Depois dos dias longos e noites quentes, o outono traz também uma magia sem igual: temperaturas mais amenas, a chegada das neblinas matinais, árvores que se vestem de tons fogosos e, lá para novembro, o aconchegante e nostálgico aroma das primeiras lareiras. É a época de frutos que nos aconchegam ainda mais a alma do que o estômago, como o dióspiro, a castanha ou o marmelo e, ao dizer-nos que frutos devemos comer, o outono ensina-nos sobre o que devemos procurar num vinho para beber nesta altura: estrutura, envolvência e corpo, sem esquecer o equilíbrio e a frescura que caracterizam uma acidez bem “casada” com a riqueza de sabores. Estes 6 vinhos — alguns deles, novidade absoluta no mercado — são assim mesmo, perfeitos para experimentar neste tempo de mudança.

Vale dos Ares “em Borras Finas” Alvarinho branco 2019

Vinho Verde Monção e Melgaço, MQ Vinhos, 13,5%, €15,99

Este Alvarinho de Monção e Melgaço estagiou durante 18 meses sobre as borras finas que ficaram da fermentação, o que lhe deu complexidade e estrutura. A sugerir notas cítricas nobres, de laranja e toranja, conjuga-as com um floral delicado, combinação que é traço comum nos Alvarinhos ambiciosos desta sub-região. Elegante, mas sólido em simultâneo, é nervoso na acidez, bem fresco e persistente. Pela sua solidez, fica bem ao lado dos pratos menos leves que já começamos a consumir no outono.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

(5*) Um branco superior, com uma excelente relação qualidade-preço, infalível.

Bruno Aleixo Clarete Baga tinto 2021

Bairrada, Quinta da Lagoa Velha, 12%, €19,99

Os produtores Herdade do Rocim (Vidigueira, Alentejo) e Quinta da Lagoa Velha (Anadia, Bairrada), juntaram-se para fazer um vinho Bairrada em parceria com Bruno Aleixo, personagem humorística animada e retratada na garrafa, co-criada pelo bairradino João Moreira, que lhe dá a voz. O “vinho do Bruno Aleixo” é um tinto clarete (menos cor, álcool reduzido) da casta Baga, a principal da região, e o seu perfil, além da leveza inerente a um clarete, lembra em tudo a estação outonal nas notas lenhosas e de ginja, com alguma especiaria delicada. Puro e com ótima acidez natural, é agradavelmente seco e muito fácil de beber. E fica bem com castanhas. Deve servir-se a uma temperatura mais baixa, nos 13 ou 14ºC.

(3*) Embora não seja um vinho complexo e de grandes ambições, vale pela frescura e leveza, que não lhe tiram sabor. Para quem é fã de Bruno Aleixo, a garrafa é um autêntico totem.

Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado branco 2017

Dão, Soc. Agr. De Santar, 13,5%, €24,90

A vila de Santar é uma pequena pérola da região do Dão, com casas seculares em granito e românticos jardins protegidos por um mar de vinhas. Este branco de Encruzado, a uva branca rainha da região, tem origem numa vinha muito especial da Casa de Santar, a Vinha dos Amores, cuja visita de jipe faz parte do novo e excelente projeto de enoturismo da empresa. Para quem deseja visitar o Dão vitivinícola e ter uma experiência premium, é imperdível. Quanto ao vinho, é um Encruzado com fermentação e estágio em barrica, gordo na textura e em ótima consonância com a madeira, que lhe deu apenas a micro-oxigenação necessária para elevar os sabores e aromas – de fruta de caroço, como alperce, e algum tropical – e dar estrutura. Um branco com presença e postura.

(4*) É um estilo de branco bastante consensual, todo-o-terreno, que se sai bem tanto a solo como ao lado de uma grande variedade de comidas, dos petiscos mais simples, como amêndoas torradas ou queijos, aos pratos mais ricos como peixes bem condimentados e com molhos.

