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Foi por pouco que Dmitry Rogozin, antigo vice-primeiro-ministro russo e ex-CEO da empresa estatal espacial Roscomos, escapou com vida a um ataque atribuído às forças ucranianas na região de Donetsk, no qual terá sido utilizado uma arma de origem francesa. Em resposta, o político decidiu enviar ao embaixador francês na Rússia um fragmento da arma, extraído da sua coluna.
Rogozin, um fervoroso apoiante do Presidente Vladimir Putin e da invasão russa da Ucrânia, revelou que enviou a Pierre Lévy um estilhaço de um sistema de artilharia Caesar de 15 mm francês. Esta, garante, foi a arma usada no “ataque vil” que o deixou “gravemente ferido” no final de dezembro.
Através da conta oficial de Telegram, Rogozin partilhou uma imagem do fragmento acompanhada da carta que enviou ao diplomata francês. O pacote, recebido esta quarta-feira na residência de Lévy, continha um pedido: a entrega do estilhaço ao Presidente Emmanuel Macron.
“Peço que envie o fragmento, retirado por cirurgiões da minha coluna, a Emmanuel Macron. Diga-lhe que ninguém vai escapar à responsabilidade pelos crimes de guerra da França, dos Estados Unidos, da Alemanha e outros países da NATO no Donbass”, escreveu o político russo. “Todas as nossas vítimas estão na vossa consciência, bem como o aparecimento de fascistas na Ucrânia e no mapa da Europa”, acrescentou.
Na carta, partilhada através do Telegram e publicada pela agência estatal Ria, Rogozin refere que é graças às “capacidades e paciência” dos militares e médicos russos que está vivo. O antigo líder da Roscomos refere que um fragmento do projétil lançado pelo Caesar perfurou o seu ombro direito, ficando alojado na quinta vértebra cervical. “Ficou a milímetros de me matar ou deixar-me imobilizado”, garante.
Segundo Rogozin, o ataque que o deixou gravemente ferido também provocou a morte de dois amigos, que o próprio embaixador francês terá conhecido em certa ocasião. “Eles acompanharam-nos numa visita a Baikonur, você cumprimentou-os. Agora foram mortos por armas fornecidas à Ucrânia pelo seu país”, lamenta.
Provavelmente sabe que muitos civis foram mortos em Donetsk e na linha da frente em Novorossia devido às armas da França e dos mercenários franceses. Há centenas de vítimas, incluindo crianças”, sublinhou.
Rogozin admite que escreveu a carta “com dor”, recordando com apreço a comunicação passada com o embaixador francês, numa altura em que discutiram as perspetivas sobre a cooperação entre a Rússia e a França. Porém, refere que esse cenário mudou ao longo dos últimos meses, marcados pela invasão russa da Ucrânia.
“Infelizmente, a posição do seu país e dos países da NATO sobre o crescimento de uma ameaça militar à Rússia perto das nossas fronteiras levou a um desfecho trágico”, começa por escrever. Rogozin escreve ainda que Paris “traiu” a causa do Presidente francês Charles de Gaulle – o general que liderou a resistência francesa ao nazismo – e se tornou “um dos estados mais sedentos de sangue em toda a Europa”.
“O seu país submeteu-se aos ditames de Washington e transformando-se num estado fantoche no estilo do governo de Vichy, servindo os instintos mais básicos dos nazis”, afirmou. Conclui a missiva afirmando que a França é diretamente responsável pela mortes na Ucrânia.