O primeiro-ministro defendeu esta quarta-feira, na Azinhaga, que a melhor maneira de assinalar o centenário do nascimento de José Saramago é “perpetuar a sua obra”, uma forma de “perpetuar as causas por que lutou e as gentes a quem resolveu dar voz”.

António Costa participou na cerimónia que assinalou a plantação da centésima oliveira numa rua da Azinhaga, aldeia natal do escritor, no concelho da Golegã (Santarém), iniciativa da junta de freguesia e da família de Saramago, iniciada em 2019, com o objetivo de celebrar a passagem do centenário do nascimento do Prémio Nobel da Literatura.

É muito importante nós não esquecermos Saramago, porque esquecermos Saramago é esquecermos todos aqueles que, tendo nascido em alguma Azinhaga, não chegaram ao prémio Nobel, mas são aqueles que permitiram ao Saramago contar a história que fez dele o primeiro Prémio Nobel da literatura portuguesa”, afirmou.

A oliveira a que António Costa juntou esta quarta-feira algumas pazadas de terra, a última a ser plantada, no início da Rua Victor Manuel da Guia, tem o nome da avó de Saramago, Josefa Caixinha, e fica em frente à que leva o nome do avô, Jerónimo Meirinho, no largo do “Lagarto Verde”, onde se encontra um painel com um excerto das “Pequenas Memórias”.

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A ladear a rua, cada oliveira representa uma personagem das inúmeras obras de José Saramago.

Costa salientou que o escritor “quis contar a história das pessoas que não podiam contar a sua própria história e em cada um desses personagens, daqueles que existiram mesmo, como os seus avós, ou daqueles que ele ficcionou, todos aqueles que não podia nomear, a verdade é que ele quis contar” a história da Azinhaga e de “todas as Azinhagas em qualquer local do mundo”.

O presidente da Junta de Freguesia da Azinhaga, Victor Guia, que se tornou amigo de Saramago, explicou que a ideia das “100 oliveiras para Saramago” partiu do genro do escritor, Danilo Matos, como uma forma de “aquietar o desgosto” que expressou nas suas memórias pelo desaparecimento do olival da sua aldeia.

A neta de Saramago, Ana Matos, lembrou a importância da aldeia natal para a “formação espiritual” de um escritor nascido numa “família de camponeses sem terra” e que teve sempre presente “o compromisso político” na sua vida e na sua obra.

A cerimónia contou, ainda, com a leitura de um excerto do discurso pronunciado por José Saramago a 7 de dezembro de 1998 na Academia Sueca e a interpretação musical de um poema de José Saramago por Nuno Barroso.