Quase 200 alunos passaram a noite em seis escolas e universidades em Lisboa para exigir o fim do uso de combustíveis fósseis. A iniciativa, que começou nesta segunda-feira, organizada pela Greve Climática Estudantil e integrada no movimento internacional “End Fossil Occupy!”, uniu alunos das escolas secundárias Camões e António Arroios, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, das faculdades de Letras e Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto Superior Técnico.
A noite foi passada com tranquilidade e os alunos dizem-se satisfeitos com a adesão do corpo estudantil que nos vários espaços ocupados dormiram no chão, em colchões que levaram de casa, tendas e sacos-cama. Só numa Faculdade houve um pequeno problema.
Pelo fim dos combustíveis fósseis, alunos ocupam escolas e não querem sair tão cedo
“Correu melhor do que o esperado”, diz Gil Oliveira, estudante da Escola Artística António Arroios, que acolheu cerca de 60 estudantes. “Hoje vamos fazer mais barulho que ontem e mais ação que ontem”, afirma, acrescentando que está planeado para, durante o dia, haver uma formação sobre desobediência civil, aberta a “toda a gente que queira aparecer”. “Ontem juntamos, um pouco precariamente, cerca de 200 pessoas. Hoje estamos a apontar para, no mínimo, 100”, revela o aluno.
No Liceu Camões, onde também se juntaram cerca de 60 ocupantes, os alunos fizeram ouvir os seus motivos, impedindo mesmo o decorrer de uma aula de Educação Física, através da ocupação do ginásio da escola. “Ontem à noite decidimos invadir o ginásio. Foi-nos apresentada a ideia de dormirmos com tendas à chuva e nós tentamos mostrar como, trazendo alunos para cá, isso não seria digno para ninguém e que o espaço mais seguro para ocupar seria o ginásio”, explica Clara Pestana, uma das protestantes no liceu.
“Conseguimos que não houvesse aulas de Educação Física e consideramos isso uma vitória, porque significa disrupção. Sabemos que isso é um constrangimento para muitos alunos e que há pessoas descontentes, mas a crise climática vai ser muito mais disruptiva e por isso consideramos um sucesso termos bloqueado uma aula”, conclui.
Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que juntou entre 15 a 20 estudantes, “a noite correu bem” e “foi agradável”. O grupo fez “uma pequena sessão de cinema” e debateu ideias para o segundo dia de greve, procurando criar um plano de ação para atrair mais participantes. “Talvez tenhamos de ser mais disruptivas, porque sentimos que já estamos a ser tratadas com uma certa normalidade”, pondera Carolina Loureiro, estudante na FCSH.
Na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tal como sucede nas outras instituições de ensino, estão planeadas “algumas aulas”, dadas tanto por alunos como por professores e investigadores da faculdade. Durante a tarde, o coletivo Scientist Rebellion também marcará presença, numa palestra sobre a relação entre o ativismo e a ciência e a importância dos dois coexistirem.
Diogo Monteiro, um dos manifestantes, destaca a importância da presença de uma faculdade de ciências nesta iniciativa. “Estamos a partilhar conhecimento, a chamar professores e investigadores científicos para um tópico que interessa a muita gente”, afirma.
Apenas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa houve algumas altercações no momento de ocupação do espaço. “Nós estávamos a tentar ocupar o anfiteatro e um de nós entrou e abriu-o por dentro para o resto das pessoas entrarem. No entanto, os seguranças chegaram lá mais cedo e tentaram entalar a pessoa que estava a segurar a porta”, conta Beatriz Xavier, uma das manifestantes ao Observador.
A ação destes estudantes tem em vista dois objetivos: parar com a utilização de combustíveis fósseis até 2030 e a demissão imediata do ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva.
“É inaceitável que uma figura com laços diretos à indústria fóssil se encarregue de gerir a economia do nosso país”, declara Beatriz Xavier, uma das ocupantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, relembrando a Lei da Base do Clima, aprovada no ano passado e que “proíbe expressamente” a exploração de petróleo em território nacional.
“António Costa e Silva, o nosso atual ministro da Economia e do Mar e antigo CEO da petrolífera Partex Oil and Gas, poucos meses depois de esta lei ter sido posta em vigor, diz em parlamento que está aberto a que as empresas lhe apresentem propostas de exploração de petróleo em Portugal. Estas declarações por parte de Costa e Silva são incongruentes e não só não mostra o seu negacionismo climático como a sua falta de conhecimento das leis”, lamenta a estudante.
Pelo fim dos combustíveis fósseis, alunos ocupam escolas e não querem sair tão cedo
“Houve uma confusão e os seguranças começaram a empurrar as pessoas da nossa “Ocupa!”, ao ponto de pegar no pescoço de duas delas. Eles nem sequer podem tocar, quanto mais usar essa violência. Dois polícias tiveram de separar os seguranças das pessoas que estavam a agarrar”.