A Peugeot, o construtor mais importante do Grupo Stellantis no mercado europeu, apresentou dois modelos com um novo tipo de mecânica visando a redução dos consumos e das emissões, mas menos ambiciosa e mais acessível. São versões denominadas Hybrid 48V que, no fundo, são mild hybrid (híbridas ligeiras), mas que no caso da marca francesa surpreendem pela eficiência, isto é, pelas vantagens que apresentam.

Os primeiros modelos a usufruir desta nova solução mecânica são os SUV 3008 e 5008, embora a Stellantis já tenha feito saber que esta é uma mecânica que se vai alargar a muitas outras marcas e modelos, uma vez que os Hybrid 48V não necessitam de ajudas estatais para serem interessantes para o utilizador. A Peugeot fala numa redução de consumo até 15%, quando comparado com uma mecânica convencional exclusivamente a combustão, o que se traduz por emissões de CO2/km de 126 g no 3008, mais pequeno e leve, e de 128 g no 5008, maior e, por isso mesmo, mais pesado.

No mercado existem três tipos de mecânicas híbridas, sendo as mais vantajosas e dispendiosas as híbridas plug-in, ou PHEV, por montarem motores eléctricos mais potentes (entre 90 a 120 cv) e baterias maiores, uma vez que necessitam de assegurar uma autonomia em modo exclusivamente eléctrico que, no mínimo, tem de superar os 50 km. Mas esta bateria maior torna os modelos mais pesados e caros, pelo que só serão competitivos se os diferentes governos avançarem com ajudas à aquisição, o que é cada vez menos provável, sobretudo agora que a Alemanha já acabou com este tipo de incentivos, e a União Europeia se prepara para incentivar os diferentes países a seguir esta medida, uma vez que estudos confirmam que muitos utilizadores nunca recarregam a bateria, impedindo este tipo de veículos de assegurar a redução no consumo e nas emissões para as quais foram subsidiados.

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O segundo tipo de mecânica híbrida mais eficaz é a dos híbridos (HEV), também denominadas full hybrid, para evitar confusões, que adoptam motores eléctricos menos potentes (entre 30 a 60 cv) e, principalmente baterias mais pequenas, com 1 a 2 kWh de capacidade, em vez dos 12 a 14 kWh dos PHEV (os modelos maiores, mais potentes e mais caros podem atingir 30 kWh, para garantirem autonomias em EV de 60 a 80 km). E depois há a terceira categoria de híbridos, a dos mild hybrid (mHEV), que se distinguem dos HEV por montarem um motor ainda mais pequeno (20 a 30 cv) e uma menor bateria (entre 0,5 e 1 kWh). São pouco mais caros do que os modelos não electrificados e conseguem ser mais amigos da carteira e do ambiente, não necessitando assim de ajudas ou subsídios para atraírem clientes. É esta a solução escolhida pela Peugeot (e, mais do que isso, pela Stellantis), sendo que, pelos valores anunciados, a nova mecânica parece ser surpreendentemente eficiente para mHEV.

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Nova mecânica e com nova caixa de dupla embraiagem

A nova mecânica Hybrid 48V da Peugeot tem como motor principal um dos mais utilizados pela marca, o 1.2 PureTech a gasolina sobrealimentado, com três cilindros, 136 cv e 230 Nm. Contudo, esta unidade foi adaptada pela servir uma solução híbrida mais preocupada com o consumo, pelo que funciona segundo o ciclo Miller, para optimizar a combustão, e monta um turbocompressor de geometria variável para melhorar a eficiência na transição de regimes.

Para reduzir consumos e emissões, este motor de combustão é ajudado por outro eléctrico, com apenas 28 cv e 55 Nm, destinado a contribuir com a sua força para dar uma mão nos arranques e acelerações, bem como permitir rodar “à vela”, o que consiste na capacidade de desligar o motor de combustão (a velocidades até 145 km/h) em plano, a descer ou em desaceleração.

O motor eléctrico, que permite arrancar em modo zero emissões, se o acelerador for pressionado suavemente, está integrado na caixa de velocidades, que também é nova e a primeira de dupla embraiagem e seis velocidades da marca (denominada e-DCS6, mais pequena e leve do que as habituais automáticas convencionais EAT8, produzidas pelos japoneses da Aisin).

A nova mecânica mild hybrid é a primeira a recorrer à nova caixa automática de dupla embraiagem banhada a óleo (para ser mais suave e progressiva) e com seis velocidades

A alimentar o motor eléctrico está uma pequena bateria, com 0,898 kWh de capacidade bruta e 0,432 kWh útil, que usufrui da mesma garantia dos acumuladores dos veículos eléctricos da Peugeot, ou seja, 8 anos ou 160.000 km. E este é um dado importante, pois não há muitas marcas a avançar com a garantia para a bateria dos seus mHEV, HEV ou PHEV.

Até 15% menos de consumo

Para a sua nova mecânica Hybrid 48V, a Peugeot reivindica uma redução de “até 15% no consumo”, que deverá ser referente à utilização em cidade, onde as desacelerações e as travagens são mais frequentes, permitindo recarregar a bateria, para depois o motor eléctrico dar uma ajuda nas acelerações. Nestas condições, o construtor avança mesmo que a unidade eléctrica pode ser responsável pela deslocação do veículo em “mais de 50% do tempo”.

Se analisarmos os valores médios anunciados, em ciclo combinado, o 3008 Hybrid 48V promete um consumo de 5,6 l/100 km, a que correspondem emissões de 126 g de CO2/km. A versão equivalente do SUV da Peugeot só a gasolina, o 3008 1.2 PureTech 130, possui uma potência similar e é 83 kg mais leve, mas consome 6,1 l/100 km e emite 138 g de CO2/km. Isto representa uma redução no valor médio de consumo de 8,2%, enquanto as emissões de CO2 caem 8,7%.

O Peugeot 5008, juntamente com o 3008, vai ser dos primeiros modelos a usufruir da nova mecânica Hybrid 48V

Mais impressionante do que o ganho alcançado com a introdução da mecânica mild hybrid na Peugeot (5,6 l e 126 g), é o facto de a marca francesa se conseguir aproximar com um mHEV de muitos fullhybrid do mercado, como por exemplo o RAV4 220h da Toyota (5,6 l e 126 g) ou o Nissan Qashqai e-Power (5,3 l e 120 g), ficando apenas mais longe do Renault Austral E-Tech HEV (4,6 l e 104 g).

A nova mecânica Hybrid 48V destina-se a substituir o 1.2 PureTech 130 EAT8, a prazo nos 208, 308 e 408. Inicialmente, surgirá nos 3008 e 5008, a produzir em Sochaux, França. O arranque da produção está previsto para o 2.º trimestre de 2023, ou seja, antes do Verão.