Uma das melhores xadrezistas do mundo foi obrigada a abandonar o Irão na sequência de mais uma polémica envolvendo o uso do hijab. Sara Khadem, de 25 anos, notabilizou-se em dezembro ao ser fotografada a competir num torneio internacional no Cazaquistão sem o tradicional véu islâmico, num claro gesto de solidariedade para com os protestos pela morte de Mahsa Amini que duram há mais de quatro meses.
Atual número 17 do ranking mundial, a xadrezista diz que se viu forçada a abandonar o país após se recusar a gravar um pedido de desculpas em que culpava “pressões do Ocidente” pelo seu protesto. “Não ia fazer uma coisa dessas”, disse ao jornal britânico The Telegraph.
Logo após o torneio, Khadem saiu do Irão com o marido e o filho com menos de um ano para Espanha, onde permanece desde então. De acordo com o El País, a família já terá adquirido um apartamento no país, mas a morada exata não foi revelada para evitar possíveis represálias.
“Ela está consciente de que a sua vida estaria em perigo se voltasse para o Irão devido a ter sido captada a competir em várias fotografias”, referiram fontes próximas da xadrezista ao jornal espanhol.
A adaptação ao novo país, segundo a própria, tem sido positiva, ainda que admita que nem sempre tem sido fácil — particularmente devido ao facto de ter deixado a família no Irão. “Espero ser a única pessoa responsabilizada pelo que fiz”, afirmou ao The Telegraph.
Khadem admite que anteriormente apenas usava o hijab em momentos formais ou para tirar fotografias, mas que, à luz dos protestos no Irão, sentiu estar a cometer uma hipocrisia. “Desta vez senti que, se continuasse a fazer como até aqui, estaria a desrespeitar o povo”, afirmou.
O caso da xadrezista surge depois do sucedido com Elnaz Rekabi, a atleta iraniana que, em outubro, apareceu sem o véu islâmico na final das Competições de Escalada da Ásia, na Coreia da Sul. O caso conquistou a atenção do mundo, particularmente devido ao alegado perigo de segurança que Rekabi enfrentou no seguimento da competição. A própria acabaria por pedir desculpa nas suas redes sociais, alegando que tudo não tinha passado de um mal entendido.
Organizações não-governamentais sediadas fora do Irão indicam que a violenta repressão policial aos protestos já resultou em quase 500 mortes e perto de 20.000 detenções. Num país em que a pena de morte existe, pelo menos quatro manifestantes foram já executados pela justiça iraniana, com mais 17 pessoas condenadas à morte por enforcamento.