Quando pediu autorização para viajar para Espanha, Dani Alves terá dito ao seu clube – os mexicanos do Pumas – que a deslocação estava relacionada com motivos pessoais (no caso, a morte da sogra). O que ninguém esperava era que o lateral brasileiro, o jogador com mais títulos da história do futebol, não voltasse a sair do país, acabando detido pela justiça espanhola por suspeitas de violação.
O jogador negou o crime, admitindo um encontro sexual consensual com a mulher que o acusa (inicialmente tinha dito que nunca a tinha visto). Mas as imagens de videovigilância dessa noite, aliadas ao ADN do jogador que foi encontrado no corpo da alegada vítima parecem contradizer esta versão e, aliadas ao que as autoridades entenderam como perigo de fuga, motivaram a sua prisão preventiva.
O caso de Dani Alves está, no entanto, longe de ser único. Nos últimos anos, as acusações contra futebolistas têm-se multiplicado a um ritmo acelerado, algumas das quais envolvendo figuras proeminentes do desporto-rei, olhadas por muitos como modelos da sociedade. É certo que nem todas resultaram em condenações, mas todas juntas contribuem para lançar uma nuvem negra sobre o mundo do futebol.
Cristiano Ronaldo e o caso Kathryn Mayorga
Como não podia deixar de ser, o caso mais mediático envolve Cristiano Ronaldo. Em 2018, o craque português foi acusado por Kathryn Mayorga de a ter violado num quarto de hotel em Las Vegas nove anos antes. Não era uma acusação nova: já em 2010, CR7 tinha acordado pagar uma indemnização a Mayorga que, em troca, desistiu de levar a acusação à barra dos tribunais.
Anos depois, a ex-modelo mudou de ideias e processou o futebolista em 200 milhões de euros, alegando que o acordo inicial foi feito sob forte pressão por parte da equipa de Ronaldo, e que o encontro entre os dois lhe havia deixado sequelas psicológicas. Ronaldo negou categoricamente as alegações, que caracterizou de fake news. Imagens dessa noite em 2009 comprovam, no mínimo, que os dois estiveram juntos – mas o que se tinha passado à porta fechada no hotel permanecia um mistério.
O caso acabou arquivado pela justiça norte-americana em 2019 por falta de provas (em parte influenciada pela década que havia passado desde a alegada violação). Os representantes legais de Mayorga persistiram, munidos de documentos em sua posse que punham em causa a versão de Ronaldo. O processo civil acabou por ser rejeitado em junho do ano passado por um tribunal do Nevada, que entendeu que as alegadas provas não podiam ser usadas por terem sido obtidas através do Football Leaks.
As acusações a Neymar, entre Paris e a Nike
A maior estrela do Brasil e do Paris Saint-Germain também já foi acusado de crimes sexuais. Em 2019 (quando, curiosamente, partilhava o balneário do PSG com Daniel Alves), uma modelo alegou que Neymar a havia violado em Paris. O jogador reconheceu ter tido relações sexuais consensuais com a jovem, mas alegou estar a ser alvo de uma cilada; a falta de provas e as contradições no depoimento da alegada vítima ditaram o fim do processo.
Mais recentemente, em 2021, o Wall Street Journal deu conta de um outro caso envolvendo o brasileiro. Desta feita, uma funcionária da Nike alegou que o futebolista a tinha obrigado a praticar sexo oral num quarto de hotel em Nova Iorque, em 2016. Neymar negou, mas recusou-se a colaborar com a investigação, tendo a Nike decidido pôr fim ao contrato de patrocínio com o brasileiro.
Benzema, Ribery e uma prostituta francesa
Não se tratando de um caso de violação propriamente dito, o incidente que envolveu Karim Benzema e Franck Ribery não deixou de abalar o futebol francês. Em 2014, os dois jogadores foram julgados por terem tido relações sexuais como uma prostituta que, à época em que os encontros aconteceram (2008 e 2009), era menor de idade.
O atual Bola de Ouro terá estado com a mulher, Zahia Dehar, depois de um encontro numa discoteca em Paris quando esta tinha apenas 16 anos (Benzema negou alguma vez a ter conhecido); no caso de Ribery, este terá mesmo pago para que a mulher viajasse até Munique (quando este representava o Bayern), como um “presente de aniversário”.
A acusação foi em frente por ação dos próprios magistrados que investigaram o caso, e acabou com os dois atletas a serem ilibados — apesar de os encontros sexuais terem sido dados como provados, o juiz entendeu que Benzema e Ribery desconheciam a idade da mulher (a própria tinha confirmado que tinha mentido e dito que tinha mais de 18 anos).
Benjamin Mendy: detido e depois ilibado… mas não completamente
O lateral esquerdo do Manchester City Benjamin Mendy foi mesmo detido em 2021 e suspenso sem vencimento pelo clube, depois de uma série de acusações de violação e agressão sexual envolvendo um total de seis mulheres.
Recentemente, foi ilibado pela justiça britânica de sete das acusações de que era alvo; duas outras – uma violação e uma tentativa de violação – ficaram “penduradas” (não foi possível chegar a um veredito), e serão sujeitas a um novo julgamento.
Mason Greenwood acusado pelas redes sociais
Um dos jovens mais promissores do Manchester United, a carreira de Greenwood ficou em suspenso depois de ser acusado pela namorada de violação, violência doméstica e psicológica e ameaças de morte em janeiro do ano passado. As alegações eram suportadas por imagens, vídeos e gravações de áudio partilhados pela mulher nas redes sociais, que pareciam retratar comportamentos abusivos de Greenwood e nos quais a alegada vítima aparecia com hematomas e a cara ensanguentada.
Detido em janeiro para interrogatório, na altura saiu em liberdade, ficando proibido de contactar a sua acusadora; em outubro foi detido por uma segunda vez após violar os termos da sua saída. Neste momento, está formalmente acusado de maus-tratos e violação, e não joga pelo Manchester United há um ano.
Robinho condenado em Itália, está no Brasil para evitar cumprir pena
Em tempos uma estrela em ascensão do futebol brasileiro, o ex-futebolista do Real Madrid, Manchester City e AC Milan acabou por não cumprir todo o seu potencial, apesar de ter tido uma carreira longa e de sucesso na Europa. Já em final de carreira, foi acusado da violação em grupo de uma mulher numa discoteca em Milão.
Em 2017, Robinho acabou condenado a nove anos de prisão pela justiça italiana, que deu como provados os factos da acusação e entendeu ainda que o futebolista brasileiro tentou obstruir a investigação. A pena, no entanto, está por cumprir, uma vez que Robinho não voltou a Itália e a constituição brasileira proíbe a extradição dos seus cidadãos às autoridades estrangeiras.