O mandato de Eva Kaili, vice-presidente do Parlamento Europeu detida na sexta-feira por suspeitas de corrupção relacionadas com o Qatar, foi suspenso este sábado, anunciou fonte oficial da presidência num comunicado citado pelo Le Fígaro.
A posição foi tomada por Roberta Metsola, líder do Parlamento, que “decidiu suspender com efeito imediato todos os poderes, deveres e tarefas que foram delegados a Eva Kaili na qualidade de vice-presidente”. A decisão está relacionada com “as investigações judiciais em curso realizadas pelas autoridades belgas”.
O comunicado foi emitido horas depois de Roberta Metsola ter tweetado: “O Parlamento Europeu posiciona-se firmemente contra a corrupção. Nesta fase, não podemos comentar sobre nenhuma investigação em andamento, exceto para confirmar que cooperamos totalmente com todas as autoridades policiais e judiciais relevantes. Faremos tudo o que pudermos para ajudar o curso da justiça.”
Our @Europarl_EN stands firmly against corruption.
At this stage, we cannot comment on any ongoing investigations except to confirm that we have & will cooperate fully with all relevant law enforcement & judicial authorities.
We'll do all we can to assist the course of justice.
— Roberta Metsola (@EP_President) December 10, 2022
Logo no dia da detenção, o partido de Eva Kaili na Grécia, seu país de origem (o Movimento Socialista Pan-Helénico); e o grupo parlamento europeu a que pertencia enquanto independente (o Grupo Socialista e Democrático) também afastaram a eurodeputada e suspenderam-na de todas as funções.
Um comunicado partilhado pela polícia belga confirmou que “há vários meses que os investigadores da Polícia Federal suspeitam que um país do Golfo está a influenciar as decisões económicas e políticas do Parlamento Europeu ao pagar quantidades avultadas de dinheiro ou oferecer grandes presentes a terceiros com uma posição política e estratégica significativa dentro do Parlamento Europeu”.
Uma fonte próxima do caso disse ao jornal Le Soir que além da eurodeputada foram detidos Luca Visentini, secretário-geral da Confederação Sindical Internacional; Pier-Antonio Panzeri, ex-eurodeputado da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D). O companheiro de Eva Kaili, um colaborador do S&D que foi assistente parlamentar de Panzeri, também foi detido.
Vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili detida em Bruxelas por suspeitas de corrupção
Quem é Eva Kaili, a protagonista de um escândalo de corrupção europeu?
Eva Kaili, 44 anos, nasceu na cidade grega de Tessalónica. Estudou arquitetura e engenharia civil na universidade da terra natal, tendo depois viajado para Atenas a fim de tirar o mestrado em Assuntos Internacionais e Europeus. Desde 2014 que está inscrita num doutoramento em Políticas Europeias Internacionais na Universidade de Atenas, mas ainda não o terminou.
A carreira profissional de Eva Kaili começou na comunicação social: entre 2004 e 2007, foi locutora da Mega Channel e conhecida em toda a Grécia. A carreira política de Eva Kaili começou precisamente 2004, quando se candidatou nas eleições nacionais. Três anos mais tarde foi efetivamente eleita para o Parlamento grego e tornou-se no membro mais jovem do PASOK (onde entrou em 1992) na assembleia, onde se manteve até 2012.
Nesse ano, tornou-se consultora de comunicação estratégica em farmacêuticas gregas e meios de comunicação social. Quando saiu, foi para se juntar à Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas e tornar-se eurodeputada. Foi a primeira mulher a ocupar os cargos de presidente do Órgão de Avaliação de Opções de Ciência e Tecnologia, presidente do Centro para a Inteligência Artificial e presidente da Delegação para as Relações com a Assembleia Parlamentar da NATO. E chegou a número 2 do Parlamento Europeu em janeiro deste ano.
Agora, Eva Kaili é suspeita de ter recebido dinheiro e presentes para defender o Qatar no que diz respeito ao respeito pelos direitos humanos — tudo isto numa altura em que se joga naquele país o Mundial de futebol masculino, em estádios construídos por trabalhadores com condições precárias, muitos dos quais morreram nas obras das infraestruturas nos últimos anos.