Os veículos autónomos são vistos como um trunfo, um coelho mágico que todos os construtores pretendem retirar da cartola, para de seguida o venderem a quem dele necessita, dos clientes que querem viajar de forma mais confortável entre Porto e Lisboa às empresas que exploram táxis ou veículos TVDE e que pretendem “livrar-se” do elemento mais caro (e por vezes problemático) a bordo. Daí que tanto o Grupo Volkswagen como a Ford tenham imaginado um “casamento” com a Argo AI, em que ambos os monstros da indústria automóvel adquiriram 42% do capital da startup, que era vista como uma das que iria chegar primeiro à meta dos carros sem condutor.

A Argo AI é uma empresa norte-americana em quem muitos depositam a esperança de figurar entre as primeiras a colocar no mercado sistemas eficientes de condução autónoma. Isso aliciou fabricantes como a Ford, que investiu na startup 2,6 mil milhões de dólares em 2017, e a Volkswagen outro tanto em 2020, pelo que em conjunto passaram a deter 84% do capital. Juntamente com a divisão Waymo da Google, a responsável pelo desenvolvimento de sistemas autónomos do gigante tecnológico, e a Tesla, que também trabalha há muito no aperfeiçoamento dos carros sem condutor, a Argo AI é um dos principais players deste exclusivo sector.

Apesar da Argo AI ter recrutado novos clientes, ainda que de menor dimensão, como a Lift (detém 2,5% da empresa), nas últimas semanas viu os seus maiores clientes, a VW e a Ford, perder a fé no potencial da empresa. A Ford já fez saber que achava a condução autónoma de Nível 4 (aquela em que o condutor é um mero passageiro) muito complexa, dispendiosa e difícil de conseguir, optando antes pela optimização dos Níveis 2 e 3, que funcionam como ajudas ao condutor, podendo ser-lhes confiadas determinadas acções, como por exemplo circular em auto-estrada e realizar mudanças de faixa sem intervenção de quem está ao volante.

Se a Ford perdeu confiança na tecnologia, a VW não lhe ficou atrás. A solução da Argo AI de Nível 4 já foi instalada em alguns veículos comerciais da VW, de forma a ser testada e desenvolvida. Mas o novo CEO Oliver Blume fez saber que “o Grupo VW não continuará a investir na Argo AI”, tendo optado por concentrar os investimentos nos carros sem condutor na Cariad.

A Cariad é uma divisão do Grupo VW especializada em software, tendo sido o seu desempenho menos bom que levou ao despedimento do último CEO, Herbert Diess. Tudo porque não conseguiu atingir o desejado nível de eficiência no software ao serviço das novas plataformas do conglomerado germânico, a começar pela PPE. De acordo com Blume, a Cariad vai, a partir de agora, ser igualmente responsável pelo desenvolvimento da condução autónoma, em colaboração com os chineses da Horizon Robotics e a Bosch.

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