São enviados para morte. Prisioneiros recrutados pelo Grupo Wagner, mercenários de uma empresa militar privada russa, são ferramenta de uma tática de guerra do Kremlin, relatam militares do exército ucraniano: no campo de batalha, são lançados para ataques frontais contra as linhas ucranianas “bem defendidas”, funcionando como iscos, como alvos humanos, que permitem detetar os pontos de tiro do inimigo, que, posteriormente, são danificados com artilharia russa.

“Os condenados são lançados contra as nossas linhas e temos de os abater. O inimigo deteta assim os nossos pontos de tiro e tenta danificá-los com a sua artilharia”, diz ao jornal El Mundo, Petro Kuzyk, comandante do batalhão da cidade de Svoboda, do exército ucraniano, a combater em Bakhmut, uma das cidades do Donbass onde as forças russas estão a concentrar as suas investidas e a utilizar esta tática.

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As perdas, diz o comandante, são “colossais”: “Eles [os russos] nem contam os corpos. Os campos, as florestas em frente às posições, estão todas cobertas de cadáveres. Também os vimos arrastar o seu povo para os enterrar, mas primeiro tiram os agasalhos aos mortos e os vivos vestem-nos ali mesmo”, diz.

Somam-se já vários relatos acerca das ações da companhia militar privada russa Wagner — no dia em que o Parlamento Europeu ia iniciar os procedimentos para classificar o grupo de terrorista, foi enviado para Estrasburgo uma marreta “ensanguentada”.

Grupo Wagner envia marreta “ensanguentada” para Parlamento Europeu

Os relatos são infinitamente piores na Rússia. Uma denúncia da associação humanitária Gulagu deu conta de que um cidadão russo foi retirado do hospital e assassinado pelo grupo Wagner. Sevalnev lutou no cerco da cidade de Liman e depois da morte do seu filho fugiu. Com vários ferimentos de estilhaço, foi hospitalizado. Em novembro, membros do grupo Wagner tiraram-no do quarto e executaram-no por desobediência, por ter-se retirado do conflito.

Evgeny Nuzhin, preso nos anos 90 por homicídio, foi outro prisioneiro russo que, por ter fugido do campo de batalha, foi executado. Recrutado na prisão, juntou-se ao Grupo Wagner, foi para o campo de batalha e, mais tarde, numa entrevista à imprensa ucraniana, revelou a sua intenção de se entregar às forças da Ucrânia — colocando a hipótese de lutar a seu lado, contra a Rússia. O momento da sua morte foi gravado num vídeo, partilhado no canal de Telegram do Grey Zone, ligado ao Grupo Wagner. “Punição de um traidor”, ouve-se.

“Punição de um traidor.” Soldado russo é executado pelo Grupo Wagner com golpes de marreta na cabeça depois de se ter rendido aos ucranianos

O Grupo Wagner, uma empresa militar privada, terá sido fundado em 2007 pelo ex-oficial do exército da Rússia Dmitriy Valeryevich Utkin, tendo ganho notoriedade internacional em 2014, ano da anexação da Crimeia pela Rússia.

O grupo paramilitar terá surgido nesse ano pela primeira vez na Ucrânia mas de forma peculiar: os mercenários estavam camuflados, mas sem marcas de identificação, sendo apenas conhecidos como verdadeiras sombras com armas. Acredita-se que seja composto por membros de forças de elite, dos serviços secretos ou antigos militares.