Quanto custa e quem paga a Jornada Mundial da Juventude (JMJ)? A dúvida, levantada pela informação avançada pelo Observador de que o altar-palco da edição de 2023, em Lisboa, iria ter um custo de pelo menos 4,2 milhões de euros, não tem uma resposta fácil. Primeiro, devido à influência da inflação no aumento de custos; segundo, devido ao modelo de financiamento da própria JMJ segundo o qual, de acordo com meios de comunicação católicos, “mais de um terço do orçamento (…) provém das receitas dos peregrinos. O resto é dividido entre patrocinadores, fiéis e o Estado”. Quer isto dizer, na prática, que a responsabilidade do evento varia consoante os anos e os acordos firmados.

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A fluidez das contas tem provocado ao longo dos anos um debate aceso. De um lado, os que entendem que a JMJ é um importante dinamizador económico; de outro, os que vêm um gasto desnecessário de fundos públicos para uma espécie de “evento promocional” da Igreja Católica.

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As questões estão, por isso, longe de ser novas. Já em 2008, em Sydney, na Austrália, foram quase 200 milhões de dólares (entre fundos estatais e locais) os fundos públicos usados — apesar das garantias dadas pela organização de que os cerca de 400.000 jovens fiéis presentes foram responsáveis por um retorno financeiro na ordem dos mil milhões de dólares.

A penúltima edição do certame, em 2016, chegou a gerar protestos pelo mesmo motivo. Na cidade polaca de Cracóvia, mais de 80 milhões de euros foram gastos para cobrir parte dos custos, relacionados sobretudo com primeiros socorros, limpeza da cidade e transporte de peregrinos não-inscritos (o restante ficou a cargo da Igreja).

Apesar de tudo, são mais as vezes em que o orçamento global do evento fica a cargo de terceiros. Em Madrid, por exemplo, três anos depois de Sydney, a JMJ foi organizada sem um cêntimo de dinheiro público: 70% do orçamento partiu dos contributos de peregrinos e os restantes 30% de patrocinadores e investimento privado.

A contribuição exata já foi, em certas ocasiões, motivo de disputa entre Igreja e organizador. Em 2013, no Brasil, depois de ficar estipulado que o governo de Dilma Rousseff contribuiria com o equivalente a cerca de 4 milhões de euros para ajudar a cobrir parte da despesa, foi a própria Igreja quem pediu um aumento de maneira a contrariar o que temia ser uma afluência abaixo das expectativas. O Brasil recusou e as preocupações acabaram por se revelar infundadas: quase 4 milhões de pessoas estiveram na praia de Copacabana nesse ano.

Quanto aos palcos, estes são na sua maioria temporários: construídos em locais pré-existentes e desmontados quando o certame chega ao fim (casos do Hipódronmo de Longchamps em Paris, em 1997, ou do Aeroporto de Cuatro Vientos em Madrid, na já referida edição de 2011). A organização portuguesa optou por um caminho diferente, decidindo por uma requalificação do parque Tejo que irá custar aos cofres do município mais de 21 milhões de euros.

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A complicar ainda mais a questão está o retorno do próprio palco em si. Várias entidades portuguesas já se apressaram em garantir que o altar-palco servirá para outros eventos após a conclusão da JMJ2023 (o Presidente da República sugeriu até que o futuro da Web Summit poderia passar pelo Parque Tejo).

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Por agora, espera-se um retorno de pelo menos 350 milhões de euros, num evento pensado para acolher entre um e dois milhões de peregrinos — números ambiciosos, mas em linha com um evento que já foi apelidado de “Woodstock Católico”.