Carlos Moedas de novo ao ataque. Durante uma reunião da Câmara Municipal de Lisboa, que decorreu esta quarta-feira à porta fechada, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa não gostou de ver a oposição a tentar assacar responsabilidades à autarquia e voltou a defender que o anterior executivo de Fernando Medina, tal como o Governo socialista, não “fez nada” de decisivo para colocar em andamento a Jornada Mundial de Juventude.
“Eu não fui a Roma dizer o que íamos fazer. Foram outros. Em 2019, todos os responsáveis políticos, alguns hoje no Governo [Fernando Medina], gritaram de felicidade. Mas ninguém fez nada”, queixou-se Carlos Moedas. Segundo apurou o Observador, autarca disse ainda que existe uma vontade da oposição, em particular do PS, de “politizar” a Jornada Mundial de Juventude.
“Sinto uma ânsia constante de politizar a Jornada Mundial de Juventude. Mas este é um tema muito importante para ser politizado. Vamos receber um chefe de Estado, mas não é um chefe de Estado qualquer — é uma visita de Estado que traz consigo mais de um milhão de pessoas”, terá dito Moedas.
Segundo relatos de elementos que estiveram na reunião, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa terá repetido as críticas que tem feito publicamente a José Sá Fernandes, coordenador nomeado pelo Governo, dizendo que não conhece trabalho ao antigo vereador de Fernando Medina.
“Isto não é para meninos. Estamos a falar de uma coisa séria”
Mais duro foi Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia, que tem a pasta da Jornada Mundial da Juventude. O democrata-cristão acusou o PS de estar aproveitar o mediatismo do caso para fazer combate político, sugerindo que José Sá Fernandes era o ponta de lança dessa estratégia.
“Não deixo de estranhar no espaço de uma semana o PS falou mais de transparência do que nos últimos meses em que a Câmara Municipal de Lisboa foi avisando para as suspeitas de falta de transparência. A transparência tem de ser uma preocupação constante”, notou Anacoreta Correia.
“É preciso ter noção que isto não é uma brincadeira”, continuou o vice-presidente da autarquia. Não se gere um dossiê destes ao serviço do vento. Isto não é para meninos. Estamos a falar de uma coisa séria”, insistiu Filipe Anacoreta Correia.
Perante as dúvidas dos vereadores da oposição em torno do altar-palco do Parque Tejo, o mesmo que pode vir a custar 4,2 milhões de euros (mais IVA), o número dois de Carlos Moedas insistiu na complexidade do tema e na delicadeza das conversas sobre eliminar ou não determinadas componentes da estrutura para reduzir custos.
Anacoreta Correia chegou a usar o argumento de que há “segredos de Estado” (“que eu nem quero saber”) em torno daquela construção, referindo-se, presumivelmente, a questões de segurança em torno da vinda do Papa a Portugal.
Referindo-se vagamente a José Sá Fernandes, sem nunca o nomear, Anacoreta Correia deixou claro que, no entender da autarquia, o antigo vereador é uma carta fora do baralho. “Fica lá [na coordenação] até dezembro de 2024, a fazer uns relatórios…”, desvalorizou o ‘vice’ de Moedas.
Para Anacoreta Correia, de resto, o caminho seguido por Governo, antigo executivo de Fernando Medina e demais entidades envolvidas foi errado. À semelhança do que aconteceu na Expo98 ou no Euro2004, exemplificou, deveria ter sido criada uma sociedade anónima que centralizasse todo o processo.
Como o que está feito feito está, continuou Anacoreta Correia, o importante agora é fazer. O número dois de Moedas chegou mesmo a dar os “parabéns” ao PCP por estar a fazer um “escrutínio certo” e sem “aproveitamento político”. “Não quero embaraçar o PCP, mas parabéns ao PCP. Não é embandeirar em arco, é escrutínio”, disse o democrata-cristão.
Em jeito de desabafo, Anacoreta Correia defendeu que quando o atual executivo chegou à autarquia lhes foi dito que havia várias compromissos assumidos, mas ninguém era capaz de dizer quem pagava e quanto. De acordo com o testemunho do próprio, assim que a equipa de Moedas começou a fazer perguntas, a resistência foi enorme. “Até me chamaram Tio Patinhas.”