Os fabricantes de automóveis vivem da comercialização de novos modelos, não dos usados. Daí a surpresa quando Monika Dernai, um alto quadro da BMW, afirmou numa conferência em Londres que a indústria automóvel podia reduzir o desperdício se encorajasse os clientes a manter os seus veículos durante um maior número de anos, não adquirindo carros novos. Dernai, responsável pela Sustentabilidade no construtor alemão, aconselha os clientes a não adquirir carros novos, mas sim a manter em uso durante um maior período de tempo os seus carros velhos.
Esta afirmação é capaz de provocar algum “desconforto” à maioria dos CEO das marcas, uma vez que todos os construtores vivem (e sobrevivem) tentando tornar os seus carros novos mais atraentes e mais eficientes do que os antigos, no que respeita à modernidade das linhas, à potência, aos consumos e, sobretudo, aos mais sofisticados sistemas de assistência à condução e segurança. E não há forma de tornar os carros velhos menos poluentes e mais seguros, uma vez que não estão equipados com as tecnologias mais modernas e avançadas no tratamento de gases de escape, ou de protecção do condutor e passageiros em caso de acidente.
O objectivo de Monika Dernai é encontrar soluções para prolongar a vida útil dos actuais veículos para que, em vez de trocar de carro sempre que estes começam a revelar sinais de uso e de idade, seja possível modernizar o carro antigo. Isto passa por substituir os assentos, os forros do tejadilho e portas, inclusivamente do tablier, enfim, tudo o que revele sinais de envelhecimento devido ao excesso de uso.
Mas esta argumentação só fará sentido para os carros mais modernos, como os fabricados a partir de 2025, ano em que vai ser implementada a Euro 7, a mais recente e exigente norma de emissões e de consumos e que não irá sofrer alterações até 2035, altura em que os veículos novos com motores de combustão deixarão de poder ser comercializados. Possivelmente, seria este tipo de automóveis que a directora da Sustentabilidade tinha em mente quando aconselhou a que se mantivessem ao serviço durante mais tempo os carros antigos.
Para que isto aconteça, é também necessário que os construtores concebam os seus veículos novos capazes de ser mantidos “frescos” e actuais com a substituição de uma série de peças, as que mais depressa se degradam. Para a responsável da BMW, é isto que constitui a economia circular, algo de que iremos continuar a ouvir falar (e cada vez mais) nos próximos anos. Falta apenas saber como os fabricantes vão lidar com um volume de vendas necessariamente inferior num futuro próximo, pois o condutor que mantém o seu carro velho não precisa de adquirir um novo.