O texto mais antigo conhecido até agora em língua vascónica, falada na região onde atualmente se encontra o País Basco, foi descoberto no norte de Espanha, inscrito numa mão em bronze com mais de 2.000 anos.

Cinco palavras em “língua vascónica”, falada pelos habitantes da região naquela época e ancestral do atual basco, estão inscritas numa mão em bronze do século I antes de Cristo (a.C.) encontrada em junho de 2021 sob as ruínas de um castelo em Irulegui, a sudeste de Pamplona, capital de Navarra, divulgaram esta segunda-feira autoridades regionais e uma sociedade científica.

Estes objetos eram pendurados nas portas para proteger as casas do infortúnio.

A primeira palavra foi identificada como “sorioneku”, que soa como “zorioneko” no basco atual, uma palavra que significa “boa sorte, auspicioso”.

A tradução desta primeira palavra é “um passo histórico de enorme importância”, tanto arqueológica como linguisticamente, explicou a presidente da região de Navarra, Maria Chivite.

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“Este é o documento mais antigo e também o mais longo escrito na língua vascónica” da época, destacou, por sua vez, a sociedade científica Aranzadi em nota de imprensa.

Este grupo científico acrescentou que a descoberta confirmou “o uso da escrita pelos antigos habitantes desta região”.

Além disso, os especialistas salientam também que esta mão “certifica o uso da língua basca na área geográfica onde foi descoberta, no início do século I a.C.”.

As cinco palavras na mão foram escritas numa variação vascónica da escrita ibérica, um sistema utilizado antes que o alfabeto latino se tornasse o sistema de escrita dominante.

A peça foi encontrada no âmbito das escavações que estão a ser realizadas na cidade de Irulegi (Vale de Aranguren), habitada entre meados da Idade do Bronze (séculos XV a XI a.C.) e o final da Idade do Ferro (século I a.C.) e destruída por um ataque das tropas romanas.

A chamada “mão de Irulegi”, que ficou preservada em bom estado, pois foi enterrada e selada por uma parede de adobe da época, é uma folha de bronze, que contém 53,19% de estanho, 40,87% de cobre e 2,16% de chumbo, algo comum em ligas antigas.

Para Joaquín Gorrochategui, especialista em paleolinguística e professor de Linguística Indo-Europeia da Universidade do País Basco, esta peça “é realmente excecional”, sublinhando que possui características que a tornam “basca” e não genericamente “ibérica”.

Quanto à linguagem utilizada, o investigador indicou que “pouco pode ser dito”.

“Em euskera [atual língua basca] eu não diria” que está escrito, mas sim “na língua vascónica”, salientou.

A inscrição é composta por cinco palavras distribuídas por quatro linhas. O alfabeto utilizado para escrever o texto pertence à família dos semi-silabários ibéricos, mas possui algumas características que levam a classificá-lo como um subsistema específico do território basco, incluindo o uso do signo ‘T’, não presente em outros subsistemas.

O significado das outras quatro palavras – “tenekebeekiratere”, “oTirtan”, “eseakari” e “eraukon” – ainda não é conhecido.