A operação para tentar salvar o recente governo britânico liderado por Liz Truss está em andamento. Coube ao novo ministro das Finanças — o conhecido conservador, com experiência governativa, Jeremy Hunt — dirigir-se ao país para confirmar a reversão de “quase todo” o plano fiscal que a primeira-ministra ainda há semanas tinha anunciado, explicando que, ouvidas as “preocupações” sobre esse plano, juntos decidiram que a reversão das medidas será o caminho para garantir “estabilidade” ao país.
A palavra “estabilidade” terá sido, aliás, a mais repetida por Hunt durante o curto discurso ao país, que durou menos de dez minutos. Serviu para anunciar reversões que já eram esperadas dos planos fiscais de Truss e do seu ex-ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, que aguentou 38 dias no cargo; mas também levou as reversões mais longe do que era esperado, como notam as primeiras análises nos jornais britânicos.
Ficarão, assim, pelo caminho o corte de impostos às empresas, assim como a descida de 45% para 40% o imposto sobre o rendimento para escalão dos maiores rendimentos. Mas também será bastante reduzido o plano do governo Truss para limitar os preços da energia, uma das grandes bandeiras da atual primeira-ministra.
Segundo o anúncio de Hunt, a garantia só será universal até abril (o objetivo original era que fosse aplicada durante dois anos). A partir daí, será “mais dirigida”. Ou seja, a medida, que era a “maior despesa” do plano do governo e servia para “apoiar milhões de pessoas durante um inverno difícil”, ficará a meio caminho, uma vez que Truss e Hunt concordaram que “não seria responsável continuar a expor as finanças públicas à volatilidade ilimitada dos preços internacionais da energia”.
Por isso, continuou o governante, o executivo começará agora a estudar formas de continuar a limitar os preços da energia de abril em diante. Do mini orçamento que Truzz tinha apresentado, e que provocou o caos nos mercados, pouco sobrará: “Quase todas as medidas fiscais” serão revertidas, confirmou Hunt.
Liz Truss muda ministro das Finanças e recua no mini-orçamento em nome da “estabilidade económica”
O discurso foi, de resto, centrado em explicar as razões do recuo. “A responsabilidade central do governo é fazer o que for necessário para manter a estabilidade económica”, justificou, frisando por várias vezes a mesma ideia: “Nenhum governo pode controlar os mercados, mas todos os governos podem providenciar segurança sobre a sustentabilidade das finanças públicas”. Ou dito de outra forma: “Não podemos eliminar a volatilidade nos mercados, mas podemos fazer a nossa parte, e vamos fazê-lo”.
Por isso, e consciente de que o executivo precisa de corrigir o pânico nos mercados, Hunt decidiu esta segunda-feira, ainda antes de fazer uma intervenção mais detalhada no Parlamento, adiantar estas medidas “para reduzir especulações contraproducentes” e, mais uma vez, dar “confiança e estabilidade” ao sistema (político e financeiro).
Justificando que os cortes de impostos com que tanto Truss como Hunt assumem continuar “comprometidos” não sigam em frente, fez questão de lembrar que permitir “às pessoas que fiquem com uma fatia maior do seu rendimento é um valor muito importante para os conservadores”. Mas, de novo, é preciso olhar para os mercados: “Numa altura em que os mercados estão, e bem, a pedir um compromisso com a sustentabilidade das finanças públicas, não está certo pedir emprestado para financiar este corte de impostos”.
A horas de se dirigir ao Parlamento, Hunt dirigiu-se ao Reino Unido para garantir, em plena crise governativa, que “o objetivo mais importante para o nosso país agora é a estabilidade” e “a prioridade serão sempre os mais vulneráveis”. Garantia final: “Crescimento requer confiança e estabilidade e o Reino Unido pagará sempre o que deve”. Resta saber se será suficiente para parar um desastre político em curso — e que está a ser organizado dentro do próprio Partido Conservador.