Cerca de 60 mil portugueses emigraram em 2021, mais 15 mil que no ano anterior, numa “recuperação assinalável” de saídas, após quebra brutal em 2020, com o Reino Unido a retomar a posição de principal destino, segundo o Relatório da Emigração. Angola é o único país não europeu a aparecer no top dos mais procurados (está em nono lugar).
O documento, a que a agência Lusa teve acesso e que será apresentado esta quarta-feira no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, é uma iniciativa da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e baseia-se nos dados recolhidos pelo Observatório da Emigração, um centro de investigação do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, junto das instituições responsáveis pelas estatísticas da imigração.
O Relatório da Emigração 2021 indica que, nesse ano, terão emigrado cerca de 60.000 portugueses, mais 15 mil do que em 2020, ano em que se registou o número de saídas mais baixo em 20 anos, em parte devido ao impacto da pandemia de Covid-19 na circulação de pessoas.
O documento refere que, entre 2019 e 2020, “a emigração teve uma quebra da ordem dos 44%, em consequência dos efeitos conjugados da crise pandémica e do ‘Brexit’ [saída do Reino Unido da União Europeia]”.
“As políticas de confinamento colocaram obstáculos à mobilidade e produziram uma crise económica global de grandes proporções que explicam a travagem abrupta das migrações internacionais”, escrevem os autores.
Em 2021, emigraram metade dos portugueses que o fizeram em 2013. À exceção de 2020, só em 2003 se registaram valores tão baixos. Com um pico em 2013, desde esse ano que se tem registado uma tendência de descida na emigração.
Em 2021, as migrações iniciaram “uma recuperação assinalável”, tendo crescido, em Portugal, cerca de 33% em relação a 2020. Mesmo assim, “não regressaram ainda aos níveis pré-pandemia mas encontram-se, de novo, numa trajetória de crescimento”.
Os autores do relatório consideram que “é ainda cedo para se saber se esse crescimento será sustentável ou se a emigração estabilizará num patamar inferior ao que se desenhava antes da pandemia”, inclinando-se mais para a última hipótese, “dados os efeitos prolongados do ‘Brexit'”.
“Ao contrário do que aconteceu com a pandemia, os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia prolongam-se no tempo, tornando mais difícil as entradas naquele que era o principal destino da emigração portuguesa – pelo menos das entradas de migrantes menos qualificados”, salienta-se.
Citando os dados disponibilizados pelas Nações Unidas em 2022, a exposição aponta para 2.631.559 portugueses emigrados – pessoas nascidas em Portugal a viver no estrangeiro, que representavam, em 2019, cerca de 26% da população residente no país, sendo o oitavo país do mundo com mais emigrantes.
Em todo o mundo, no mesmo ano, existiam mais de 247 milhões de migrantes internacionais, ou seja, 3,4% da população mundial. Em 2021, dos 23 países de destino com elevados fluxos de emigração portuguesa, mais de metade (14) eram europeus.
Os destinos onde se registaram entradas superiores a 5.000 portugueses no último ano, para o qual há informação estatística, são todos europeus. O Reino Unido liderou os destinos dos emigrantes portugueses (12.000 entradas), seguindo-se Espanha (8.000), Suíça (8.000), França (6.000) e Alemanha (6.000).
No ano em análise, o número de portugueses emigrados no Reino Unido totalizou 156.295, menos 5,7% do que em 2020, sendo a maioria (53,1%) mulheres e apenas 2,5% com mais de 65 anos. Este indicador faz com que o Reino Unido seja o segundo país, a seguir à Irlanda, com uma comunidade portuguesa emigrada mais jovem.
Os portugueses representavam 1,6% do total dos nascidos no estrangeiro a residir no Reino Unido, o quarto do mundo onde residem mais portugueses emigrados.
Registou-se “um ligeiro aumento” de entradas em todos os países analisados, com exceção da Austrália (menos 48,7%) e de Macau (menos 73,1%).
Os homens emigram mais do que as mulheres e, ao nível da faixa etária, este movimento é constituído essencialmente por pessoas de idade jovem.
A França continua a ser o país do mundo com maior número de residentes nascidos em Portugal, resultante sobretudo da grande vaga de emigração dos anos de 1960/70, contando com 598.000 indivíduos.
Na Suíça residem 207.000 nascidos em Portugal, seguindo-se os Estados Unidos da América (162.000), o Reino Unido (156.000), o Brasil (138.000, em 2010), o Canadá (134.000) e a Alemanha (115.000).
