(Em atualização)

O país acordou esta manhã com as consequências do mau tempo que assolou a cidade durante a madrugada. De acordo com o último balanço da Proteção Civil, realizado por volta das sete da manhã, registaram-se 849 ocorrências relacionadas com o mau tempo, 70% das quais no distrito de Lisboa. Até à uma da manhã, o balanço era de 455 ocorrências — 379 em Lisboa, que foi o distrito mais afetado pelo mau tempo; 39 em Setúbal e 10 em Faro.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera avisou que a “precipitação forte acompanhada de trovoada” manter-se-ia até às duas da manhã desta quinta-feira. Mas está a ser criticado por ter emitido inicialmente um aviso laranja de mau tempo e não o nível de aviso mais elevado — o vermelho.

Em declarações ao Observador, o presidente do IPMA, Miguel Miranda, recusa que os meteorologistas tenham subestimado as consequências do mau tempo: as decisões são tomadas com base na melhor informação disponível a cada momento, argumenta.

Mulher morre numa inundação em Algés. Hospitais reportam estragos

Mas o mau tempo provocou a morte de uma mulher de 55 anos que ficou encurralada numa cave inundada na casa onde habitava, em Algés. O marido foi socorrido e conseguiu salvar-se. Nessa mesma freguesia, várias pessoas foram retiradas de estabelecimentos onde se tentaram abrigar da chuva.

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Segundo o jornalista do Observador no local, uma mulher ficou presa numa farmácia desde as 21h até cerca das duas da manhã. Durante a madrugada, as autoridades estiveram empenhadas em resgatar 14 pessoas que estavam presas num restaurante de Algés.

Em Belém, as chuvas fortes provocaram uma inundação no Hospital São Francisco Xavier. Um teto falso numa sala de pausa caiu, confirmou a presidente do conselho de administração, Rita Perez Fernandez da Silva: “Quando cai água naquela quantidade, caem pelas escadas e pelas paredes. Um teto falso encheu de água e caiu uma placa”.

A médica assegura que os doentes “não foram minimamente afetados” e que a situação deve ficar normalizada durante a manhã. Ainda assim, por enquanto, o hospital não está a receber doentes críticos e as ambulâncias estão a ser desviadas para o Hospital Egas Moniz e Hospital de Santa Cruz. E os elevadores na ala de internamento, que garantem a mobilidade entre sis naquele serviço, estão parados.

O bloco de cirurgia do Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, também se encontra inundado.

O comandante chegou a recomendar que os cidadãos da Grande Lisboa fiquem em casa, evitem circular e, sempre que possível, procurem abrigo nas zonas mais altas das respetivas casas. “O que temos de fazer nestas situações é evitarmos expor-nos ao risco, ouvirmos os conselhos e atualizações do estado do tempo”, afirmou. Neste momento as zonas mais afetadas são os conselhos de Lisboa, Oeiras, Cascais, Loures e Odivelas.

A Proteção Civil confirmou ainda que o IC20 entre a Costa Caparica e Almada está cortado, o mesmo acontecendo com a Radial de Benfica.

Marcelo lamenta morte. Moedas promete obras

Marcelo Rebelo de Sousa visitou alguns dos locais afetados pelas inundações e lamentou a morte da mulher na cave em Algés: “Basta uma vítima para já ser uma grande dor. As minhas condolências à família, uma pessoa que faleceu nestas condições dramáticas, tão nova”, disse o Presidente Marcelo em declarações aos jornalistas. Mostrou-se surpreendido com a situação em Lisboa, mas salienta que é um problema mais vasto do que a capital e que são necessárias obras estruturais.

Carlos Moedas garantiu que já estão no terreno todos os meios disponíveis, lembrando que esta quarta-feira foram aprovadas as obras estruturais dos túneis de drenagem, um entre Campolide e Santa Apolónia e outro entre Chelas e o Beato. O autarca refere que o objetivo é que as obras, que são “essenciais”, arranquem já e estejam prontas até 2025.

“Esta é uma situação que se vive na cidade há muitos anos e por isso esta obra estrutural que temos que fazer, um túnel que vai desde Campolide até Santa Apolónia, são cinco quilómetros de túnel que vão permitir resolver esta situação”, sublinhou. Para esta quinta-feira, às 10h, está marcada uma conferência de imprensa onde o autarca vai fazer um ponto de situação.

Vários túneis e estradas encerradas na cidade de Lisboa

“Os túneis do Campo Grande, da zona do Campo Pequeno e da Avenida João XXI estão fechados. A Avenida 24 de julho também está interditada e Avenida de Berna também”, disse o Comandante dos Sapadores de Lisboa à Lusa. Tiago Lopes disse ainda que na área Xabregas há uma situação de pessoas retidas em veículos.

“Temos também no hospital Francisco Xavier um princípio de inundação e estamos juntamente com os Bombeiros Voluntários da Ajuda a dar o apoio. E temos no Teatro Nacional D. Maria II uma situação de inundação”, acrescentou.

Chuva torrencial esta quinta e frio no sábado: Portugal no caminho de comboio de tempestades

À agência Lusa, o comandante dos Sapadores Bombeiros de Lisboa, fez o mesmo pedido. “Há muitos lençóis de água, os carros ficam presos na água e nós não conseguimos socorrer toda a gente”, disse Tiago Lopes, garantindo depois não existirem, de momento, danos estruturais ou vítimas a registar. “Choveu bastante, estamos com algumas vias de comunicação inundadas, mas não consigo dar um ponto situação muito preciso. Por toda a cidade há um pouco de água nas vias”, explicou.

Em declarações aos jornalistas, Isaltino Morais adianta que a principal preocupação agora são os comerciantes. A principal zona afetada é o mercado de Algés e a estação, devido ao transbordo da ribeira. O autarca de Oeiras relembra que esta é uma zona de comércio, onde vários estabelecimentos têm caves, e em referência à vitima mortal, revela que esta foi uma fatalidade pois não residia no local onde foi encontrada.

O autarca acrescenta que a Câmara Municipal tem capacidade de resposta, pelo que o resto do concelho já se encontra normalizado, à exceção desta zona. Indica que existirá um grupo de pessoas que irá visitar todos os comerciantes para fazer o levantamento dos prejuízos. Além disso, deixou o alerta para a maré alta que está a decorrer atualmente e que pode vir a causar novas inundações.

No distrito de Setúbal, também são já 20 as ocorrências em aberto, com a zona da Costa de Caparica a ser a mais afetada pelas inundações.

Nas redes sociais, multiplicam-se por esta hora os relatos de inundações um pouco por toda a região, desde o centro de Lisboa a zonas periféricas, como Algés, Carcavelos, Parede, Loures, Amadora, Queluz, Costa de Caparica ou Carregado.

O túnel da Avenida da República, no Campo Pequeno, em Lisboa, ficou completamente inundado, obrigando ao corte da circulação. Um carro acabou por ficar submerso e, segundo a RTP, mergulhadores dos Bombeiros Sapadores estiveram no local, confirmando que não ser encontrava nenhuma vítima no túnel.

Vários vídeos testemunham o estado da estação ferroviária da Amadora ao início da noite desta quarta-feira.

Houve também inundações no interior do centro comercial El Corte Inglès, no centro de Lisboa. E na Avenida de Berna.

O “comboio de tempestades” que está a atingir  a Península Ibérica vai manter em alerta vermelho, laranja e amarelo as regiões centro e sul de Portugal.