Era um mundo à parte. Também veio de um mundo à parte, num contexto pouco habitual no quotidiano do futebol, mas era um mundo à parte. Pela qualidade, pela irreverência, pela perseverança, pela resistência que teve numa dura batalha contra um cancro que acabou por ganhar no prolongamento – sendo que pelo meio ainda encontrou forças para ser chefe de delegação da seleção italiana no Europeu de 2020, acabando com aquela imagem icónica em lágrimas nos braços do “irmão” Roberto Mancini após a vitória na final.

Morreu Gianluca Vialli, antigo futebolista italiano. Tinha 58 anos

Gianluca Vialli foi um dos expoentes máximos de uma geração transalpina que colocou o futebol no topo na década de 90, tendo depois sido um exemplo pela forma como ia tentando combater o adversário mais difícil e implacável que encontrou ao longo da vida. A sua morte aos 58 anos, vítima de um cancro no pâncreas, foi por tudo isso um choque em todo o país e para todos os clubes e companheiros com quem se foi cruzando. Duas semanas depois, ainda não foi esquecida. E serviu de alerta para outros antigos jogadores, neste caso o ex-médio Dino Baggio, em relação a algumas práticas que diz terem existido nos anos 90.

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“Ele deixou-nos demasiado cedo. Devíamos investigar as substâncias que tomámos nessa altura. Sempre houve doping. Precisamos de entender se certos suplementos nos afetaram com o passar do tempo. Também estou com medo, está a acontecer com muitos ex-jogadores”, lançou o internacional que jogou na Juventus com Vialli entre 1992 e 1994 (numa equipa que tinha ainda Roberto Baggio, Conte, Del Piero, Peruzzi, Kohler ou Andreas Möller, entre outros), numa carreira em que passou ainda por Torino, Inter, Parma, Lazio ou Blackburn, tendo ganho três Taças UEFA, uma Taça e uma Supertaça de Itália além da final perdida no Campeonato do Mundo de 1994 frente ao Brasil no desempate por grandes penalidades.

“Tenho vergonha de estar tão feliz”. A história de Vialli, o bad boy que cresceu num castelo e superou luta de 17 meses contra um cancro

“Devemos voltar a ver o que tomámos naquele período, investigar um pouco sobre essas substâncias. Não sei foi por isso [que Gianluca Vialli morreu] mas sempre houve doping. Não tomávamos coisas estranhas, eram coisas normais. Mas temos de saber se deixam o organismo passado algum tempo ou se ficam para sempre. Tenho bonitas memórias de Vialli. Era um grande homem no balneário e queria ajudar os mais jovens a crescer”, acrescentou Dino Baggio numa entrevista à TV7 citada pela Gazzetta dello Sport.