O livro de memórias do príncipe Harry foi usado como arma de arremesso do regime de Teerão perante as críticas do Reino Unido à execução do cidadão britânico-iraniano e ex-vice-ministro Alireza por “espionagem para o MI6”. Em uma mensagem na rede social Twitter, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, mesmo sem referir o nome do filho de Carlos III e Diana, lembrou o episódio relatado no livro em que Harry fala sobre a sua participação na guerra no Afeganistão.
“O regime britânico, cujo um membro da família real vê a morte de 25 pessoas inocentes como a remoção de peças de xadrez e não tem arrependimentos sobre isso, e aqueles que fecham os olhos a este crime de guerra não estão em posição de pregar a outros sobre direitos humanos”, acusa Hossein Amri-Abdollahian.
The British regime, whose royal family member, sees the killing of 25 innocent people as removal of chess pieces and has no regrets over the issue, and those who turn a blind eye to this war crime, are in no position to preach others on human rights.
— Foreign Ministry, Islamic Republic of Iran ???????? (@IRIMFA_EN) January 17, 2023
No seu livro de memórias “Na Sombra”, o filho mais novo do príncipe Carlos partilhou que matou 25 pessoas quando esteve em missão no Afeganistão. “Não era um número que me desse grande satisfação. Mas também não era um número vergonhoso”, escreve o príncipe. Diz que “preferia não ter este número” no seu perfil militar e também no seu pensamento, assim como preferia também”viver num mundo sem guerra”. “No calor e na névoa do combate, não pensava nos vinte e cinco como pessoas. Só se podem matar pessoas se não as considerarmos como tal. Eram peças de xadrez deslocadas do tabuleiro, os maus eliminados antes de poderem matar os bons.”
A tensão entre União Europeia, Reino Unido e Irão tem escalado nos últimos dias. Tanto Josep Borrell, responsável máximo da diplomacia da União Europeia, como Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, condenaram a morte do antigo vice-ministro da Defesa iraniano. O governo britânico decidiu, inclusivamente, retirar o seu embaixador em Teerão.
Mas se a nível político as reações se centram na decisão de Teerão, Harry não escapa a críticas militares. Ao jornal britânico The Sun dois antigos altos oficiais comentaram o caso e deixaram algumas palavras pouco elogiosas para o príncipe. O antigo Comandante das forças britânicas no Afeganistão Coronel Richard Kemp acusou o regime iraniano de “crimes contra a humanidade”, dizendo também que “atacar Harry é a prova de que estão a agarrar-se a palha para defender a execução de Alireza Akbari”. No entanto, acrescenta que “Harry deveria assumir a responsabilidade de dar ao maior governo terrorista do mundo munições para atacar a Grã-Bretanha”. O antigo Primeiro Almirante Lord West foi mais longe: “O Harry foi um rapaz estúpido ao dizer o que disse, mas não há equivalente para o que o Irão está a fazer”.
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A revelação feita por Harry sobre o Afeganistão teve, assim que foi conhecida, uma resposta pronta de um dos líderes dos Talibã. Anas Haqqani recorreu também ao Twitter onde escreveu: “Senhor Harry, aqueles que matou não eram peças de xadrez, eram humanos. Tinham famílias que esperavam pelo seu regresso”. Também altas patentes do exército britânico se manifestaram perante as confissões do príncipe.