De repente, na Premier League, parecia que o tempo tinha andado para trás: o Arsenal recebia o Manchester United no Emirates enquanto os gunners lideravam a classificação e os red devils estavam no terceiro lugar e completamente dentro da luta pelo apuramento para a Liga dos Campeões. Ou seja, sem que ninguém estivesse propriamente à espera, duas equipas que têm sofrido e quase sobrevivido nas últimas épocas protagonizavam um dos encontros mais aguardados da liga inglesa.

O Arsenal entrava em campo vindo de três vitórias nos últimos quatro jogos, somando somente um empate com o Newcastle nesse período, e não perdia desde o início de novembro e da eliminação na Taça da Liga perante o Brighton. Mikel Arteta tem sido o obreiro do sonho dos gunners, que têm o plantel mais jovem da Premier League, mas não se cansava de recordar que o clube londrino ainda não conquistou nada.

“A exigência que o clube coloca nos jogadores deixa-os esfomeados. Ainda não ganhámos nada, é demasiado cedo. Mas os adeptos estão a assimilar este fogo, este desejo, e a confiança que demonstramos está muito relacionada com isso. E essa confiança tem de existir a este nível. Mas ainda não ganhámos nada e esta equipa não está habituada a estas andanças. Temos de nos rodear de todos os argumentos possíveis para tentar alcançar esse objetivo. O desejo está lá, isso é certo. Estou muito feliz com o momento que estamos a atravessar e não mudaria nada”, atirou o espanhol na antevisão da partida.

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Para manter os quatro pontos de vantagem em relação ao Manchester City — que, entretanto, já tinha vencido o Wolverhampton nesta jornada –, porém, precisava de bater o Manchester United. Um Manchester United que, desde a partida de Old Trafford no início de setembro, era ainda a única a ter derrotado o Arsenal na Premier League esta temporada. O conjunto de Erik ten Hag aparecia no Emirates vindo de um empate em casa do Crystal Palace e o treinador neerlandês garantia que existia um “plano” para repetir o triunfo frente aos gunners.

“Temos um plano. Acho que temos um bom plano, tal como tivemos contra o Manchester City. Às vezes temos de surpreender o adversário. Mas falámos sobre isso. Dei-lhes instruções, treinámos e agora eles têm de corresponder. Fazemos o melhor que podemos. Temos um bom plano, que inclui tudo aquilo que queremos fazer e que conta com um grande investimento de toda a gente dentro do clube, especialmente dos jogadores. Estamos numa boa posição, queremos estar aqui. Em janeiro ainda não dá para ganhar nada mas queremos colocar-nos numa posição em que podemos ganhar alguma coisa. A partir daí, é jogo a jogo”, defendeu Ten Hag.

Arteta lançava Saka, Nketiah e Martinelli no trio ofensivo, naturalmente apoiados por Odegaard, Xhaka e Partey, e já podia contar com o reforço Leandro Trossard no banco de suplentes. Do outro lado, Ten Hag não tinha Casemiro e colocava McTominay ao lado de Eriksen, apostando no também reforço Weghorst enquanto referência ofensiva e imediatamente à frente de Bruno Fernandes.

Rashford abriu o marcador ainda dentro dos 20 minutos iniciais: o avançado inglês recebeu descaído na esquerda, conduziu para o corredor central e disparou de fora de área para bater Ramsdale e dar vantagem ao Manchester United (17′). O Arsenal, porém, não demorou muito a empatar. Odegaard abriu na esquerda em Xhaka, o suíço tirou um cruzamento perfeito para o segundo poste e Nketiah antecipou-se a Wan-Bissaka para cabecear sem dar hipótese a De Gea (24′). Ao intervalo, num clássico mais tático do que pragmático, gunners e red devils estavam empatados.

Arteta mexeu logo no início da segunda parte, trocando Ben White por Tomiyasu, e o Arsenal não demorou 10 minutos a capitalizar uma entrada muito forte que retirou toda a bola ao Manchester United. Num instante brilhante, Saka pegou na bola na direita, enquadrou-se com a baliza e atirou forte e cruzado para surpreender De Gea (53′), carimbando a reviravolta e colocando os gunners na frente do marcador. Sem que estivesse cumprida uma hora de jogo, porém, o clássico foi relançado: canto na esquerda, péssima abordagem de Ramsdale na saída dos postes e cabeçada de Lisandro Martínez na recarga para recuperar a igualdade (59′).

Ten Hag reagiu à recuperação do empate com a entrada de Fred para o lugar de Antony mas o Manchester United afundou por completo nos derradeiros 20 minutos — o Arsenal jogou totalmente inserido no meio-campo adversário, asfixiou o adversário à procura do golo da vitória e até viu Arteta estrear Trossard num all in claro para ir atrás dos três pontos. Três pontos que só foram conquistados nos instantes finais.

Zinchenko desequilibrou na esquerda, cruzou atrasado e viu Odegaard rematar na grande área para Nketiah desviar e bisar (90′). O jovem avançado inglês, que até à lesão de Gabriel Jesus no Campeonato do Mundo nem sequer era propriamente opção, tornou-se herói e lembrou os tempos em que um outro ’14’, Thierry Henry, fazia o Emirates explodir. No fim, o Arsenal venceu o Manchester United, manteve os cinco pontos de distância para o Manchester City na liderança da Premier League e voltou a deixar claro que este Art Attack está cada vez mais pronto para terminar a obra de arte.