Foi também na Suíça onde mais portugueses adquiriram a nacionalidade. A seguir à Espanha e ao Reino Unido, é para onde mais portugueses emigram.
Suíça foi o país onde mais portugueses adquiriram a nacionalidade em 2021
Nasceram em Portugal 23% dos imigrantes a residir no Brasil (em 2010), 9% dos que residiam em França, e 8% dos imigrantes em Cabo Verde (2018) e na Suíça.
Angola é único destino fora da Europa no “top 10”
Angola surge em nono lugar na lista dos principais destinos de emigração dos portugueses e é o único país não europeu do “top 10”.
Os últimos dados disponíveis no caso de Angola remontam a 2019 e apontam para 1.708 entradas nesse ano, menos 202 pessoas do que 2018, quando 1.910 portugueses escolheram o país lusófono como o seu destino, tendo em conta os vistos concedidos.
O valor corresponde à soma dos vistos emitidos pelos consulados de Angola no Porto e em Lisboa: privilegiado, trabalho (o mais comum), trabalho por protocolo, fixação de residência e outros (estudo e permanência temporária), mas está subestimado pois não contempla os dados do consulado de Angola em Faro.
O relatório destaca que a emigração portuguesa para Angola desceu significativamente desde 2015: menos 42% em 2016, menos 24% em 2017, menos 36% em 2018 e menos 11% em 2019.
“Os efeitos recessivos da crise dos preços do petróleo e suas consequências sobre os setores do mercado de trabalho para onde se dirigia a emigração portuguesa” são as principais causas apontadas no documento, e que “terão feito sentir-se em pleno a partir de 2016”.
O ano de 2009 foi aquele em que mais portugueses chegaram a Angola, num total de 23.787.
No entanto, estes valores de 2009 não são diretamente comparáveis aos de 2012 a 2018 devido a mudanças na tipologia dos vistos e à inclusão de vistos emitidos pelo Serviço de Migração e Estrangeiros angolano (além dos emitidos pelos consulados de Angola em Portugal), refere o estudo.
Em 2021, estavam inscritos, nos consulados portugueses em Angola, 127.366 pessoas nascidas em Portugal, fazendo do país africano o 11.º do mundo com mais cidadãos nacionais, logo a seguir ao Luxemburgo, numa tabela encimada pela França.
Angola surge também na lista dos 10 países com o maior volume de transferências monetárias para Portugal, ocupando a quarta posição, com 251,82 milhões de euros, depois da Suíça, França e Reino Unido.
De acordo com os dados divulgados pelo Banco de Portugal, em 2021, o valor total recebido de remessas de emigrantes foi de 3.677,76 milhões de euros, correspondente a 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Em 2021, foram recebidos na Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas 71 pedidos de informação de portugueses que pretendiam trabalhar no estrangeiro, sobre 18 países de quatro continentes, dos quais apenas dois eram relativos a Angola.
Neste caso, estavam relacionados com situações de exploração laboral/incumprimento contratual (um total de nove entre os 71 pedidos de informação).
Entraram 18 portugueses em Macau
O número de portugueses que emigraram para Macau em 2021 foi o mais baixo desde 2000, sendo esta a terceira maior emigração para o território, de acordo com o Relatório da Emigração.
Segundo a informação recolhida e trabalhada por este centro, em 2021 registou-se a entrada de 18 portugueses em Macau, o valor mais baixo desde 2000, ano em que entraram apenas quatro portugueses.
Em 2020, tinham emigrado para Macau 67 portugueses e, um ano depois, foram 18, sobretudo homens (61,1%) e jovens, com apenas 10,7% a terem mais de 65 anos.
Desde 2000 que o aumento de portugueses em Macau foi progressivo, até 2013, quando se registou uma diminuição até 2017, voltando a crescer pontualmente em 2018, e a decrescer em 2019 e 2020.
Os autores do documento, que se baseia nos dados recolhidos pelo Observatório da Emigração junto das instituições responsáveis pelas estatísticas da imigração, indicam que, em 2021, as entradas de portugueses representaram 3,8% das entradas totais em Macau, o que fez desta emigração a terceira maior para aquele país.
Segundo o relatório, “dada a posição particular de Macau na China, o acesso pleno à cidadania passa nesta Região Administrativa Especial pela aquisição do estatuto de residente permanente, não pelo da aquisição de nacionalidade”, não estando disponíveis estatísticas sobre a aquisição do estatuto de residente permanente.