Estão a intensificar-se na China os protestos contra as restrições impostas para controlar os casos de Covid-19 no país. O governo de Xi Jinping já não está a exigir confinamentos a nível nacional, mas orientou as autoridades locais a fazerem-no sempre que se deteta um surto de Covid-19 — por mais pequeno que seja. A política “Zero Covid” está a motivar manifestações contra o regime com uma expressão sem precedentes nos últimos 10 anos.
Os protestos intensificaram-se após um incêndio de grandes dimensões ter provocado a morte de pelo menos 10 pessoas e ter infligido ferimentos noutras nove em Urumqi, na região chinesa de Xinjiang, a 24 de novembro. A população acredita que as vítimas não conseguiram escapar do prédio residencial em chamas porque as portas estariam trancadas por fora, à conta das restrições impostas pelo governo local. As autoridades negaram as acusações.
Nov 23, a fire broke out in Urumqi's Jixiang Yuan district. Because of the #covid #lockdown, fire truck couldn’t get closer & people were locked inside & couldn’t escape. #CCP says 10 killed, but it is widely believed that death toll is over 20. That’s 1 reason for today’s riots. pic.twitter.com/Fdt3sQPC8T
— Inconvenient Truths by Jennifer Zeng (@jenniferzeng97) November 25, 2022
As vigílias de homenagem às vítimas mortais transformaram-se em manifestações de revolta contra as regras anti-Covid. Em Wuhan, onde o coronavírus SARS-CoV-2 foi identificado ela primeira vez, os manifestantes juntaram-se nas barricadas que impedem a mobilidade dos cidadãos para fora da cidade chinesa e conseguiram derrubá-las. Querem o fim da política Zero-Covid.
https://twitter.com/gchahal/status/1596826367831990275
Em Pequim os estudantes da Universidade de Tsinghua saíram para as ruas e gritaram: “A liberdade vai prevalecer”. Um dos movimentos começou quando um aluno exibiu uma folha de papel em branco — um dos símbolos dos manifestantes nos protestos contra as medidas anti-Covid — junto à cantina. Centenas de outros estudantes juntaram-se a ele e começaram a gritar: “Isso não é uma vida normal, já chega. As nossas vidas não eram assim antes”.
Tsinghua university right now???????? city after city seeing protests small and large against Zero Covid policies and against excesses of Communist Party rule – every hour there seems to be a new one pic.twitter.com/7CbUtzNmjR
— Emily Feng 冯哲芸 (@EmilyZFeng) November 27, 2022
A cidade de Xangai também está a ser palco de manifestações intensas contra a estratégia chinesa de controlo da Covid-19. Uma das principais avenidas da cidade está cortada por causa dos protestos, com a multidão a pedir a destituição de Xi Jinping e o afastamento do Partido Comunista. Os participantes gritavam: “Partido Comunista, fora! Xi Jinping, fora!”, numa rara manifestação contra o regime, conhecido pelas duras represálias que impõe a quem se expressa contra o sistema.
上海乌鲁木齐路 最新视频
民众齐声高喊“共产党下台 习近平下台”
马路对面的警察并未阻止 pic.twitter.com/Vh40idZWWy— 李老师不是你老师 (@whyyoutouzhele) November 26, 2022
A polícia deteve alguns dos manifestantes que saíram às ruas no sábado, mas isso não demoveu os participantes. Noutros pontos dos protestos em Xangai, os manifestantes exigiram o fim da testagem PCR, que ainda é obrigatória para aceder a alguns espaços públicos quando se detetam surtos de Covid-19. “Sem testes de PCR, queremos liberdade!”, gritaram alguns dos manifestantes. De resto, a palavra “liberdade” é a principal mensagem a ecoar nos protestos.
https://www.youtube.com/watch?v=QwATngtX620&ab_channel=%E4%BA%BA%E4%B8%96%E9%96%93
Ainda em Xangai, um cartaz que celebrava o 70º aniversário da Universidade de Ciência Política e Direito do Leste da China foi grafitado com a mensagem: “Não fiques calado”. Em Nanjing, também no leste da China, dois estudantes exibiram folhas de papel em branco — à semelhança do aconteceu em Xangai — e cantaram o hino nacional. Um deles declarou: “Eu costumava ser um cobarde, mas hoje tenho que falar por aqueles que morreram!”.