A bomba caiu em plena noite de domingo, horas depois de o Manchester United ter somado os últimos três pontos na Premier League antes da interrupção para o Mundial do Qatar. Cristiano Ronaldo, na primeira pessoa, sem intermediários e de viva voz, tinha dado uma entrevista exclusiva a Piers Morgan, apresentador britânico de quem é amigo há vários anos. E tinha dito tudo.

Nos pequenos excertos que foram divulgados este domingo, tanto através das redes sociais do próprio Piers Morgan como pelas revelações que o apresentador fez ao jornal The Sun, o capitão da Seleção Nacional garante que se sentiu “traído” pelo Manchester United, que vários elementos do clube quiseram “forçar a sua saída” durante o verão e que “não respeita” Erik ten Hag porque o treinador também não o respeita a ele.

“O Manchester United tentou forçar a minha saída. Senti-me traído.” Ronaldo quebra o silêncio e ataca clube e Ten Hag em entrevista

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As declarações explosivas de Ronaldo — que ainda acrescentaram o facto de “nada ter evoluído” em Old Trafford depois da saída de Alex Ferguson, de ter sido mesmo o treinador escocês a mediar o regresso do avançado ao clube e a evitar uma ida para o Manchester City e duras críticas à contratação de Ralf Rangnick na época passada — abriram a porta a um mundo de reações e conjeturas. Afinal, ainda antes de a entrevista vir a público, o português falhou os últimos dois jogos do Manchester United por estar alegadamente “doente”. Algo que a Sky Sports garante, esta segunda-feira, não ter sido propriamente assim.

De acordo com o canal britânico, e já depois de ter falhado a partida de quinta-feira contra o Aston Villa a contar para a Taça da Liga, Cristiano Ronaldo só informou os responsáveis do Manchester United de que estava doente depois de saber que não seria titular frente ao Fulham. O jogador português estava entre os convocados para a visita à equipa de Marco Silva e tinha todas as chances de entrar em campo mas, ao que parece, optou por não fazer parte da ficha de jogo quando soube que não estaria no onze inicial.

Também segundo a Sky Sports, a entrevista de Ronaldo caiu mal no balneário dos red devils e os jogadores estão “extremamente desiludidos” com a atitude do avançado. Quanto ao Manchester United, estará a avaliar todas as opções relativamente ao futuro do jogador — onde nunca será excluída uma saída já em janeiro, no mercado de inverno, depois do Campeonato do Mundo. As declarações do capitão da Seleção motivaram várias reações, quase todas negativas, e Jamie Carragher não poupou as palavras na hora de falar de Cristiano Ronaldo.

“Sob o comando de Ten Hag, Ronaldo anunciou que queria sair, recusou-se a entrar num jogo, abandonou o banco de suplentes e saiu do estádio antes de o jogo acabar. 99% dos adeptos do Manchester United vão ficar do lado de Ten Hag, o que só demonstra o quão mal Ronaldo geriu isto”, defendeu o antigo central do Liverpool e atual comentador. Na BBC, Jermain Defoe, ex-Tottenham, considerou que o português é agora um jogador “frustrado”.

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“Antes de tudo, estou totalmente confuso relativamente ao porquê desta entrevista. O dia, o timing… Revela claramente como Ronaldo se sente e como se tem sentido ao longo da época. Neste momento é um jogador frustrado e acho que a situação foi mal gerida pelo clube. Talvez o ego dele esteja ferido. Ele nunca esteve numa situação como esta anteriormente”, atirou, numa opinião corroborada por Jermaine Jenas, que também passou pelos spurs e pelo Newcastle.

“Acho que ele tem de sair do Manchester United. Sente-se usado, provavelmente, porque a gestão que tem sido feita talvez seja para fazer dele um exemplo. E isso permite que o Ten Hag marque uma posição e que o balneário fique alinhado. Mas, ao mesmo tempo, ele tem de comportar-se como o resto da equipa. Ten Hag não pode colocá-lo a jogar agora, Ronaldo não pode estar envolvido na equipa”, explicou o antigo internacional inglês.

Pelo meio, e tal como também tem sido habitual nos últimos meses, a principal defesa de Cristiano Ronaldo surgiu através da própria família. Kátia Aveiro, irmã do internacional português, recorreu ao Instagram para escrever a frase “as verdades são para ser ditas” e partilhar uma notícia sobre a entrevista e vários excertos. Em Espanha, o jornal AS contraria a versão da Sky Sports e garante que o português tem o apoio do balneário, que o considera uma “lenda”. Algo que só será verdadeiramente percetível, muito provavelmente, depois do Mundial.

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Entretanto, também já esta segunda-feira, o próprio Piers Morgan veio esclarecer que foi Cristiano Ronaldo a “pedir” a entrevista. “Pensou nisto durante algum tempo. Não é segredo que ele sente uma profunda frustração pelo que tem acontecido esta época no Manchester United. Ele sentiu que era altura para falar e sabia que iria incendiar as coisas mas também sente que devia fazer isto. Ele sabe que as pessoas vão criticá-lo mas também sabe que o que está a dizer é verdade. Por vezes, a verdade dói”, indicou o apresentador em declarações ao talkSPORT, recusando ainda revelar a data da conversa.

“Não vou dizer quando foi feita a entrevista mas aconteceu recentemente. Fica entre mim e ele. Penso que o timing tem a ver com o Mundial. Ele agora está com a seleção portuguesa, que tem uma boa equipa e que pode fazer um bom Mundial. Isso dá-lhe um mês fora do Manchester United. Dá tempo para as coisas se resolverem e voltar. Como ele disse na entrevista, ele ama o Manchester United e os adeptos mas tem a opinião de que o clube está estagnado e não percebe o porquê. Se ele não falasse, nada iria mudar”, concluiu Morgan.

(artigo atualizado às 11h27 com as declarações de Piers Morgan ao talkSPORT)