (60′).

Se dúvidas ainda existissem, a última meia hora voltava a ser mais um exercício de sacrifício de nove contra 11 que tinha como único objetivo a baliza de Franco Israel tendo em conta a natural incapacidade de fazer chegar bola até ao último terço contrário. O jovem guarda-redes leonino ainda teve uma boa defesa após cabeceamento de Harit na área e viu Payet atirar perto da trave de meia distância mas os minutos foram passando com a resistência verde e branca a aguentar o 2-0 e alguns jogadores a não terem ainda a noção de que o árbitro espanhol não dava grande margem para evitar novas expulsões por protestos se tivesse essa necessidade. Cengiz Ünder, com um remate que passou muito perto da baliza de Israel (82′), e José Marsà, num corte para o próprio poste (84′), deram ideia de golo mas o 2-0 iria manter-se.