AdegaMãe Parcela Amarela Viosinho branco 2019

Regional Lisboa, AdegaMãe, 12,5%, €20

A AdegaMãe tem contribuído, em várias frentes, para a afirmação da região de Lisboa como berço de excelentes e ambiciosos vinhos. Com o seu enoturismo em Torres Vedras — que, além de provas e visitas, inclui um restaurante de excelência, o Sal na Adega — tem levado bastantes pessoas ao “Oeste”, zona bonita e ainda pouco visitada. A sua equipa de enologia é uma das mais cobiçadas do país, Anselmo Mendes e Diogo Lopes, e isso traduz-se na qualidade e personalidade dos vinhos. Acabado de chegar ao mercado, este Parcela Amarela Viosinho é um branco com imensa originalidade e carácter: o vinho desenvolveu “véu de flor” nas barricas, uma espécie de manto, formado por leveduras, que se forma no topo do líquido, a maior parte das vezes quando a barrica ou o depósito não estão totalmente atestados, devido ao contacto com o oxigénio. Neste caso, o fenómeno aportou enorme exotismo e complexidade ao vinho, que tem um fumado muito fino no nariz, com sugestão láctea curiosa e muito específica, que lembra manteiga de ovelha. É um branco suculento e gordo, muito persistente na boca, com acidez no ponto a ligar tudo. Ingredientes e pratos também gordos ligarão aqui perfeitamente, como massas folhadas, por exemplo.

(5*) Este branco junta, em doses generosas, carácter, qualidade e originalidade, a um preço excelente. Por isso, fará “um figuraço” num jantar de amigos.

Conde d’Ervideira Escolha do Enólogo Alicante Bouschet rosé 2021

Regional Alentejano, Ervideira, 12,5%, €22

Quem acha que um rosé não pode ser de outono (ou até de inverno), ainda não conhece o nível de rosés que se está neste momento fazer em Portugal. Há cerca de 4 ou 5 anos começaram, no nosso país, a surgir vinhos rosé de categoria superior, não apenas para dias quentes, esplanadas ou piscina, mas complexos, estruturados, capazes de se bater à mesa com pratos intensos, ou até para apreciar sem comida e com calma. Já se contam vários exemplos, e esta novidade absoluta da Ervideira é um deles, um vinho inserido na gama “Escolha do Enólogo”, que dá precisamente liberdade de criação total ao técnico, neste caso, Nelson Rolo. O enólogo selecionou a casta Alicante Bouschet por ser, segundo o próprio, “uma das mais nobres” que a empresa tem nas suas vinhas, e pelo desejo de fazer algo diferente e desafiante para os consumidores. Utilizando inox mas sobretudo carvalho húngaro, Nelson originou um rosé com aromas minerais, cítricos e de fruta vermelha fresca, que se revela todo na boca pela sua estrutura e corpo volumoso, envolvência e harmonia. Servir a uma temperatura ligeiramente superior ao que é normal num rosé mais leve, ou seja, a rondar os 12ºC.

(4*) Rosé de nível, ótimo para a mesa, com um perfil capaz de agradar à maioria dos consumidores.

Mainada Trincadeira Preta tinto 2020

Reg. Alentejano, Mainova, 14%, €25,55

Mainada é uma nova marca do jovem projeto alentejano Mainova, de vinhos varietais (de uma só casta). Este é de Trincadeira Preta e “mainada”, e as suas notas aromáticas de bosque, fruta negra madura e pedra molhada são quase outono numa garrafa. Conjuga também frescura com uma certa “mastigabilidade”, sendo aveludado em simultâneo, com muita presença. Ficará muito bem a acompanhar um chilli, com carne ou vegetariano. Tal como os outros dois tintos da gama Mainada, o Trincadeira Preta não contactou com barrica, apenas depósito de inox, o que vai de encontro à intenção da equipa de enologia da Mainova, liderada por António Maçanita, de fazer três tintos “descomplicados”.

(4*) A prova de que vinho descomplicado não precisa de ser vinho simples, pode significar também qualidade e riqueza aromática. Um tinto fácil de compreender, mas com algo mais para dar.

Mariana Lopes nasceu em 1991 e cresceu no meio de garrafas, provas e conversas de vinho. Começou por estudar Direito, mas acabou no Jornalismo, e hoje cruza a paixão pela escrita e pelo mundo vitivinícola sob o rótulo de WineMariana.